Dois meses após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, municípios da Serra ainda lidam com os impactos. Os mais visíveis são os caminhos bloqueados após a destruição de pontes ou de estruturas que precisaram ser interditadas por questões de segurança. Ainda não há sinal de quando as obras podem começar. O transtorno, assim, não é apenas na rotina, uma vez que as cidades calculam também prejuízos. Confira a seguir como está a situação de cada um dos pontos afetados.
Sem ligação entre São Marcos e Campestre da Serra
O projeto para reforma da ponte entre São Marcos e Campestre da Serra, na BR-116, está perto de contratar uma empresa para execução. De acordo com a prefeitura são-marquense, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) concluiu o orçamento para a obra no km 95 da rodovia na terça-feira (31). Nesta etapa, empresas fazem propostas para o trabalho. A partir disso, a documentação é analisada pela Procuradoria Federal Especializada (PFE) para assinatura do acordo.
Conforme o Dnit, a Sogel Construtora, de Porto Alegre, foi quem apresentou o menor valor. Segundo o superintendente do órgão, Hiratan Pinheiro, não é possível afirmar que a empresa será a contratada. Mas profissionais da construtora já vistoriam a ponte para analisar quais equipamentos podem ser necessários para a reforma. A assinatura do contrato deve ocorrer no início de novembro. Só então serão informados detalhes, como o investimento e o cronograma da obra. Anteriormente, a superintendência do Dnit informou aos municípios da Serra que a reforma duraria cerca de quatro meses.
Prejuízos em São Marcos
Três entidades relatam em ofícios, entregue pela prefeitura ao Dnit, os prejuízos causados após a interdição da ponte. De acordo com a Associação dos Motoristas São-Marquenses, os custos de transporte de carga e matéria-prima, além de fretes, tiveram aumento. A alternativa hoje é o trajeto pela RS-122, passando por Flores da Cunha, Antônio Prado e Ipê. A entidade cita ainda congestionamentos na via, que não estaria preparada para o aumento do fluxo, e outros problemas para os passageiros que usam o trecho.
Ao mesmo tempo, o Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares afirma que o transporte das safras de alho, uva, hortifrutigranjeiros e hortaliças também deve sofrer com o aumento de custos do transporte e atraso em entregas pelo caminho alternativo ser maior. Já a CDL de São Marcos informa que seis lojas do município estão fechadas e que eventos, como o Rodeio Crioulo, em dezembro, podem ser prejudicados com a via interditada.
A reportagem procurou a prefeitura de Campestre da Serra, que não se manifestou até a publicação da matéria.
Esforços para erguer ponte em Nova Roma do Sul
Em Nova Roma do Sul, dois projetos estão em andamento para substituir a ponte destruída no km 23 da RS-448 por conta da chuva de setembro. Um deles é o da Associação dos Amigos de Nova Roma do Sul, que busca uma estrutura temporária no mesmo lugar da que foi derrubada. A entidade, presidida pelo empresário Tranquilo Tessaro, estima um custo de R$ 6 milhões para a ponte provisória. Conforme Tessaro, o projeto está pronto e a próxima fase é a de adquirir materiais. A associação espera iniciar as obras até o final de novembro.
— Acreditamos que dentro do prazo estipulado, até o final de janeiro, tudo esteja pronto — projeta.
Além disso, há outro projeto em andamento por parte do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). A nova ponte será construída em outro trecho, sendo de duas vias e classe de 45 toneladas - o que possibilita o trânsito até para cargas mais pesadas. No início de outubro, o anteprojeto estava sendo providenciado. A assessoria de imprensa do Daer informa que o anteprojeto e o orçamento serão finalizados em novembro. Após isso, a obra será cadastrada no Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional para o recebimento de recursos.
Prejuízo em Nova Roma do Sul
De acordo com o prefeito de Nova Roma do Sul, Douglas Pasuch, o cálculo do prejuízo no município é estimado em R$ 150 mil por dia, entre logística e custos para empresas e poder público. Porém, o chefe do Executivo municipal chama atenção para perdas que não podem ser estimadas, como o atendimento à saúde:
— Ela não é mensurável. Nós não temos como presumir se tiver problema com vida.
Para reduzir o impacto, a prefeitura encaminhou à Câmara de Vereadores um projeto para isentar o ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza). Conforme Pasuch, a medida deve diminuir também o custo da obra da ponte temporária.
Balsa é esperança em Santa Bárbara
Já a ponte que existia na RS-431, que liga São Valentim do Sul a Bento Gonçalves, será temporariamente substituída por uma balsa. A responsabilidade pela contratação é do Estado, que recebeu propostas até a última segunda-feira (30). Conforme o prefeito de São Valentim do Sul, Geri Angelo Macagnan, uma empresa participou do processo e estaria sendo habilitada pelo governo do RS.
A partir da habilitação, o contrato será assinado. De acordo com a assessoria do Estado, o contrato deve ser publicado na semana que vem no Diário Oficial do Estado (DOE). Com esta publicação, a empresa terá 70 dias para instalar o equipamento.
Ao mesmo tempo, o Daer também reconstruirá a ponte. Assim como em Nova Roma do Sul, a autarquia solicitou o desenvolvimento de anteprojeto e orçamento. Com a finalização, também cadastrará o projeto no Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional para obter recursos. O órgão deve construir a nova ponte por meio de contrato emergencial.
Prejuízos em São Valentim do Sul
Sem apontar um número exato, o prefeito diz que o prejuízo no município é de "milhões de reais". Geri afirma que 2,5 mil veículos transitavam diariamente pela ponte que liga o município a Bento Gonçalves. Sem o movimento, o comércio de Santa Bárbara está "às moscas":
— Nossa esperança é que a empresa que participou da licitação da balsa consiga a documentação necessária para que tenhamos a travessia até em dois meses. Ela vai recuperar pelo menos 70% o comércio da nossa região.
A reportagem procurou também a prefeitura de Bento Gonçalves, que diz não ter cálculos sobre possíveis prejuízos por conta da destruição da ponte.