Caxias do Sul não registra surto de meningite, mas há aumento de casos e mortes pela doença em comparação com o ano passado. Entre janeiro e outubro de 2022, foram contabilizados 49 casos e dois óbitos. No mesmo período deste ano, foram registrados 79 casos e cinco mortes — duas ocorreram em outubro, sendo de uma criança e de uma mulher adulta que não tinham contato entre si.
Os dados são da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), que alerta para a importância da vacinação contra a doença, principalmente para as crianças menores, público mais suscetível a complicações e agravamentos. A diretora técnica da Vigilância Epidemiológica, Magda Beatriz Teles, pondera que não se trata de um cenário considerado grave, mas que exige atenção por ocorrer justamente em um momento em que há baixa adesão à vacinação e, consequentemente, baixa proteção. Ela acrescenta que este aumento pode estar relacionado, além da questão da imunização, a outros fatores:
— É um período sazonal, é uma época do ano que acaba ocorrendo uma circulação viral e bacteriana. Além disso, nos anos anteriores, o uso de máscara e o distanciamento preveniram não só a covid-19, mas as outras doenças infectocontagiosas. No momento em que retiramos as máscaras e as crianças voltaram ao ambiente escolar, abriu a possibilidade de haver transmissões de doenças e, somado a isso, há a queda cobertura vacinal desde o início da pandemia. Desde 2020 não atingimos nenhuma meta vacinal em Caxias — aponta Magda.
Em outubro do ano passado dois surtos da doença foram registrados em escolinhas de Caxias do Sul — seis crianças chegaram a ser hospitalizadas na época.
Saiba mais sobre a meningite
A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, podendo ser causada por bactérias, vírus, fungos e parasitas — as bacterianas e as fúngicas são as mais graves.
— É uma doença de grande importância devido às consequências que podem ocorrer a partir desta infecção, como perda auditiva, convulsões, déficit de motores, complicações cerebrovasculares como tromboses, vasculites, hemorragia cerebral, deficiência intelectual e alteração comportamental. O paciente também pode fazer um quadro sistêmico, indo para um estado de sepse (infecção generalizada), podendo evoluir a óbito — explica a infectologista Viviane Buffon.
Ela alerta que além das crianças, os idosos, pessoas com AIDS, pacientes oncológicos ou que que usam imunossupressores também apresentam risco de desenvolver meningite.
Sintomas da doença
Conforme o Ministério da Saúde, as meningites provocadas por vírus costumam ser mais leves e os sintomas se parecem com os das gripes e resfriados. A doença ocorre, principalmente, entre as crianças, que têm febre, dor de cabeça, um pouco de rigidez da nuca, falta de apetite, irritação.
Meningites bacterianas são mais graves e em pouco tempo os sintomas aparecem: febre alta, mal-estar, vômitos, dor forte de cabeça e no pescoço, dificuldade para encostar o queixo no peito e, às vezes, manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. Esse é um sinal de que a infecção está se alastrando rapidamente pelo sangue e o risco de infecção generalizada aumenta muito.
SUS oferece vacinas contra a doença
A vacinação, como reforçam os órgãos e os profissionais da saúde, é a estratégia mais eficaz para evitar os principais tipos de meningite. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza doses que fazem parte do calendário de rotina das crianças — confira abaixo.
— As meningites são imunopreveníveis, isso quer dizer que podem ser evitadas ou ter sintomas muito mais brandos caso o indivíduo seja vacinado. O SUS oferta vacinas que servem de proteção para as meningites e, mesmo assim, não viemos atingindo as metas — lamenta Magda.
- Vacina BCG: protege contra formas graves da tuberculose, inclusive a meningite tuberculosa - Dose única ao nascer.
- Vacina Penta: protege contra infecções invasivas, entre elas a meningite, causadas pelo H. influenzae do sorotipo B. Esta vacina também confere proteção contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B - primeira dose aos dois meses, segunda dose aos quatro meses, e terceira dose aos seis meses; dois reforços com a vacina DTP.
- Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as infecções invasivas, entre elas a meningite, causadas por 10 sorotipos do S. pneumoniae - primeira dose aos dois meses, segunda dose aos quatro meses; reforço: aos 12 meses.
- Vacina meningocócica C (conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pela N. meningitidis sorogrupo C - primeira dose aos três meses, segunda dose aos cinco meses; reforço: aos 12 meses.
- Vacina meningocócica ACWY (conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pela N. meningitidis sorogrupo ACWY - uma dose entre os 11 e 14 anos.
UBSs de Caxias estarão abertas neste sábado (11)
Uma oportunidade para colocar a vacinação de crianças e adolescentes em dia ocorre neste sábado (11) em Caxias do Sul. As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) estarão abertas para ações do Mutirão de Saúde do Homem e também vão ofertar a aplicação de imunizantes, dentre eles os que protegem contra a meningite. O serviço ocorre das 9h às 13h.
Para homens de 50 anos ou mais, em geral, e aos de 45 anos ou mais, com sintomas de câncer de próstata, haverá orientações para exame por amostra de sangue e encaminhamento para o urologista. São considerados sintomas da doença alteração na frequência e padrões urinários, sangue na urina e disfunção erétil, assim como ter histórico familiar de câncer de próstata. Pessoas negras também merecem atenção redobrada.
O mutirão também fará testes de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), informações sobre doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo e também vacinação para febre amarela, tríplice viral, tétano e covid-19, nas UBSs que dispõem da vacina para a doença. Nas unidades Bela Vista, Centro de Saúde, Cinquentenário, Cristo Operário, Desvio Rizzo, Eldorado, Mariani, Pioneiro, Salgado Filho e São Vicente também haverá atendimento odontológico para homens, crianças e adolescentes de até 14 anos.