Lojas, shoppings, empresas, estúdios de fotografia, celebrações de família, serviços públicos... A demanda pelos Papais Noéis tem várias origens e exige preparo e organização de quem interpreta o Bom Velhinho. Em Caxias do Sul, o personagem tem agenda disputada e há quem não economize para fazer a alegria da criançada: as visitas residenciais para entrega de presentes podem custar mais de R$ 450, com 20 a 30 minutos de duração.
Quem entende bem desta demanda é o aposentado Rubens Rodrigues, 71 anos, morador do bairro São Ciro. Com carreira iniciada de forma voluntária na década de 1990, ele viu no personagem uma forma de ganhar uma renda extra nessa época do ano. Rodrigues atuou em um shopping da cidade durante oito anos e, hoje, trabalha de forma autônoma para empresas, estúdios de fotografia, hotéis e festas de família. É ele também quem está à frente das celebrações da prefeitura de Caxias do Sul nos últimos anos.
Rodrigues conta que os compromissos começam a se intensificar nas próximas semanas, mas é a véspera de Natal o dia mais corrido da agenda: são quatro a cinco casas para visitar, além de um hotel que o contrata para interação com os hóspedes. É preciso ser ágil, afinal, todos compromissos precisam ser cumpridos antes da meia-noite.
— Fico de 20 a 30 minutos em cada casa e a entrega é para as crianças. Os adultos fazem a troca (de presentes) depois entre eles — detalha Rubens.
Incorporar o personagem também exige certo desprendimento com a própria aparência, além de custos extras. Rubens, por exemplo, mantém a barba natural comprida o ano todo, além de aparar, hidratar e descolorir os pelos regularmente em um salão de beleza.
— A barba tem que ficar bem branquinha e macia — sinaliza o Noel do bairro São Ciro.
Também é preciso investir no vestuário: Rodrigues mantém quatro trajes diferentes e desembolsa um bom valor, principalmente, com as luvas brancas, que sujam e estragam facilmente.
— São luvas de noiva, que compro em São Paulo. Cada caixa, com 12 pares, custa R$ 220 — comenta.
Para além de representar uma função lucrativa, o aposentado acredita que ser Papai Noel é um dom:
— Eu mais recebo alegrias do que dou, pode ter certeza. Quando recebo aqueles abraços fortes, sinto o coraçãozinho batendo, parece que vai saltar do peito. É muito emocionante!
Agenda para o dia 24 fechada em menos de 24 horas
O mês era junho e as solicitações pelo Papai Noel Vavá já começavam a chegar no celular da filha dele, Daniela Raquel Storchi. É ela quem cuida da agenda do Bom Velhilho do bairro Presidente Vargas que, fora do personagem, é o caminhoneiro aposentado Valderez Carlos Storchi, 72 anos.
— Eu vou segurando o máximo que posso, porque a demanda é grande, meu WhatsApp não para. Eu abri a agenda na semana passada, às 11 horas da noite. No outro dia, às quatro horas da tarde, já não tinha mais horário para o dia 24 — revela Daniela.
As visitas na véspera de Natal começam às 18h e exigem o envolvimento de toda a família: enquanto a estrela da festa se encarrega de distribuir sorrisos e simpatia entre os pequenos, Daniela, que faz o papel de duende, e o irmão, que colabora como motorista, se organizam para a próxima casa a ser visitada. Tudo é cronometrado:
— São 20 minutos para a visita e 10 para o deslocamento — ressalta Daniela, detalhando que geralmente a clientela do dia 24 é fiel e tem preferência na hora dos agendamentos.
Além das visitas em festas de família, o Papai Noel Vavá mantém um contrato fixo com uma rede de sorveterias e é requisitado também por estúdios de fotografia, empresas e outros estabelecimentos. Ele lembra que a trajetória como Noel começou há cerca de 10 anos, após fazer uma visita vestido como o personagem na escolinha infantil que a neta Yasmin, 10, frequentava. De lá para cá, não parou mais.
Questionado sobre a receita para ser um bom Noel, seu Vavá não hesita:
— Agradar as crianças em primeiro lugar e fazer as coisas certas.
E complementa:
— É emocionante, eu gosto. Pretendo seguir até que Deus me ajudar e minhas pernas me carregarem.
Claudiomiro vai estrear no Prataviera
Claudiomiro da Silva, 56 anos, recorda que tinha medo do Papai Noel quando criança. Mas, como dizem, o mundo dá voltas e, hoje, ele dá vida e ganha uma renda extra com o personagem. Reconhecido por interpretar o Bom Velhinho em Farroupilha, neste ano o conselheiro tutelar vai estrear no Prataviera Shopping, em Caxias do Sul.
O convite para trabalhar no centro de compras foi bem-recebido e está cercado por boas expectativas, tanto dele quanto dos lojistas que o conheceram na quarta-feira (25). A agenda se inicia no dia 25 de novembro e seguirá até a véspera de Natal, no segundo andar do shopping.
— Eu vou me divertir. Espero poder levar essa alegria do Natal. Quero passar essa mensagem de Natal contente, de festa. Aquele que eu encontrar aqui, quero deixar feliz, principalmente as crianças— planeja Silva.
Embora não revele valores, o Papai Noel diz que a contratação inédita "vale a pena". Além de vencer a timidez, típica da própria personalidade, ele lembra que há os investimentos financeiros para viabilizar o personagem, que vão desde a manutenção da barba natural até o investimento em novos trajes. Inclusive, ele a esposa, Marli Bortolini da Silva, já planejam um novo e inédito figurino para a agenda em Caxias.