Importante estrutura para cuidado e supervisão de pacientes em estado grave, a primeira Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Caxias do Sul completa 50 anos em 2023. Instalados no Hospital Saúde, os leitos de alta complexidade começaram a operar entre julho e agosto de 1973, sendo inaugurados oficialmente em setembro do mesmo ano com presença de profissionais renomados, como o cirurgião paulista Euryclides de Jesus Zerbini, primeiro médico brasileiro a realizar um transplante de coração.
À frente da instalação da UTI estava o médico cardiologista Francisco Michielin, 80 anos. Nomeado como diretor da primeira Unidade de Terapia Intensiva de Caxias, ele ressalta que a criação da estrutura representou um avanço para a saúde da região, uma vez que, anteriormente, este tipo de leito existia apenas em Porto Alegre, o que comprometia a qualidade de atendimento dos moradores da Serra.
— Os médicos tinham que correr de um lado para o outro, sem horário, atendendo a intercorrências, as complicações — recorda-se Michielin, acrescentando que, à época, não era comum ter médicos plantonistas em hospitais, sendo que os profissionais eram chamados para atendimento a qualquer hora do dia ou da noite.
À época, a instituição chamava-se Hospital Nossa Senhora da Saúde e era administrada pelas irmãs de São José. Para a nova ala, as religiosas cederam um grande salão, onde foram instalados, inicialmente, oito leitos. A demanda, como lembra Michielin, era grande desde os primeiros dias da nova unidade.
— Os colegas da região — Antônio Prado, São Marcos, Nova Petrópolis — nos mandavam muitos pacientes. Eles se sentiam aliviados. A UTI do hospital vivia repleta, saia um paciente já tinha outro para entrar.
Embora bastante celebrada pelos profissionais da saúde, a nova unidade gerava medo e desconfiança entre boa parte dos pacientes. Descrito como um lugar "sinistro", havia, inclusive, quem se recusasse a acessar o serviço, mesmo que isso representasse uma piora no quadro ou, em casos mais graves, a morte.
— Tive um caso de um cidadão que era da BM (Brigada Militar) e foi levado pelos colegas. Na hora, diagnostiquei que era um infarto agudo do miocárdio, disse que tinha que baixar e colocar na UTI. Não aceitou de jeito nenhum. Assinou um termo e foi pra casa. No outro dia cedo, o hospital me telefonou dizendo que o cidadão estava lá, que havia passado muito mal e estava achando que ia morrer. Foi para UTI, se recuperou e ficou muito meu amigo — conta, com humor, o cardiologista.
"Era uma boa estrutura para a época"
Para Michielin, as principais diferenças entre uma UTI de 1973 para uma estrutura atual se refere à evolução tecnológica e à especialização de profissionais.
— Era uma boa estrutura para a época. Os nossos recursos eram os mesmos que se tinha em Porto Alegre. Hoje, mudou bastante porque temos mais tecnologia e temos uma enfermagem especializada. Também temos colegas que permanecem 24 horas dentro da UTI. O elemento humano é muito importante — avalia o médico.
O espaço pioneiro em Caxias do Sul era utilizado apenas para adultos, sendo que as crianças, mesmo com casos mais complexos, eram atendidas em quartos, segundo o cardiologista. Os quadros mais comuns de internação na UTI se referiam a problemas cardíacos, pneumonia, pancreatite, entre outros.
De acordo com dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, atualmente o Hospital Saúde conta com 10 leitos de UTI adultos, sendo todos privados.
No total, Caxias do Sul tem 204 leitos de UTI entre SUS e rede privada para atendimentos adulto, pediátrico e neonatal.