Mais de duas semanas se passaram desde que Jaqueline Medianeira Fagundes, 45 anos, deixou de manter contato com familiares. Moradora de Guaporé, a mulher sumiu após a enchente que atingiu Santa Tereza, na Serra, em 4 de setembro. Ela era namorada de Rogério Godofredo de Oliveira, 37 anos, que foi encontrado morto no último dia 6. Até o momento, Oliveira é a única morte confirmada por causa da chuva em Santa Tereza. Jaqueline, por sua vez, é considerada desaparecida pela Defesa Civil.
Para os 10 filhos de Jaqueline, esse período sem informações tem sido de muita angústia.
— Nós, os filhos, não dormimos e não comemos mais. Passamos o dia olhando as notícias atrás de informações e cada um sofre de um jeito. Tudo diz que ela não está mais viva, mas nós ainda temos esperança — diz Tainara Letícia da Silva, 28 anos, que aguarda pela mãe.
Jaqueline nasceu em Santa Maria e foi criada pela avó. Teve três filhos do primeiro casamento. De um segundo relacionamento, teve outros sete filhos. Segundo Tainara, a mãe faz faxina para não deixar os filhos passarem necessidade.
— A mãe sofreu a vida inteira, é uma pessoa de vida difícil, mas sempre foi uma mãe dedicada. Ela faz tudo o que pode para ser uma boa mãe e estar presente para nós. É uma pessoa que conquistou muitas pessoas aqui em Guaporé, tanto que tem pessoas que eu nem sabia que ela conhecia e vêm perguntar dela. É uma pessoa querida e amada por muita gente, percebemos que muita gente está triste e diz estar pedindo orações, eles vêm e perguntam dela. Ela mobilizou muitas pessoas porque têm muita gente que considera ela da família — conta Tainara.
Depois da segunda separação, Jaqueline encontrou Oliveira e, conforme a filha, exibe com amor a aliança que recebeu do namorado. A troca de carinho entre o casal era percebida pelos filhos, que torcem pela felicidade da mãe.
Oliveira foi a trabalho para Santa Tereza no dia da enchente e Jaqueline foi acompanhá-lo. Naquele mesmo dia, o casal comprou um carro novo, um Escort cinza. Para a filha, um acidente pode ter acontecido por causa da força da água e a mãe pode ter ficado presa dentro do veículo.
— Acho que, talvez, eles sofreram algum acidente ou pegaram água na pista. Como ele tinha comprado o carro novo, não conhecia ainda o carro e nem a estrada e com toda aquela tempestade que fez, pode ter acontecido alguma coisa e ela ter ficado no carro porque não acharam o carro e nem ela até agora — lamenta a filha.
Amorosa, Jaqueline está fazendo falta não apenas para os filhos, mas também para os netos que são apegados à avó.
— Eu preciso ser forte pelos meus irmãos porque sou a mais velha. Só quero que encontrem ela, porque não merece isso. Se não está mais viva, merece ter um enterro digno, uma despedida. Ela é digna de um momento com a gente. Enquanto isso, nós estamos morrendo um pouco todos os dias — desabafa a filha.
Buscas retomadas com equipe de Porto Alegre
Os bombeiros de Bento Gonçalves iniciaram na segunda-feira (18) as buscas por Jaqueline pelo Rio Taquari, na região do distrito de Santa Bárbara, entre Bento Gonçalves e São Valentim do Sul. Segundo a guarnição, as buscas foram retomadas nesta terça-feira (19) com o auxílio de uma equipe de mergulhadores de Porto Alegre.
Os bombeiros militares trabalham na delimitação de perímetro para saber exatamente o ponto de buscas, que seguirão ao longo da semana. Os bombeiros trabalham com a possibilidade de encontrar tanto um carro dentro do rio quanto um corpo que pode estar dentro ou próximo ao veículo.
O delegado da Polícia Civil Álvaro Becker já considerava a única hipótese de investigação como desaparecimento da mulher por causa das chuvas.