Depois de a ponte da RS-431, no distrito de Santa Bárbara, em São Valentim do Sul, ter sido levada pela enchente da semana passada, prefeitos de diversas cidades estão mobilizados para achar uma solução. Além da reconstrução da estrutura, uma das ideias é contar com uma balsa para a travessia. Os líderes já começaram a conversar com o governo do Estado e a União em busca de alternativas.
Localizada no ponto onde os rios das Antas e Carreiro se encontram e formam o Taquari, a estrutura ligava a comunidade de Santa Bárbara à Linha José Júlio, em Santa Tereza. Na prática, era o principal caminho para quem transitava entre São Valentim do Sul, Santa Tereza, Bento Gonçalves, Guaporé, Dois Lajeados, Cotiporã e Monte Belo do Sul.
Assim como aconteceu em Nova Roma do Sul, onde a ponte de ferro foi levada pela força da enchente, quem vive nas cidades que dependiam da travessia na RS-431 encara uma nova realidade. Hoje, os moradores precisam reaprender como se locomover para acessar serviços essenciais como os de saúde e educação. Há também reflexo nos aspectos econômicos, uma vez que era por ali que os municípios escoavam a produção, principalmente, de uva. A logística é muito mais longa e demorada.
O prefeito de São Valentim do Sul, Geri Angelo Macagnan (MDB), explica que a ponte é histórica e existia há mais de 60 anos. O município também registrou a destruição de 14 casas e de cerca de cinco lavouras. Macagnan destaca que 80% da produção da uva passava pela ponte porque São Valentim do Sul e Dois Lajeados são grandes produtores da fruta.
Segundo ele, o governo do Estado já priorizou a demanda para começar a construção em breve, mas não há uma data para os trabalhos. Enquanto isso, os municípios buscam outros meios:
— Estamos buscando uma balsa como alternativa porque a safra da uva está aí (a poucos meses de começar) e todo o comércio e indústria da região também dependem dessa travessia. Precisamos urgentemente de uma alternativa porque dependemos muito dessa travessia. Passavam por essa ponte 2 mil carros por dia, em média —ressalta Macagnan, que complementa.
— Os estudantes que fazem faculdade em Bento Gonçalves e Caxias do Sul também utilizavam a ponte. Há dois acessos para Dois Lajeados e para Guaporé passando por Vista Alegre do Prata. O trajeto com a ponte era 45 minutos, e agora é duas horas. Então, realmente tem muito reflexo não só na produção, mas no dia a dia do município — reforça o prefeito de São Valentim.
Em nota, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) afirma que o Governo do Estado atua junto aos órgãos de controle para adotar as medidas necessárias para a reconstrução da ponte, "com celeridade e segurança jurídica". Além disso, a nota afirma:
"Reuniões de vários órgãos têm sido realizadas com esse objetivo. Por outro lado, o Daer já acionou a empresa responsável pelo contrato de apoio técnico para o desenvolvimento do anteprojeto e orçamento, com a finalidade de contratação integrada emergencial para a construção da nova ponte."
Reconstrução gira em torno de R$ 120 milhões, aponta prefeita de Santa Tereza
A prefeita de Santa Tereza, uma das cidades mais devastadas pela enchente do Rio Taquari, na Serra também demostra preocupação com a recuperação da ponte. Ao contrário do prefeito de São Valentim, Gisele Caumo (PTB) aponta que não há medidas de emergência.
—A ponte tinha 27 metros de altura em relação ao nível do rio. A única solução é a reconstrução. Por óbvio existem vias alternativas, porém, as distâncias a serem percorridas são consideravelmente maiores, o que implicará no aumento dos custos e do tempo de deslocamento.
A prefeita ressalta ainda que conforme informações do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), o valor necessário para construção de uma nova ponte no local gira em torno de R$ 120 milhões.
—Além disso, a estimativa é de que leve, no mínimo, dois anos para a execução da obra — afirma a chefe do executivo de Santa Tereza.
Ligação regional
Os prefeitos de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira (PSDB), e de Guaporé, Valdir Carlos Fabris (PDT), também estão mobilizados em busca da reconstrução da ponte. Siqueira destaca que é necessários a união das lideranças:
— Para quem vem de Guaporé, ligava com Bento Gonçalves, que é referência para a região. A ponte é uma ligação regional. São vários municípios que acabam precisando diretamente dessa ligação. A gente precisa da união de todas as prefeituras, mas, principalmente, do governo do estado e do Federal para essa reconstrução — afirma Diogo Siqueira.
O prefeito de Guaporé ressalta que os moradores da cidade também enfrentam problemas para se deslocar para serviços de saúde e para transportar a produção.
— É um problema para nós. Imaginem: temos que ir a Nova Prata, o que dá mais de uma hora, e metade da estrada é de terra e barro, e depois ir arté Veranópolis para chegar a Bento Gonçalves. Temos pacientes para levar para Bento Gonçalves e para Caxias do Sul, que é o nosso ponto de referência da saúde. São cerca de 60 pessoas por dia que se deslocam para Bento Gonçalves, Garibaldi ou Caxias — detalha Fabris.
Ele explica que além da ponte que foi levada na RS-431, a cidade está sem acesso aos municípios de Arvorezinha, Soledade e Anta Gorda, também devido às enchentes que destruíram outras pontes. Hoje, Fabris diz que para ir a Anta Gorda, que fica a 25 quilômetros de Guaporé via RS-441, em um trecho de chão batido da rodovia, é preciso seguir até Encantado pela RS-129, passando pela RS-332, o que aumenta o deslocamento em cerca de 70 quilômetros.
Para viajar até Soledade, o deslocamento é por Passo Fundo ou para o Encantado. Para seguir a Nova Bassano, o caminho é via Casca, o que triplica o caminho. A ponte de Santa Bárbara também era um dos caminhos para ir até Porto Alegre.