Vislumbrado como um verdadeiro santuário natural, com jardins que se reinventam a cada estação em meio às coxilhas, o Mátria Parque de Flores, de São Francisco de Paula, se aproxima do segundo aniversário alcançando o reconhecimento internacional. Inaugurado em novembro de 2021 e somando mais de 120 mil visitantes desde então, o projeto paisagístico da atração gaúcha foi selecionado para a 12ª Bienal Internacional de Paisagem de Barcelona, na Espanha.
O evento, marcado para ocorrer entre os dias 24 e 28 de novembro na Universitat Politècnica de Catalunya, reúne trabalhos que se destacam no assunto em todo o mundo e vai debater as mudanças climáticas e como a paisagem e o paisagismo podem ser ferramentas para mitigar os efeitos da reviravolta no clima.
— Isso nos impulsiona cada vez mais a nos reinventarmos, a criar, a estar à frente e a trazer coisas novas. É muito importante — comemora a diretora do Mátria, Ithyara Albuquerque Piazza, que conduz o empreendimento com o marido, o CEO Fernando Piazza.
A área de 50 hectares, às margens da RS-235, no caminho para Canela, conduz os visitantes para uma experiência em meio a 30 jardins, que podem ser visitados todos os dias do ano, a pé ou com facilidades elétricas, como carrinhos, bicicletas e 'scooters' (veículo similar a uma motocicleta, que leva de uma a duas pessoas) alugados. Além das flores, que variam conforme o clima da estação, os turistas ainda encontram passeio de barco no lago, helicóptero (em determinadas datas), visita guiada e uma estrutura composta por três restaurantes, boutique e adega subterrânea.
O projeto arquitetônico é assinado por Nicholas Alencar, da Alencar Arquitetura, e o projeto paisagístico por Juliana Castro, da JA8 Arquitetura e Paisagem, ambos de Santa Catarina. O projeto foi concebido em 2019 e a construção teve investimento de R$ 25 milhões.
— Tenho 23 anos de formação e, desde a faculdade, ouço falar da Bienal de Barcelona. Ver um projeto nosso nessa exposição é muito gratificante. Também é bastante confortante saber que estamos no caminho certo e nosso trabalho teve um reconhecimento internacional. É uma grande honra e alegria — avalia Juliana, cujo escritório teve outro trabalho selecionado para o evento internacional.
Uma paisagem singular nos Campos de Cima da Serra
Percorrer o Mátria significa explorar e aguçar um dos mais importantes sentidos humanos, a visão. Ao todo, 300 espécies estão distribuídas pelo parque, colorindo os jardins, cujos desenhos encaixam-se perfeitamente nas curvas do terreno. O passeio ganha cores, texturas e aromas entre variedades dispostas sobre os canteiros como mini amor-perfeito, canola, manacá-da-serra, alecrim, boca-de-leão, lavanda e as árvores frutíferas.
Nossa maior inspiração foi a paisagem local. Criou-se um desenho envolvente, que vai deitando os jardins na paisagem e criando-os como um objeto de apreciação
JULIANA CASTRO,
responsável pelo projeto paisagístico do Mátria
Uma diversidade que pode ser apreciada por diferentes ângulos, em trajeto de oito quilômetros dentro da estrutura. Se o visitante estiver atento, ainda ganha de brinde o som alegre dos nativos, que voam entre um galho e outro nos espaços de mata fechada.
A coleção de mais de 9 milhões de plantas é um convite para aqueles que apreciam um momento de contemplação junto à natureza, ou para os mais conectados, que aproveitam para abastecer a galeria do celular e as redes sociais em cenários totalmente "Instagramáveis". Cada um dos 30 jardins foi cuidadosamente planejado e conta com um significado próprio, contribuindo para o conjunto harmônico do parque.
— A composição entre as plantas é bastante complexa. Foi um estudo extenso para criarmos as combinações que estão no jardim. Nossa maior inspiração foi a paisagem local, os morros. Criou-se um desenho envolvente, sedutor, que vai deitando os jardins na paisagem e criando-os como um objeto de apreciação — detalha Juliana.
O parque tem dois túneis de flores: o de glicínias, com 102 metros, um dos maiores do mundo, e o de rosas. As florações dos túneis ocorrem em setembro e novembro, respectivamente.
Os bastidores de um parque que se reinventa a cada estação
A beleza que enche o olhar dos turistas do Brasil — e também de fora dele — exige dedicação e planejamento nos bastidores. As sementes, importadas de países como Estados Unidos e Alemanha, precisam ser compradas com um ano de antecedência. Também é necessário ter jogo de cintura para se adaptar às condições climáticas — que nem sempre favorecem as floradas — e respeitar as características próprias de cada estação.
— No inverno se tem um mix menor de flores de época, então, é uma estação com árvores mais floridas. Elas que dão o destaque. Vai ter flores, vai ter o colorido, porque o parque foi pensado justamente para isso. Há uma beleza no nascer (das plantas) e no envelhecer — explica a diretora do Mátria, Ithyara Albuquerque Piazza, citando as cerejeiras, pessegueiros, camélias e os manacás-da-serra, que florescem nesta época.
A equipe de cerca de 50 jardineiros se desdobra para atender, por exemplo, 2 mil pés de alecrins, 22 mil mudas de rosas e as 12 mil árvores plantadas desde a aquisição do terreno. No chamado berçário, uma estufa de 20 mil metros quadrados, as mudas de algumas espécies, como o amor-perfeito, passam de quatro a seis semanas antes de embelezarem o solo do parque. Delicada, a espécie conta com 21 cores diferentes dentro do Mátria, o que é anunciado como um recorde nas Américas.
Quem conhece bem cada passo para uma boa floração é o funcionário do Mátria Wesley Sanan Neumann Ramos, 23 anos. Apelidado de Luva de Jardineiro, o rapaz, que trabalha no local desde antes da inauguração, criou um perfil no Instagram para compartilhar o processo de cultivo das flores. Os bastidores rendem até publicações em parceria com a página oficial do empreendimento. Ele lembra que nunca havia trabalhado com jardinagem antes de integrar a equipe do parque.
— É muito bom trabalhar com as flores porque, mesmo sabendo que elas têm um ciclo, que vão chegar ao fim, tu planta com carinho, com dedicação — diz Wesley.
E para quem se pergunta qual o melhor momento do ano para visitar o Mátria o CEO do empreendimento, Fernando Piazza, não hesita em responder:
— Eu recomendo vir todos os dias. Porque todo dia tem algo diferente. É a natureza, é um parque vivo, está sempre em mudança — justifica Piazza.
A percepção de quem estreou no Mátria
Sensação de paz, tranquilidade e calmaria habitam os relatos de quem visita o Mátria pela primeira vez. É que, de fato, o silêncio do santuário só é quebrado por um ou outro veículo que circula pela RS-235 ou pelo canto feliz dos pássaros que vivem no local.
No último sábado (29), a doceira Regina Rezende, 45, o representante comercial Amilcar Bittencourt, 46, e Francisco, sete, aproveitavam o dia ensolarado para conhecer a atração da Serra.
Vindos de Canoas, escaparam da intensa movimentação de Gramado para se reconectarem com a natureza.
— Curtimos o meio ambiente. O Francisco ama flor, ama inseto, não tinha lugar melhor para virmos. Ficamos encantados, é divino — avalia Regina.
Opinião similar é compartilhada pela professora Evelise Garcia, 55, e pelo técnico em logística Marcos Lopes, 56, de Guaíba.
— Quem me falou do parque foi minha filha. Ela contou da estrutura e nos motivou a vir. É maravilhosa essa sensação da natureza, da paz, da tranquilidade. Vivemos uma vida tão corrida, tão agitada, que queremos um momento de silêncio — diz Evelise.
O que vem pela frente
Nestes quase dois anos, o turismo contemplativo e voltado ao natural já atraiu mais de 120 mil pessoas. No início, as atividades eram apreciadas, principalmente, pelo público sênior, mas, nos últimos tempos, os proprietários perceberam uma diversificação maior de visitantes, com passeios para casais e famílias da região e de outros eixos do país, como Rio de Janeiro e São Paulo.
O futuro da atração caminha, agora, para tornar o parque ainda mais plural. A intenção é oferecer trilhas e outras atividades de aventura na extensa área de Mata Atlântica, bem como o turismo de observação de aves. A inclusão também é uma preocupação dos gestores. No mês passado, o parque sediou um debate sobre o assunto e a intenção é de que a equipe de quase cem funcionários seja treinada para atender pessoas com deficiência.
O QUE FAZER NO MÁTRIA
:: Passeio por 30 jardins, incluindo estruturas para descanso e brincadeiras em família, como os balanços do Jardim Brincar, que permitem uso individual ou coletivo.
:: Passeio de barco a remo (incluso no ingresso).
:: Passeio de helicóptero, em determinadas datas. O próximo está agendado para 13 de agosto, Dia dos Pais, por R$ 390 por passageiro.
:: Visita ao Monumento à Borboleta. É um jardim em formato do inseto, cercado por estruturas em madeira. A obra homenageia um momento muito especial vivido pela família proprietária durante a escolha do terreno em março de 2019.
:: Opção de três restaurantes, sendo um às margens do lago, e um serviço de piquenique. É possível encontrar opções de alimentação a partir de R$ 29 (petiscos).
:: Visita ao meliponário. O espaço abriga três espécies nativas de abelhas sem ferrão em uma vila no meio da mata.
:: Passeio em veículos elétricos: bicicletas, scooters e carrinhos, pagos à parte.
:: Tour guiado: consiste em um passeio de uma hora e meia com utilização do carrinho elétrico. O veículo comporta até cinco pessoas. O valor é de R$ 120 para cada ocupante.
:: Prédio Boulevard, com acesso livre para o público. No local, há venda de vestuário, acessórios, decoração, plantas e facas artesanais, além de um restaurante e banheiros.
SERVIÇO
:: O quê: Mátria Parque de Flores
:: Onde: RS-235, quilômetro 68, em São Francisco de Paula
:: Funcionamento: todos os dias do ano, das 10h às 18h
:: Quanto: o ingresso adulto (13 a 59 anos) tem preço promocional no site na baixa temporada (mês de agosto) a R$ 119 (fins de semana) e R$ 79,90 (dias de semana)
:: Como comprar: loja.matriaparque.com.br