Com mais de seis décadas trabalhando no campo, Elio Cedanir Bampi, 78 anos, diz que não trocaria a lida do campo para trabalhar em um escritório. O trabalho rural sempre devolveu tudo o que ele plantou e, fora dele, o agricultor — que tem a profissão celebrada nesta sexta-feira (28) — também colhe frutos que semeou ao longo de sua trajetória. Sempre em busca de inovação, ele aumentou a produção de uva, que hoje chega a 800 toneladas por safra, e, entendendo que não bastava apenas crescer em sua propriedade, também protagonizou a luta por melhorias no escoamento da produção da Comunidade Menino Deus, em Forqueta, Caxias do Sul, onde fica a propriedade na qual nasceu e vive até hoje.
— Lembro que quando eu tinha 14 ou 15 anos éramos os menores produtores da região e eu puxava tudo de carroça ainda. Desde aquela época isso era um desafio pra mim, porque não tinha acessos, não descia caminhão. Começamos a trabalhar com as prefeituras e conseguimos melhorar muito — afirma Bampi, que também esteve à frente de conquistas como a de linha telefônica e rede de eletricidade trifásica para a comunidade.
Em homenagem a esta trajetória, o agricultor recebeu, na última terça-feira (25), Dia do Colono e Motorista, a Medalha Agricultor Destaque do Ano de 2023, concedida pela Câmara de Vereadores de Caxias do Sul.
— No começo achei que fosse bobagem, imagina, receber uma medalha... Fiz só até a quarta série, não estudei, pensei que outras pessoas poderiam ser agraciadas. Mas, depois, pensando, acho que ninguém tem uma história como a minha — avalia o homenageado.
Hoje também à frente da Vinhos Bampi, ele elabora, com uva própria e de produção terceirizada, cerca de quatro milhões de litros ao ano. E não deixa de trabalhar na agricultura, uma atividade compartilhada com a esposa e os dois filhos.
— Eu me sinto bem, e me sinto bem também porque os meus filhos gostam. Acho que aquele pessoa que fala que a agricultura é ruim de trabalhar, é tudo mentira. Tem que ter vontade, porque sempre vai ter altas e baixas, mas com toda a modernização está muito mais fácil. Pretendo continuar até os cem anos, e ainda vou tentar renovar o contrato — brincou Bampi.
Uma sucessão necessária
Nascido e criado na roça, aos 24 anos, Lucas Potter faz parte da nova geração de agricultores que tratam de dar continuidade à atividade pouco desejada entre os jovens de hoje em dia. Ele mesmo pensava em estudar outra coisa e deixar a propriedade dos pais, na localidade de Nova Palmira, em Vila Cristina, para trabalhar na cidade.
O que mudou seu destino foi a implantação da Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (EFASSERRA), na Terceira Légua, justamente quando o estudante se encaminhava para cursar o Ensino Médio. Potter integrou a primeira turma de Caxias da instituição de ensino voltada à realidade dos jovens do campo. Os aprendizados foram convertidos no desejo de continuar atuando na propriedade familiar, plantando e produzindo ainda mais. O jovem agricultor também foi agraciado com a homenagem da Câmara de Vereadores.
— Percebi que eu tinha a faca e o queijo na mão, só precisava cortar. É uma coisa que eu gosto, ficar todos os dias em contato com as plantas, não é algo estressante. Só da alegria de ver as frutas produzindo bem e se desenvolvendo, compensa muito. Acho que com a escola técnica o pessoal foi se dando conta que precisamos de mais agricultores, de pessoas que façam isso. Vemos muitas propriedades sem sucessão nenhuma, mas aqui na vizinhança os filhos, assim como eu, estão permanecendo — afirma Potter, que vivencia uma nova realidade no campo, que inclui a possibilidade de compartilhar nas redes sociais sua rotina rural.
Depois de se formar e também passar por um estágio na área agrícola, o jovem voltou à propriedade familiar de aproximadamente 20 hectares. A terra, que no tempo de seus falecidos avós servia uva e variedades de amendoim e vagem, teve a produtividade ampliada com o cultivo de laranja de suco implementada pelo pai de Potter. Hoje, são cerca de 10 hectares de produção, incluindo a de pêssego, caqui, citrus, e uma área onde o jovem implementou uma nova variedade de uva. Frutos de uma semeadura iniciada há muito tempo, modernizada e reconhecida pelo agricultor homenageado.
— Nunca recebi um prêmio de tal importância. Falar na frente dos vereadores, da minha família toda, foi algo de outro mundo. Me senti muito feliz e honrado. Para mim, representa o esforço de um trabalho de muitos e muitos anos, não só meu, mas de todas as gerações de agricultores da família que estiveram, presencialmente ou em memória, recebendo essa homenagem junto comigo — completou.