Muitas vezes chamados de segundos pais ou "pais com açúcar", os avós são parte fundamental da vida das crianças e adultos. Quem teve o prazer de conviver e aprender com os vovôs e vovós sabe que as lições que foram ensinadas na infância permanecem durante a adolescência e a vida adulta. O amor, a força e o afeto são legados deixados por eles. Por isso, o 26 de julho é um dia de homenagens e carinho àqueles que tanto representam para suas famílias.
A data foi escolhida por marcar também o dia de Santa Ana e São Joaquim, os avós de Jesus Cristo. O casal era estéril, o que era considerado um castigo de Deus e motivo para exclusão de certas atividades religiosas. Segundo a Bíblia, Joaquim recolheu-se para jejuar no deserto por 40 dias e 40 noites, quando recebeu de um anjo a notícia que Ana daria à luz uma menina, a quem deram o nome de Maria.
Para celebrar e homenagear a passagem da data, o Pioneiro convidou personalidades de diferentes áreas de atuação em Caxias do Sul para responder a pergunta: o que você aprendeu com seus avós? Confira os relatos abaixo.
Comunicadora da Atlântida relembra força e alegria das avós
"Eu tive convivência só com as minhas avós, porque os meus avôs faleceram muito cedo, antes de eu nascer. Eu não cheguei a conhecer. A minha avó paterna era a Alcedes. Uma das coisas que eu lembro, que foi ela que me ensinou, foi fazer aquelas trancinhas de crochê, que sei fazer até hoje, inclusive. Foi com ela que eu tenho as lembranças mais antigas de ouvir rádio na minha vida. Eu dormia com ela nos sábados e ela sempre ligava o rádio às três da madrugada para rezar o terço, era sagrado. Eu lembro também de acompanhá-la no quintal da casa fazendo figada e sabão caseiro também. O cheiro da polenta na chapa até hoje me lembra ela, toda vez que eu faço. Ela brustolava a polenta até queimar. Acho que o meu talento para queimar polenta, eu aprendi com ela, inclusive. Ela ficou viúva com sete filhos para criar, então eu via nela a figura de uma mulher muito forte e bondosa. Eu tive convivência com ela até os 16 anos. Ela faleceu em 2006.
A minha avó materna era a Sueli, uma avó mais moderna. Ela não parava em casa: ia no salão de beleza, na dança, no grupo de idosos e assim levava a vida. Com certeza o maior ensinamento que ela me deu foi esse, da resiliência e de levar a vida com leveza, porque ela ficou viúva muito cedo, antes dos 40 anos, e, na terceira idade, aproveitava a vida. Eu a levava para os bailes no domingo, ela viajava com a gente, com o grupo de idosos, desfilava no Carnaval, no 7 de Setembro... Ao invés de ela ir assistir às apresentações dos netos, era a gente que ia nas apresentações dela! E ela casou de novo. Eu fui no casamento da minha própria avó e foi a melhor coisa que ela fez! Ela ia nos bailes com o meu avodrasto e dizia 'que pena que a gente tem que morrer'. O que ela queria mesmo era viver. Estava tudo sempre bom, não reclamava de nada e certamente esse foi o maior ensinamento. Ela faleceu há dois anos e deve estar fazendo baile no céu!"
Daniela Fanti, coordenadora e comunicadora da Rádio Atlântida Serra.
Delegado destaca o trabalho árduo e o amor
"De tudo que eu aprendi com os meus avós, eu destacaria duas coisas: primeiro, a importância do trabalho árduo para a superação das dificuldades sociais e materiais. Essa foi uma coisa que sempre marcou a nossa família. E segundo: o significado do amor. Eles nos ensinaram muito o significado do amor que eles nutriam a partir do momento em que eles fizeram inúmeras renúncias para que os filhos tivessem uma vida melhor do que as que eles tiveram. Então, eu destacaria essas duas coisas. A importância do trabalho árduo e o amor. Eu acho que essas são as duas mensagens e os dois ensinamentos que eles legaram para todos os descendentes e inclusive a mim. O amor através do exemplo."
Augusto Cavalheiro Neto, delegado regional.
"Eu sou o que eu sou por causa dela"
— Eu sou criado com a minha avó materna, a Maria da Penha. Meus pais tinham que sair para trabalhar, então eu ficava com ela, que me ensinou de tudo nessa vida. Tanto de respeito ao próximo, tanto de educação nos lugares, de ser honesto, leal, justo, sempre procurar fazer o certo... Ela me ensinou que mesmo num momento difícil, ali na frente vai dar bom, né, se você fizer o certo sempre. Sempre me ensinou isso. Me ensinou a ser religioso, sempre estar mantendo a fé em dia, que é muito importante, cuidar do espírito. Eu sou o que eu sou hoje por causa dela. As pessoas gostam de mim, admiram o que eu faço, por tudo que ela me ensinou. Sempre me apoiou em tudo que eu fiz. Inclusive já fiz outros esportes e ela sempre me apoiou. Quando a gente perde, ela diz que isso faz parte. Mesmo que não seja uma pessoa que entenda tanto de basquete, entende muito da vida, porque é uma pessoa que já viveu bastante. Ela me incentiva muito, está sempre me apoiando, onde quer que seja, a qualquer horário, está sempre comigo.
Elias Oliveira Goulart Conceição, jogador do time sub-22 do Caxias do Sul Basquete.
O legado deixado pelas Alices
"Eu tenho lembranças muito boas das minhas duas avós. Os meus avôs morreram cedo, então, eu tenho os ensinamentos do que a família diz da força, das dificuldades que eles passaram. As minhas duas avós se chamavam Alice. Uma delas morreu aos 70 e poucos anos e foi a vó que eu morei junto na minha primeira infância. Foi aquela vozinha que me dava carinho, que se importava com todos. Ela teve dezoito filhos, perdeu três quando bebês pequenos. Uma mulher forte. A minha outra vó teve quatorze filhos e perdeu um pequenininho. Essa minha vó, que já faleceu antes, além de ser terna, de ser uma pessoa carinhosa, teve que ter muita força, passou muita dificuldade, ela viu os filhos passarem fome. Uma delas me ensinou dessa força toda e a outra me mostrou que é importante se relacionar com as pessoas, passear, conversar."
Márcia Costa, vice-presidente do Sindilojas.
Diretor do HG resgata memórias com os avós no campo
"Eu tive o prazer de ver os quatro avós vivos. Tive uma proximidade muito grande na minha adolescência e na minha juventude. Eles foram agricultores lá onde a gente morava, em Bom Retiro do Sul. Eles me trouxeram o valor de família, o valor de trabalho, de honestidade. É um exemplo de vida que eles passaram para mim. Fora todo carinho com que éramos recebidos quando íamos visitar eles. Eram pessoas humildes, que trabalhavam na agricultura, na colônia. Eles tiveram dificuldades para dar ensino aos seus filhos, isso também me remeteu muito. Eles tinham muito a questão de família e a questão de ensino, por isso que os meus pais estudaram, se formaram professores... Graças à preocupação deles de que o ensino era o futuro das pessoas. A memória que eu tenho lembrança é das minhas férias, que eu passava junto deles. Ficava fazendo a lida do campo, fugia totalmente de onde eu vivia! Também poder apreciar as comidas das avós, que sempre é fabuloso!"
Sandro Junqueira, diretor do Hospital Geral.
"Com eles aprendi a valorizar as coisas mais simples da vida"
"É difícil definir em poucas palavras tudo que meus queridos nonos me ensinaram. Com eles, aprendi o Talian, antes dialeto, e hoje um patrimônio imaterial e linguístico nacional. Eles me ensinaram sobre a vida na colônia, a importância do trabalho, a união e a força de uma família. Convivendo com eles, aprendi a valorizar as coisas mais simples da vida: um almoço em família, um dia ensolarado, um prato de polenta e fortaia, um vinho de mesa produzido no porão de casa, com a própria uva. Aprendi que com o pouco é possível ter muito! A vivência que tive com eles diz muito sobre minha personalidade. Hoje e sempre digo em casa que quero um dia ser amada pelos meus netos assim como eu amo meus queridos avós! Eles estão presentes em minhas melhores lembranças de infância, nas brincadeiras em volta de sua casa, embaixo dos parreirais, nas manhãs de domingo com a casa sempre cheia de boas risadas e aquela comidinha preparada com muito amor pelas minhas nonas! Mesmo não os tendo aqui fisicamente, suas memórias e o legado que deixaram estão eternizados em meu coração. Obrigada por tudo Maria e Antônio Rech, Vasco e Joaninha Zanol"
Pricila Zanol, rainha da Festa da Uva.