Os traços cuidadosos feitos na folha de papiro, no Egito, exibem com delicadeza pedaços de uma história iniciada cerca de 7 mil anos antes de Cristo no país africano. A arte exibida em um dos estandes da feira Mãos da Terra, em Caxias do Sul, é uma entre a diversidade exposta na edição deste ano, que segue até domingo (9) no Centro de Eventos do Parque Mário Bernardino Ramos, onde ocorre a Festa da Uva.
Depois de nove anos sem ser realizada, a feira tem o objetivo de promover um intercâmbio cultural entre artesãos de diferentes partes do mundo. A intenção foi percebida com alegria por Mohmed Ali, que mora no Brasil há 11 anos e importa produtos egípcios para participar de diferentes feiras.
— Nós viemos mostrar a nossa cultura. O Egito antigo tem uma história muito especial. História de 7 mil anos antes de Cristo e estamos muitos felizes em trazer um pouco dessa história para ser contada aqui. Percebi que o povo de Caxias gosta muito da nossa cultura e nossa história. Eu não esperava que eles conhecessem, mas eles estudam e leem bastante. Isso foi uma surpresa para mim. As pessoas aqui são fantásticas, estou feliz em estar na feira — conta o artesão.
Esta é a 7ª edição do evento, que precisou pausar as atividades por um período maior do que o previsto. Conforme o promotor da feira, Marcus Romera, a ideia era que a pausa fosse de três anos, mas o período aumentou. O Mãos da Terra foi parado por questões políticas do Governo Federal, que tornava cara a presença de feirantes estrangeiros por questões de taxa.
Para a mãe e filha Rita Mariani e Barbara Andelieri, que visitam o evento desde a primeira edição, o retorno foi uma forma de conexão com peças produzidas dentro e fora do país e surpresa após o período da pandemia de covid-19.
— Acho que está bem bacana, bonito e ficamos bem felizes com essa edição. Me surpreendi porque achava que por causa das vendas online a feira poderia ser afetada e as pessoas não iam comparecer e participar. Mas a gente achou muito bom e conseguiu aproveitar bastante — conta Barbara.
As seis primeiras edições da feira reuniram cerca de 500 mil pessoas. No primeiro final de semana do evento deste ano, que começou no dia 30 de junho, 12 mil pessoas estiveram presentes. A estimativa total de participantes deve ser divulgada após o encerramento da edição.
Conexão artística
A iniciativa de promover uma conexão entre artesãos e produtos de diferentes partes do mundo ocorre em todos os corredores do espaço. Em um dos pontos do Centro de Eventos, produtos da Índia, como peças de roupas e lãs da caxemira, podem ser apreciados com doces feitos com receitas de Marrocos e um toque brasileiro.
Para o artesão indiano Danish Baba, a feira é uma forma de encontrar pessoas que conhecem o país e trazer para os noveleiros, que acompanharam Caminhos das Índias, da TV Globo, itens que se popularizaram por causa da produção.
— Estamos gostando da feira e sempre participamos dessas que duram entre cinco e 10 dias e acontecem no Brasil inteiro. Viemos mostrar os produtos da Índia, como a lã da caxemira, tapetes bordados, artesanato feito com osso de camelo e chifre de búfalo. Percebemos que as pessoas gostam bastante, tem pessoas que chegam aqui porque viajaram para lá e gostaram dos nossos produtos — conta Danish.
Próximo ao estande indiano, o casal Abdini Miranda e Maria da Paz Miranda expõe doces que combinam com a história de amor que vivem: misturando um pouquinho do Brasil e do Marrocos em receitas únicas. Abdini, que não quis contar à reportagem o sobrenome verdadeiro por ser muito difícil de escrever, conta com alegria sobre a feira.
— Nossos doces resolvem três problemas, eles são para intolerantes à lactose, glúten e também são fitness. Misturamos receitas brasileiras com as marroquinas e a base são frutas naturais, sem farinha, alguns sem leite e também com 70% menos açúcar. Produzimos nossos doces há 30 anos. Estamos felizes que a feira voltou e que voltou melhor. As pessoas aqui do Brasil gostam de novidade, experimentam nossos doces e gostam bastante — conta Abdini.
O mesmo carinho que o marroquino tem pelos doces que produz é compartilhado pelas expositoras caxienses Nilce Picinini e Maria Madalena Gil Ferreira, que levaram para a feira itens em tricô e crochê. As mulheres vêem o retorno do evento como uma forma de conectar a paixão pelo trabalho à mão com a oportunidade de conhecer pessoas novas.
— Crochê e tricô são o nosso passatempo, o que gostamos de fazer e fazemos para vender. Só faz isso quem tem amor, porque ninguém faz pontinho por pontinho se não gosta do que faz. Dá muito trabalho. Ficamos realizadas aqui na feira, ela é muito importante porque vendemos produtos que fazemos com muito amor e temos a oportunidade de interagir com as pessoas — conta Nilce.
A feira Mãos da Terra ocorre das 14h às 21h e a entrada custa R$ 8. Menores de 12 anos e pessoas acima de 60 não pagam.