Maio é um mês voltado a ações de conscientização para um trânsito mais seguro, mas você já parou para pensar como se comporta dirigindo? Paciência e respeito são fundamentais, só que, segundo a Fiscalização de Trânsito, em Caxias do Sul, tem sido cada vez mais visível problemas relacionados ao estresse de motoristas, o que pode gerar atos de agressividade.
Afinal, são milhares de carros todos os dias pelas ruas, sendo que nos horários de pico, o trânsito exige muita paciência e gentileza dos condutores. Mais de 300 mil veículos circulam pelas vias de Caxias, segundo a Secretaria de Trânsito de Caxias do Sul, um aglomerado de movimento que chega a dar dor de cabeça só de ficar observando. Imagina para quem vivencia isso, como relatam os próprios motoristas.
— Eu vejo que muita gente não tem paciência. Aí que começam os problemas no trânsito — comenta o metalúrgico Ricardo da Veiga.
Já Adelar de Souza trabalha como motoboy há 27 anos. O estresse da rotina nas ruas reflete até nos momentos de descanso, segundo ele:
— Pra mim, é bem estressante. Já estou até com problema de não conseguir dormir. Já sofri cinco acidentes. Faz mais de 20 anos que estou trabalhando na rua, mas cada vez está piorando mais.
E não é somente uma percepção de Adelar de Souza. Segundo a Fiscalização de Trânsito de Caxias, é perceptível no trânsito de Caxias que há um aumento de irritação e agressividade entre os motoristas, comportamento que também pode estar diretamente ligado a atos de infração, conforme explica o fiscal e gerente da Escola Pública de Trânsito, Joelson Queiroz:
— Nas abordagens, estamos nos deparando com inúmeros condutores cometendo várias irregularidades, como é o caso mais recorrente na nossa cidade hoje: motos com surdinas barulhentas. Nós abordamos condutores sem espelho, não habilitados, transitando na contramão, e, mesmo assim, eles argumentam e se sentem na razão para tentar fuga. Muitos até tentam agredir os agentes públicos nessas ações.
Ainda segundo a Fiscalização de Trânsito, há problemas também no entorno das escolas, que deveria ser um ambiente de respeito.
— Nós estamos percebendo, neste pós-restrições da pandemia, uma agressividade, um estresse muito grande por parte dos condutores. Essa percepção é muito nítida em frente às escolas, na entrada e saída dos alunos. Já tivemos que administrar algumas situações de vias de fato entre pais, mesmo estando com o seus filhos junto — comenta Joelson Queiroz.
Para a psicóloga Relim Hahn, a atitude no trânsito é um reflexo do comportamento em outros ambientes sociais e que pode ter sido agravado com a pandemia de covid-19.
— Certamente estamos mais irritáveis. Uma das grandes frustrações neste nosso tempo é justamente que a pandemia não trouxe uma diminuição na velocidade, não trouxe um outro ritmo pra nossa vida. Se a gente lembrar, lá no início da pandemia, a gente dizia "eu acho que essa pandemia veio para nos autorregular enquanto sociedade, e trazer um ritmo que seja mais encontrado com os nossos ritmos". E aí a pandemia passa e parece que nós saímos dela mais acelerados. O trânsito talvez seja uma boa metáfora pra isso, mas acelerados e talvez mais desgovernados, sem saber exatamente pra onde nós estamos indo. O trânsito é uma grande metáfora. Uma grande representação do que nós vivemos atualmente de saúde mental hoje o Brasil é ser número 1 em ansiedade e número 1 em depressão. Então, vivemos uma crise de saúde mental sem precedentes. E isso vai com a gente pra todos os lugares, inclusive pro trânsito.
Para controlar o estresse no trânsito, algumas atitudes no dia a dia podem ajudar. Uma delas é fazer uma parada estratégica, principalmente quem trabalha como motorista. Aproveitar para relaxar, fazer alongamentos e exercícios de respiração. Um exemplo vem do taxista Paulo Tonetto, que, mesmo trabalhando no trânsito, consegue se manter tranquilo.
— A irritação e a falta de educação não levam a nada. Com todo esse tempo que eu tenho (atuando como taxista), trabalhando tranquilo mesmo com 82 anos de idade, eu acredito que eu tenho controle sobre mim — relata Tonetto.