A represa São Miguel, no Complexo Dal Bó, é cercada por gradis de proteção e placas de alerta sobre a proibição de acesso, banho, pesca ou qualquer outra atividade. É regra que serve para preservar o manancial na região do bairro Fátima, em Caxias do Sul, e evitar acidentes como afogamentos. Porém, só neste ano, pela segunda vez as estruturas que cercam a área foram quebradas para facilitar a invasão no local.
Foi por um desses pontos vandalizados (na Rua Doutor Luigi Gallicchio) que populares entraram na represa no último domingo (11), dia em que Sandro Candido Leal, 41 anos, morreu afogado — o corpo só foi localizado e removido na manhã desta terça-feira (14).
As ações para impedir afogamentos são uma rotina a cada verão, mas a população ignora os perigos e insiste em burlar as determinações. O diretor da Guarda Municipal de Caxias do Sul, Alex Kulman, comentou que Leal estava num grupo de pessoas no domingo, parte delas na água. Kulman disse que os servidores foram até eles, repassaram orientações sobre as restrições e pediram que todos saíssem. O grupo teria sido acompanhado até o lado de fora da represa pelos guardas. Porém, conforme Kulman, após a saída da viatura da GM para a troca de plantão, o grupo retornou ao local. Pouco depois, Leal se afogou.
— Nós contamos com a conscientização das pessoas, isso tem que existir. A pessoa que se afogou ali era um adulto de 41 anos, não era um desavisado ou uma criança. Então, fica difícil manter uma área desse tamanho, onde a gente proíbe essas atividades, sem a conscientização da população — citou o presidente do Samae, Gilberto Meletti.
"Pedimos encarecidamente: não se coloquem em risco"
O diretor da Guarda garante que a orientação repassada à população que circula nos trechos proibidos da barragem é diária. No dia do afogamento, 50 pessoas foram retiradas do complexo pela corporação, inclusive Leal.
— Desde o dia 6 de dezembro, cerca de 1.300 pessoas foram orientadas pela Guarda sobre a proibição de estar às margens da represa. Pedimos encarecidamente: não acessem as áreas de represas, não se coloquem em risco — apela o diretor da Guarda.
Além do risco de afogamento e das ações preventivas, o município precisa arcar com despesas elevadas relacionadas aos atos de vandalismo. De novembro de 2022 a janeiro de 2023, Samae gastou R$ 668 mil em consertos nas represas do complexo Dal Bó e da Maestra, de acordo com o diretor-presidente do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), Gilberto Meletti.
No Dal Bó, por exemplo, placas de sinalização que substituíram outras que haviam sido danificadas foram vandalizadas menos de 24 horas depois da instalação em meados de janeiro. Trabalhadores que atuam na reposição de peças e do gradil relatam sofrer ameaças, segundo o Samae, pois há pessoas que pressionam para evitar o conserto e, assim, deixar o caminho livre.
— Estamos tendo problemas seguidamente com a depredação, já investimos mais de R$ 600 mil esse ano para conserto. Há constantemente depredação, eles arrancam e levam embora portões de ferro, depois adentram na barragem — disse o diretor do Samae.
O gradil será consertado na área da represa São Miguel. Além disso, a Guarda Municipal seguirá fazendo as rondas rotineiras nas cinco represas do município. Até o momento, outras medidas não estão sendo planejadas pela autarquia.
Denúncias podem ser feitas na Central de Atendimento do Samae por meio do telefone 115 e para a Guarda Municipal pelo 193.