Viajar para conhecer os vinhedos e conviver com as experiências que a produção vinífera carrega. Esse é um dos objetivos dos amantes do vinho ao irem de encontro com atrações capazes de fazer o ato de abrir uma garrafa algo muito maior. Para dois irmãos que renovaram os produtos e atrativos da vinícola da família, esse conceito está muito claro e é a cada ano explorado de novas formas.
No Vale Trentino, entre Caxias do Sul e Farroupilha, a já consolidada vinícola Perini abre as portas aos visitantes desde que as ideias de Franco, 42 anos, e Pablo Perini, 39, foram colocadas em prática, sempre com o aval e o crivo do pai, Benildo, precursor das inovações, principalmente quando se fala da produção em larga escala de vinhos, sucos e espumantes.
A sucessão familiar, aliás, começou por ele, quando, aos 17 anos, precisou assumir os negócios após a morte do pai, João Perini. Nos anos 1970 estava em andamento a primeira grande revolução na cantina que até então fornecia vinhos artesanais, feitos no porão de casa, para festas coloniais das capelas do entorno.
Com espumantes reconhecidos internacionalmente, vinhos finos de diversas variedades e uma linha de mesa que homenageia o patriarca João, a vinícola se tornou uma referência na Serra gaúcha. No entanto, o universo criado por Benildo não merecia ficar exclusivo à produção da bebida, era preciso mostrar o que se fazia ali e agregar valor a um produto que passa por tantas fases até chegar à mesa do consumidor. Para isso, o interesse e o envolvimento dos filhos no negócio foram fundamentais.
— Descobrimos que o consumidor não é só avido pelo líquido, as pessoas buscam uma história que existe por trás de um rótulo. Então entregamos nada mais que as experiências que temos aqui dentro para as pessoas que gostam do nosso produto vivenciarem um pouco do que é o nosso dia a dia — explica Franco, presidente do conselho de administração da Perini.
E foram as vivências e preferências dos irmãos que trouxeram as primeiras possibilidades a serem ofertadas na vinícola. Corredor amador, Franco criou a Vino Run, um evento esportivo com corridas de 10, seis e três quilômetros que ocorre anualmente com largada e chegada na Perini. Diretor de marketing e pintor, a criatividade e o interesse de Pablo pela arte se refletem em um mural recém grafitado em tanques de vinho que ficam ao lado de fora do complexo.
Atentos à procura do local por ciclistas que contemplavam a região, os irmãos viram no aluguel de bicicletas e na venda de um kit de piquenique a oportunidade de deixar turistas livres para explorar a propriedade. O passeio de cerca de cinco quilômetros passa pelos vinhedos e se encerra em um belvedere de onde toda a estrutura e as belezas da localidade podem ser contempladas.
Para além das atividades esportivas, possibilidades de degustações, tours guiados e a recém desenvolvida "Saga da Uva" também estão à mesa. Para esta última, a sazonalidade da safra da uva é muito bem explorada e convida visitantes a entender todos os processos da colheita à fabricação do vinho.
— Vindima é a fase fundamental e ponto de conexão para trazer o apaixonado por vinho para a origem de tudo e entender como se cumpre o ciclo da uva e do vinho. No momento que a pessoa vem, entende o terroir de uma forma mais completa — acredita Pablo.
A palavra francesa que em tradução livre significa terra, resume o conjunto de fatores naturais que influenciam no cultivo e qualidade da uva. Solo, geografia e clima são apresentados pelos irmãos nas iniciativas criadas para receber o turista. Para isso, uma ferramenta foi fundamental na organização dos atrativos. A plataforma Wine Locals abriga todos os produtos e experiências oferecidas na Perini. É por lá que o interessado agenda, paga e avalia as atividades.
— Ajudou bastante porque ela resolve um problema do turista que é o que fazer no atrativo. A gente tenta interagir com as pessoas com tudo aquilo que o vinho e o entorno dele proporcionam, mas esse pacote precisa chegar pronto para o consumidor — explica Pablo.