Quando tinha quatro anos de vida, uma menina de Cachoeirinha, cidade da região metropolitana do Rio Grande do Sul, ganhou de presente uma irmã, que nasceu no mesmo dia 15 de fevereiro. A recém-nascida daquela época foi encontrada no dia 31 de janeiro deste ano, em Garibaldi, aos 73 anos, depois de passar mais de quatro décadas como desaparecida para os parentes. Nesta quarta-feira (15), as irmãs irão celebrar o primeiro aniversário juntas depois dos últimos 44 anos afastadas. Os nomes estão sendo preservados a pedido da família.
A idosa pôde ser localizada pela Polícia Civil depois de uma denúncia anônima de maus-tratos e situação análoga à escravidão. Atualmente, ela está morando com familiares em Gravataí, cidade que faz divisa com Cachoeirinha.
— A mãe diz que quando ela fez quatro anos, o presente foi essa irmã. Vai ter uma comemoração mais simples para marcar o dia, mas queremos fazer uma coisa mais elaborada no final de semana de Carnaval para aproveitar a presença dos outros familiares que poderão participar também — revela a sobrinha da idosa.
Conforme a sobrinha, de pouco em pouco as irmãs estão se reconectando e lembrando juntas da infância compartilhada, enquanto vivem novos momentos juntas. Elas se reencontraram há 13 dias.
A vida depois do encontro
Desde que foi localizada, a idosa está passando por diferentes processos, tanto legais quanto civis e de reaproximação com a família. Segundo o relato feito pela sobrinha à reportagem, na readaptação, descobriram que a idosa gosta de comer massas e feijão fresco.
— Mas tem que ser aquela massa feita na mão, não aquela comprada no mercado. Ela gosta muito dessa massa. O feijão a gente percebeu que ela gosta quando tá fresquinho. Ela ainda tá comendo pouco, mas dá para perceber alguns gostos dela. Estamos tentando descobrir qual legume ela come. Por enquanto, a gente já sabe que ela não gosta de beterraba nem de batata doce (risos) — conta a sobrinha.
Para a questão de saúde, uma bateria de exames está sendo feita por solicitação de assistentes sociais, que estão auxiliando a idosa. A família também quer dar início a um tratamento odontológico para que ela possa se alimentar melhor.
O próximo passo na questão da saúde é buscar o acompanhamento psicológico, que possa auxiliar ela nessa mudança e ajudar os familiares a compreenderem melhor tudo o que ela pode ter vivido nos últimos 44 anos.
O contato permanece cauteloso com os familiares, preservando o espaço dela e memória, visto que ela lembra de poucas pessoas e muitos parentes nasceram depois dela ter desaparecido. Aos poucos, a sobrinha descobre novas coisas sobre a tia.
— Esses dias perguntamos para ela se tinha algum relacionamento e ela disse que era solteirona. Aí, eu comentei que então somos duas porque estamos na mesma — conta a sobrinha brincando.
Investigação
Polícia Civil e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) seguem investigando se houve maus-tratos a idoso e se as condições em que a idosa vivia se assemelham à escravidão, respectivamente. Na última sexta-feira (10), o MTE recebeu documentos do Hotel Pieta, onde ela foi encontrada, para dar andamento às apurações.
O advogado Flávio Green Koff, que representa o hotel, afirma que o estabelecimento vai continuar colaborando com as investigações e prestando todas as informações necessárias para a solução do caso.