Muita coisa mudou na vida da mulher de 73 anos que estava desaparecida desde 1979 e foi encontrada em Garibaldi há exata uma semana. Nesta segunda-feira (6), ela fez, pela primeira vez, o Cadastro de Pessoa Física (CPF) em Cachoeirinha, onde voltou a morar com a família depois de ser localizada pela Polícia Civil. A idosa nunca teve qualquer documento de identificação. Ela foi encontrada pela Polícia Civil na última terça-feira (31), após uma denúncia anônima de maus-tratos e situação análoga à escravidão.
À reportagem, a sobrinha da idosa, que prefere não ter o nome divulgado, relata que a ela está empolgada com a novidade e diz ter certeza de que o processo burocrático é "uma coisa boa" para a vida dela. Além do procedimento legal, a tia foi levada pela sobrinha a um salão de beleza para deixar os cabelos e as sobrancelhas bonitos para a foto da carteira de identidade.
— Temos uma nova cidadã no Brasil (risos) e com muito orgulho! São pequenas vitórias que a gente vai comemorando por ela e com ela. Ela é vaidosa e achou incrível o processo de pintar os cabelos em um salão — afirma a sobrinha de 44 anos.
Conforme a sobrinha, a idosa contou a ela que tinha o hábito de colorir os cabelos no espaço em que vivia no hotel, mas como o ambiente era precário em iluminação, ela acabava deixando o cabelo em más condições.
Ainda de acordo com a sobrinha, agora que a nova cidadã está com o CPF em mãos e aguardando a emissão do Registro Geral (RG), nesta semana ela será cadastrada no Sistema Único de Saúde (SUS), para ser vacinada e receber atendimento médico.
De pouco em pouco
O processo de adaptação da idosa está sendo gradativo e parentes estão marcando hora para encontrar a nova tia, que sempre foi conhecida por todos na família apenas pelas histórias contadas pelos mais velhos. Segundo lembra a sobrinha, os familiares que nasceram depois de 1979 e não chegaram a conhecer a idosa, colaboravam na busca por ela da maneira que conseguiam. Mas, como a idosa não tinha qualquer documento de identificação, nenhum parente conseguia encontrar registros dela nos órgãos públicos.
— Nós pedíamos que todos os primos procurassem porque crescemos ouvindo essa história e por muitos anos pensamos que ela estava na região de Encruzilhada do Sul. Várias vezes alguns conhecidos e familiares de outras cidades disseram que tinham visto ela de longe. Nós sempre beiramos o "quase". "Quase consegui chegar nela", "quase encontrei". Quando esse "quase" parou de chegar, nós pensamos que ela tivesse morrido — comenta a sobrinha.
Foi a partir desse momento que, em 2021, os familiares entraram em contato com o Instituto-Geral de Perícias (IGP), para fazer o registro oficial do desaparecimento com a entrega de material genético. A família acreditava que ela pudesse ter morrido e sido cadastrada no Instituto Médico-Legal (IML) como indigente.
Apesar da emoção e da felicidade pelo encontro ou reencontro deixar os familiares ansiosos em vê-la, aos poucos a nova e veterana integrante da família está sendo reapresentada para cada um. Os parentes reforçam que o essencial no momento é respeitar o espaço e tempo dela, para que não haja qualquer pressão.