Quando Rafael da Silva Pacheco, 42 anos, saiu para pescar com dois amigos em Guaporé na tarde de terça-feira (22), ele não imaginava o susto pelo qual passariam. O trio chegou ao Rio Guaporé, por volta das 13h. Pacheco diz que não conhece muito bem o lugar, mas que os amigos sim. Todos são moradores da cidade. O ponto escolhido fica perto da Central Geradora Hidrelétrica (CGH) Guaporé, pertencente à concessionária de energia elétrica CPFL, localizada na comunidade da Capela São Marcos.
Ele conta que já tinha pescado na barragem da hidrelétrica no último domingo. Só que, desta vez, eles foram por dentro do leito em uma parte rasa, em que passavam sobre as pedras até chegar a um poço, local escolhido para a pescaria. Passaram a tarde por lá. Contudo, ao anoitecer, foram surpreendidos porque o nível do rio começou a subir rapidamente.
— Fomos atravessar o rio, mas começou a encher rápido. Daí, eu disse: vamos embora. Um foi atravessar e não conseguiu e já caiu na primeira correnteza. Costeou a correnteza (desceu sendo levado pela água junto à margem) e ficou (conseguiu parar em um lugar). Aí, eu fiz uma ponte com meu corpo e falei para o outro vir por cima de mim, mas ele não quis passar. Disse que conseguia pular (de uma pedra na outra até a margem). Eu pulei e passei. Mas ele não conseguiu — relatou Pacheco.
Segundo Pacheco, todos trabalham com obras e foram pescar por diversão já que havia previsão de chuva. Perto do ponto onde estavam, existe uma escada de ferro que costeia um paredão do topo do barranco até dentro d'água e é utilizada pelas equipes da hidrelétrica. Eles cogitaram descer pelo rio sendo levados pela correnteza até essa escada para se segurarem nela e subirem. Mas, naquele momento, já estava muito escuro e a chance de passarem direto e não conseguirem alcançar a escada era grande. Nenhum deles tinha lanternas.
— Vai que não acha o ponto certinho e desce lagoa abaixo... Daí eu disse a eles que ia pedir ajuda. Nisso, o outro também caiu no rio. A sorte é que eu já tinha pegado as mochilas, celular, essas coisas. Acendi o celular e subi. Não conhecia muito. Mas sabia ir na casa do caseiro da hidrelétrica. Contei que meus amigos tinham ficado empenhados. E o rio estava subindo. Subiu um metro em segundos. Fiquei apavorado. Ele emprestou dois coletes e uma soga (corda grossa). Voltei lá, dei os coletes para eles e fiquei aguardando os bombeiros e iluminando — conta, referindo que o caseiro acionou os bombeiros enquanto ele voltou ao ponto onde estavam os amigos, que ficaram sobre uma pedra junto a uma parede de rocha de cerca de três metros de altura.
Nesse ponto, segundo Pacheco, o rio tem cerca de 20 metros de largura. Eles tinham atravessado já algumas vezes durante a tarde, o que se tornou inviável com o aumento do nível.
— Tomei um susto. Quando subi (para buscar ajuda) saiu até lágrima dos meus olhos. Eu estava com medo. Imagina acontecer alguma coisa com meus amigos. Podia pegar a soga, amarrava eles e subia. Mas não ia conseguir puxar eles sozinho. Eles sabem nadar. Só que não quis arriscar eles para atravessar o rio. Achei melhor chamar os bombeiros. Por precaução. Não tinha lanterna, nada. A gente podia ter caminhado um pouquinho mais e não ter passado aquele pavor ali — ponderou, considerando que poderiam ter ido em outro local.
Os bombeiros militares chegaram ao local em cerca de 15 minutos depois de serem acionados e resgataram a dupla com cordas. O trabalho durou em torno de uma hora e meia. Nenhum deles se feriu.