— Quero que quem leia essa entrevista pense "eu vou abrir oportunidade para todas as pessoas", a gente tem que trazer essa esperança da promoção da igualdade, da equidade.
Celebrado neste domingo (20), o Dia da Consciência Negra promove, através de ações, de debates e da arte, a conscientização também do racismo e da falta de igualdade entre pessoas de diferentes raças. A fala que abre esta reportagem é de Edson da Rosa, 58 anos. Ele foi o primeiro vereador negro eleito em Caxias do Sul, há não muito tempo: 2004. Também foi o primeiro presidente negro da Câmara dos Vereadores. Ele compartilha que a responsabilidade que carregou — e até hoje carrega — só foi sentida quando, de fato, foi eleito.
— (Entendo) que precisamos qualificar o espaço onde nós estamos. Pesa sobre você uma responsabilidade muito grande e eu fui ter o entendimento disso depois que me elegi, porque quando tu não faz parte da vida pública, as pessoas não têm noção. Não é porque tu não tem preconceito que ele não existe — comenta Rosa, que também foi secretário da Educação entre 2009 e 2011, no governo do ex-prefeito José Ivo Sartori.
O Dia da Consciência Negra, na visão do ex-vereador, só existe porque "ainda tem algo errado".
— Em 2022 nós temos que estar abordando esse assunto da diversidade étnica e estamos falando isso porque existe o preconceito. Temos que aumentar o exército de pessoas que não têm preconceito, mostrar que não existe essa diferença. Temos uma luta constante, atuar muito forte na educação — destaca Rosa, que acredita que, através da Educação, é possível deixar o racismo no passado.
Retorno do Corpo de Lanceiros Negros de Caxias
Agosto deste ano foi marcado pelo retorno do Corpo de Lanceiros Negros de Caxias. Após problema estruturais, o grupo retorna focado na atuação do resgate cultural e na elaboração de apresentação de temáticas do negro gaúcho, não só no município como fora dele.
Os Lanceiros Negros tiveram relevante papel na Revolução Farroupilha, quando reuniam-se em agrupamentos militares para o combate em troca de sua liberdade da escravidão e de seus senhores.
— Eles só tinham um ideal ali, que era a liberdade. A promessa de liberdade era o que motivava. Os Lanceiros são símbolo de resistência, de um ideal — defende um dos diretores, Sérgio Ubirajara.
O grupo municipal foi criado em 2007, a partir de uma temática do desfile da Semana Farroupilha. Após um longo período de pesquisa, foi a vez de somarem-se ao tradicional desfile da Festa da Uva do ano seguinte.
— A melhor coisa que poderíamos fazer para Caxias era tentar vivenciar um corpo de lanceiros negros que, até então, o Rio Grande do Sul ainda não havia feito — analisa Ubirajara.
Os Lanceiros de Caxias buscam manter o número de participantes na faixa das 50 pessoas, visto que este era o número de integrantes do corpo original. Ubirajara conta que, na época da Revolução, eram de 47 a 50 negros, indígenas e pobres — brancos, mas que pela renda, não se caracterizavam como tropa de elite.
Para José Moreira da Rosa, que também é do Conselho Municipal da Comunidade Negra (Comune), a presença dos Lanceiros em escolas, por exemplo, para contar sobre a história dos negros gaúchos é fundamental para acabar com o preconceito.
— Nós temos que colocar para as pessoas, para as escolas, que temos que falar sobre consciência negra não só no mês de novembro, temos que falar o ano inteiro — frisa Rosa.
Confira a programação da Temporada da Cultura Negra
Sábado (19)
10h - Projeto Semente Conquista e DJ Hood
11h - Performance artística do Grupo de Capoeira Liberdade
15h - Debate público: Quem tem direito a cidade? na Exposição fotográfica Ver o outro: As famílias senegalesas muçulmanas em Caxias do Sul. A importância do patrimônio negro na cidade, com convidados do poder público, movimentos sociais e das artes.
17h - Roda de Capoeira com crianças do Projeto Cultural Semeando Esperança Colhendo Vidas
Domingo (20)
10h - Roda de conversa Saberes e Fazeres com o Mestre Chocolate
11h - Performance artística com o Grupo de Capoeira Liberdade e com o Coro Expressões da Serra e Coro Municipal de Flores da Cunha – Regência: Cibele Tedesco;
15h - Roda de Conversa: A Capoeira como meio de integração racial – Rede de Mestres de Capoeira – Mestre Brasil.