Ensinar é um dom e quem tem essa capacidade enfrenta diversos desafios. Mas, acima de tudo, se sente recompensado por compartilhar conhecimento. Ser professor permite transformar a vida de pessoas ao seu redor. O amor por ensinar é inspirador e, muitas vezes, passa de pai para filho. Neste 15 de outubro, quando se comemora o Dia do Professor, a reportagem conta histórias de duas famílias que se dedicam a ensinar.
Presidente do Conselho Municipal de Educação de Caxias do Sul, Alvoni Adão Prux dos Passos, 55 anos, divide a paixão pela profissão com a esposa Fernanda Molin dos Passos, 49. Eles são pais da Mariana, 23, e Juliana, 20. A primeira decidiu seguir o caminho dos pais e se dedica ao magistério desde a adolescência. Na família de Olga Neri de Campos Lima, 57, aconteceu o mesmo: o filho mais velho escolheu a mesma profissão. Professora de Língua Portuguesa, Olga é casada com o também professor Austinho Antunes Lima Filho, 58, e mãe de Augusto, 36, e Rodolfo, 29.
A profissão é desafiadora e exige renovação constante, empenho e disposição para encarar novas questões, além de responsabilidade para transformar o aluno em uma pessoa mais preparada para o mundo. Os profissionais são alvos de violência, falta de recursos e desvalorização, e durante a pandemia tiveram que se reinventar, além de se sentirem sobrecarregados. Mesmo assim, conseguem estar presentes para "iluminar" e inspirar estudantes. Afinal, como dizia Cora Carolina: "feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."
Família de professores
Filho de agricultores, Alvoni nasceu em Criúva. Ele é casado há 30 anos com Fernanda. O casal se conheceu em uma festa junina, no distrito de Vila Seca. A inspiração para se tornar professor veio das aulas de psicologia de um curso auxiliar, quando estava no antigo segundo grau, hoje Ensino Médio. Na universidade, conheceu outra paixão: a história.
— Por influência de uma colega, principalmente, apaixonado pelos comentários que ela fazia em sala de aula, pela forma como ela se colocava e também pelo professor Valentim Lazzarotto, eu acabei trocando de curso e passei a cursar a Licenciatura Plena em História — conta.
Ele se formou em 1991 e foi trabalhar na rede particular, onde passou por várias escolas ao longo de quase 30 anos. Em 1998, entrou no serviço público municipal e foi lecionar na Escola Érico Cavinatto. Em 2002, fez pós-graduação em História e, em 2016, encerrou o mestrado e desenvolveu uma pesquisa sobre Criúva:
— É uma profissão que ajuda o outro, apoia e tem que estar em contato com as pessoas. Tive que romper com a minha timidez. O magistério me ajudou muito. Hoje falo em público e é uma coisa que me apaixona — destaca Prux.
"É uma profissão que ajuda o outro, apoia e tem que estar em contato com as pessoas. Tive que romper com a minha timidez. O magistério me ajudou muito. Hoje falo em público e é uma coisa que me apaixona."
ALVONI PRUX - PROFESSOR
Sempre juntos, no amor e na paixão por ensinar
Coordenadora pedagógica da Escola Municipal Afonso Secco, Fernanda nasceu em agosto de 1973. Na infância, ela estudou em uma escola no meio rural, onde alunos das turmas de 1ª a 4ª séries tinham aula na mesma sala, sendo atendidos por apenas uma professora.
— Na 4ª série tive dificuldades na matemática e a professora me despertou o "gosto" pela disciplina. A partir daquele momento, passei a ter muita facilidade. Ela conseguiu me mostrar que a matemática está na nossa vida e passei a ter um verdadeiro encantamento pela disciplina — recorda Fernanda.
No Ensino Médio, deixou Vila Seca e passou a morar com a madrinha, que era professora. Fez magistério no Instituto Cristóvão de Mendoza e, no começo do namoro, trocava experiências, angústias e fazia planos com Alvoni. Depois, cursou Pedagogia e possui especialização em Educação Inclusiva.
O último ano do curso superior foi bastante significativo em razão de ela estar grávida da primogênita Mariana. Em 1999, foi nomeada pelo município, onde atua até hoje. Três anos depois nasceu a caçula Juliana, que atualmente faz o curso de Estética. A mãe conta que isso não significa que ela estará distante da profissão, porque já mostra o desejo de no futuro trabalhar como professora na área de atuação dela. Fernanda integra, ao lado do marido, o Conselho Municipal de Educação:
— Mais uma vez, eu e o Alvoni, um ao lado do outro, seja em família ou na vida profissional. Sempre um acompanhando o outro. Para mim, ser professora é um projeto de vida, tudo o que sou e possuo é resultado dessa profissão. Todos os sonhos sonhados, vividos, todas as angústias, dúvidas, certezas e realizações passam pela jornada de 24 horas do ser professora.
Paixão que veio de casa
Filha mais velha de Alvoni e Fernanda, Mariana cresceu vendo os pais corrigirem provas e brincando com a irmã mais nova com um quadro verde que ainda tem em casa. Apaixonada por material escolar, adorava brincar com a caçula para quem dava aulas. Entre as lembranças mais marcantes está uma ida a uma escola onde Fernanda lecionava. Lá, ajudou uma de alunas que estava no processo de alfabetização, e, aos sete anos, viu despertar o desejo de seguir o caminho dos pais.
— A minha história com a educação começa muito antes do meu nascimento. Começou com as leituras durante a gestação, as "idas" à UCS na barriga da minha mãe, as leituras da faculdade... Diante disso, é evidente que a educação faria parte da minha história — destaca Mariana.
"A minha história com a educação começa muito antes do meu nascimento. Começou com as leituras durante a gestação, as "idas" à UCS na barriga da minha mãe, as leituras da faculdade... Diante disso, é evidente que a educação faria parte da minha história "
MARIANA MOLIN PRUX
Professora
No 9º ano já tinha traçado o futuro: iria para uma escola regular de Ensino Médio e, depois, estudaria Educação Física. Em uma conversa com a mãe, os planos mudaram e cursou magistério no Cristóvão. Em seguida, veio o estágio, o concurso público e, em 2019, a nomeação para o município. Hoje, a jovem leciona na Escola Professora Marianinha de Queiroz e faz pós-graduação em Alfabetização e Letramento.
— Meus pais sempre me mostraram a importância da educação para a formação de uma sociedade crítica, ativa e humana. Isso é muito gratificante, pois são pessoas que sempre me inspirei, admiro e seguirei admirando, tanto para o meu trabalho, quanto para os estudos e para a vida — reforça.
Entre leituras e poemas
Casada com o professor Austinho e mãe de Augusto, que é professor, e de Rodolfo, que é engenheiro, Olga teve o primeiro contato com a poesia ao ler As Primaveras, de Casemiro de Abreu, livro que era da mãe dela e mantém até hoje. Ela conta que a mãe declamava poemas e o pai lia muito, tanto jornais quanto livros, e desde muito cedo adquiriu amor pelas letras. Mesmo assim, chegou a pensar em cursar Direito por influência do pai, que dominava a legislação. Isso mudou ao ser aluna da professora Terezinha Ruzzarin, no Ensino Médio, quando se apaixonou por Machado de Assis.
Cursou letras e se encontrou na linguagem ao perceber que é uma ferramenta para todas as áreas do conhecimento. Atuou por 35 anos em escolas privadas e públicas, no Ensino Superior e em curso pré-vestibular. Nos últimos anos da carreira, passou unicamente a ser professora de Literatura.
— Hoje eu sou uma professora muito feliz, eu só trabalho 20 horas. Pra quem teve 60 horas, com aulas pela manhã, tarde e noite durante boa parte da minha vida, isso é muito bom, porque eu não levo todo o trabalho para casa. A gente se envolve muito e somos importantes para as crianças, adolescentes e adultos também, mas massacra muito porque, depois de um dia extenuante, tu ainda tens uma demanda de trabalho que vai para dentro da tua casa, que é toda a atividade de planejamento das aulas — aponta.
Atualmente, ela está na biblioteca do Caldas Júnior, onde faz contação de histórias:
— Quando tu lês uma história, um conto ou poesia e tu percebe no olho do aluno como aquilo é fundamental naquele momento pra vida dele, para se encontrar como pessoa, essa é a maior gratificação que a gente recebe — diz.
"Quando tu lês uma história, um conto ou poesia e tu percebe no olho do aluno como aquilo é fundamental naquele momento pra vida dele, para se encontrar como pessoa, essa é a maior gratificação que a gente recebe."
OLGA NERI DE CAMPOS LIMA
Professora
Administração trocada pela sala de aula
Austinho nasceu em Lages (SC) e lecionou em escola pública e privada. Licenciado em Química, ele cursava Administração, mas trocou de curso em 1998. Atualmente, está em licença saúde depois de sofrer um acidente de bicicleta. Ao seguir o caminho da esposa, as conversas sobre a educação se tornaram frequentes. Com um olhar humano, ficavam atentos aos que mais precisavam do amparo e cuidado de um professor. O casal se conheceu quando Olga era candidata à rainha da Escola Estadual Abramo Randon.
— Ela estudava de dia e eu à noite. Somos casados há 39 anos. Entre namoro e noivado, são 43 anos. Embora eu tivesse trabalhado em outra área desde muito cedo, sempre admirei meus professores. Inclusive, meu primeiro emprego foi uma professora que conseguiu para mim — recorda Austinho.
Para ele, é um orgulho fazer parte de uma família que tem uma profissão tão importante para a sociedade:
— Imaginava poder ser tão importante para outros jovens como os meus professores foram para mim. Sempre fui um professor divertido e brincalhão. Tivemos o prazer, eu e a Olga, de ter um filho professor e de sermos professores de nosso filho engenheiro, Rodolfo. Isso mostra que, sem professores, não existiriam outros profissionais fundamentais para a sociedade.
Educação transforma vidas
Filho de Austinho e Olga, Augusto é licenciado em Educação Física e pós-graduado em Psicomotricidade Educacional. Trabalhou em duas escolas da rede privada e há noves anos é professor no Colégio La Salle:
— Ser filho de pais professores, com certeza, influenciou na minha escolha, pois sempre tive orgulho da trajetória deles e acredito que ser professor possibilita ter a certeza de que todos os dias você contribuirá positivamente para mudar a vida de alguém. Além de que a educação é fundamental para mudarmos e deixarmos um mundo melhor para nossas próximas gerações.
Pai de Otávio, seis, ele se descreve como um sonhador e também é sócio proprietário de uma empresa de tecnologia, representações, saúde e esporte:
— Sem sonhos não há educadores e empreender nessa área é acreditar que muitos de nossos sonhos e projetos podem tornar melhor a vida das pessoas.