Importante ferramenta utilizada na pandemia, a telemedicina se estabeleceu em Caxias do Sul passado o período mais grave de transmissão do coronavírus. Popularizada, inicialmente, para reduzir a circulação de pessoas nos ambientes de saúde e, consequentemente, frear o contágio da doença, a prática continua sendo oferecida pelos planos de saúde da região, a partir de diferentes recursos, além de receber investimento por parte de instituições de ensino.
É o caso da Universidade de Caxias do Sul (UCS), que lançou na semana passada a fase dois do chamado Centro de Saúde Digital. Na ocasião, houve a apresentação do aplicativo UCS Saúde, no qual usuários recebem monitoramento de funcionalidades corporais e podem realizar consultas em ambiente virtual, sem precisar sair de casa.
Coordenador do Centro, o vice-reitor da UCS, Asdrubal Falavigna, explica que o serviço se baseia na chamada medicina de precisão, levando em consideração as especificidades de cada pessoa. É um atendimento remoto, mas personalizado. Funciona assim: além de permitir a interação por chat e vídeo com a equipe de profissionais da saúde, o aplicativo pode ser integrado com outros dispositivos sem fio, como aferidores de pressão, medidores de oxigenação e de glicose. Também é possível ter acesso ao número de passos e ao peso corporal.
Estas informações, então, são acessadas pela equipe da Central Remota, que consegue fazer o monitoramento do paciente e identificar qualquer anormalidade no quadro de saúde. Se necessário, o usuário é orientado a buscar um pronto-atendimento para receber uma avaliação presencial.
— É uma maneira de conhecermos integralmente o paciente. E não só pelo que ele me transmite, falando comigo, dizendo que está bem, como também por meio de sensores conectados a esses dispositivos. São informações fiéis de funcionalidade do corpo — detalha o vice-reitor.
O serviço é direcionado para qualquer pessoa que deseja ter esse acompanhamento remoto. Contudo, o coordenador do Centro de Saúde Digital lista alguns perfis de pacientes que podem ter bastante êxito no monitoramento:
— Pacientes cirúrgicos, no pré e pós-operatório; pacientes crônicos, que são aqueles que frequentemente vão ao pronto-socorro e são internados no hospital. Há doenças, como diabetes e hipertensão, que são muito melhores de monitorar o paciente e mantê-lo equilibrado do que esperar descompensar e ter que internar no hospital — avalia Falavigna.
Inicialmente, o serviço do Centro de Saúde Digital é oferecido de forma particular, mas há expectativa de ampliação futura para pacientes de convênio e do Sistema Único de Saúde (SUS). O atendimento é feito por profissionais de áreas como Enfermagem, Nutrição, Medicina, Fisioterapia e Psicologia.
Atendimento com médicos de todo o Brasil
As operadoras de saúde também têm feito investimentos e ampliado o leque de atendimentos para atender a uma demanda que é considerada crescente. Aliar a tecnologia ao dia a dia da medicina é tido como um caminho irreversível, principalmente diante da experiência propiciada pela pandemia. No Fátima Humana Saúde Sul, antigo Fátima Saúde, por exemplo, a telemedicina é uma aposta que foi ampliada a partir da compra da operadora por um grupo nacional, em 2021. O serviço vem sendo apresentado aos usuários desde abril e a receptividade tem sido boa, conforme o responsável pelo marketing em Caxias, Leonardo Vivan.
Embora recente e sem dados locais consolidados, a percepção é de que o perfil de quem busca a consulta por meio digital é qualquer pessoa que tenha um pouco de intimidade com a tecnologia, sem limite de idade. Também há aqueles que viajam costumeiramente e que apreciam a segurança de ter o atendimento médico em qualquer lugar que estiverem, com a única exigência de acesso à internet. O serviço, com médicos de diferentes partes do país, é acessado por meio de um aplicativo de celular, que é baixado gratuitamente.
— Na nossa telemedicina, temos o pronto-atendimento, de urgência e emergência, e temos as consultas eletivas. Se você precisar de uma consulta com psicólogo, por exemplo, vai ter um grupo de médicos que podem te atender. As consultas podem ser agendadas. E é importante dizer que são médicos que atendem exclusivamente a telemedicina — explica Vivan.
O serviço a distância vem sendo aplicado há mais tempo na operadora caxiense. Em 2020, o plano ofertava o chamado telemonitoramento, dedicado, principalmente, a quem estava infectado ou apresentava sintomas de covid-19. Naquela época, auge da transmissão, os chamados chegavam a quase cem por dia, via ligação telefônica. Hoje, esta demanda diminuiu tendo, no último mês, cerca de 40 atendimentos no total.
"As estruturas presenciais, de forma geral, já não dão mais conta de atender a toda demanda"
O Círculo Saúde também caminha para a abrangência cada vez maior do seu serviço de telessaúde. No período mais crítico da pandemia, a operadora contabilizava cerca de 400 atendimentos mensais pelo chamado telemonitoramento médico. Hoje, a intenção é ampliar o número de beneficiários que tenham acesso à plataforma de teleconsulta.
— Atualmente, o serviço (telemonitoramento) segue sendo utilizado, mas com uma média menor de utilização, em torno de 300 atendimentos por mês. As buscas pelo serviço são de 50% por sintomas gripais e 50% por outros sintomas gerais. Já o acesso à plataforma de teleconsulta, através de link, está em processo de implantação, em toda a operadora e em todas as regiões. Já iniciamos o cronograma e estamos implantando gradualmente — diz a diretora de Operações de Saúde do Círculo, Isabel Bertuol.
Isabel avalia que os serviços remotos favorecem à abrangência no atendimento e facilitam o acesso dos usuários. Para ela, um dos desafios a serem superados é o estabelecimento de vínculo e contato humanizado dos profissionais com o paciente. Outros profissionais ouvidos pela reportagem também acrescentam que alguns pacientes, principalmente os de mais idade, ainda são resistentes ao atendimento a distância — nestes casos, os relatos são de que a presencialidade transmite mais "confiança".
— A telessaúde, em todas as suas modalidades, será o futuro para atingirmos o acesso aos serviços para toda a população nas demandas que apresentarem, especialmente nos modelos de atenção primária, medicina preventiva e alcance em áreas com poucos profissionais locais. As estruturas presenciais, de forma geral, já não dão mais conta de atender a toda demanda — analisa.
O Círculo também disponibiliza na central de serviços de saúde, em Farroupilha, e no hospital de Caxias do Sul um totem, que permite consultas online. O atendimento ocorre por meio de um monitor, com o suporte das equipes de atendimento que trabalham nos locais.
Regulamentação da prática
A Resolução 2.134/2022 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que define e regulamenta a telemedicina no Brasil, entrou em vigor no dia 5 de maio. A telemedicina não se resume à teleconsulta. Ela é apenas uma das sete modalidades definidas pela resolução que entrou em vigor. As demais são teleinterconsulta (quando médicos consultam outros médicos), telediagnóstico (envio de laudos de exames aos médicos), telecirurgia (mediada por robôs), telemonitoramento (o acompanhamento da evolução clínica do paciente), teletriagem (regulação do paciente para internação) e teleconsultoria.