Interditado há três anos, o prédio histórico do antigo Lanifício Sehbe de Galópolis, em Caxias do Sul, poderá receber recursos privados para ser reformado e voltar a ser ocupado pela comunidade. A estrutura em um dos vilarejos mais simbólicos da cidade será concedida pelo poder público para investidores por meio de parcerias público-privadas, as chamadas PPPs, uma medida que está em fase avançada para o serviço de iluminação pública, o Complexo da Maesa, os pavilhões da Festa da Uva e a Estação Férrea, entre outros espaços administrados atualmente pela prefeitura.
A inclusão do imóvel público em Galópolis no programa de PPPs foi aprovada na semana passada pelo Grupo Gestor das Parcerias Público-Privadas, um conselho formado por secretários e sociedade civil para coordenar as iniciativas do município em conceder os espaços para investidores. Com o aval do grupo, segundo o secretário extraordinário de Parcerias Estratégicas, Maurício Batista da Silva, começará a ser feito um diagnóstico para detalhar a situação atual da estrutura e definir o que será preciso fazer em investimentos para que o prédio volte a ser ocupado.
Após, de acordo com ele, o município definirá qual o modelo de concessão mais adequado. Existem duas opções: a iniciativa privada fará a revitalização e a manutenção do espaço em troca de obtenção de receitas com atividades ou se o município pagará a empresa para administrar o espaço em troca de contrapartidas. Em seguida, é feita a estruturação do projeto em si, a fim de captar investidores, que levará em torno de cinco a seis meses.
Por fim, antes do projeto ser encaminhado para licitação, é necessário realizar consulta e audiência pública, além de obter autorização do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A Câmara de Vereadores também precisará aprovar a licitação. Todo esse processo, de diagnóstico, estruturação e aprovação, deve levar em torno de um ano.
Segundo o secretário, uma solicitação da comunidade é que o prédio possa abrigar a Associação de Moradores do Bairro (Amob) e outros serviços que eram realizados na estrutura antes da interdição. Batista afirma que a sugestão será considerada nos estudos e que o formato da ocupação buscará, primeiramente, recuperar e preservar o patrimônio.
— O nosso objetivo é que, independente de quem venha, faça a reforma de todo o espaço e ceda uma parte para a associação. Mas que essa reforma independa da forma de uso. O prédio não é tombado, mas existe o interesse do município em preservar a estrutura. Existe uma história associada àquele ativo. Vamos pensar em um processo que a gente consiga entender a manutenção da estrutura, a relação com o patrimônio e também a vocação da região — afirma o secretário.
Prédio foi inaugurado em 1898
O prédio do antigo Lanifício Sehbe possui 1.770 m² e três pavimentos. Conforme o Arquivo Histórico Municipal, a estrutura foi inaugurada em 29 de janeiro de 1898. Na época, era uma pequena tecelagem que, sem sucesso industrial, foi vendida em 1907 e transformou-se no Lanifício Chaves Irmãos e Cia.
Em 1979, a fábrica foi adquirida por outro grupo e passou a se chamar Lanifício Sehbe S/A. Dentro do complexo de três andares há um salão nobre. Em 2019, o prédio foi interditado pelo Corpo de Bombeiros por conta das más condições da rede elétrica. No mesmo ano, o município já havia informado que não teria condições financeiras para efetuar obras. O espaço segue sem rede elétrica porque os disjuntores foram retirados para que não houvesse risco de incêndio.
Sem sediar nenhuma atividade, o prédio está em um estado precário de conservação. Para voltar a ser ocupado, são necessários investimentos de reforma da estrutura, valores que o município não dispõe. Por isso, a inclusão no programa de parcerias. Batista disse que não há valores atualizados de quanto seria necessário investir para reformar o prédio. Mesmo não sendo tombado pelo patrimônio histórico, a concessão deverá estabelecer critérios que levem em conta a preservação do espaço.
— Existem estimativas passadas pela própria comunidade (de valor de investimento na reforma), mas que a gente precisa ainda balizar. Vamos avaliar um número razoável, dentro da técnica, da engenharia, de que o investimento previsto possa ser suportado pela receita que o prédio possa proporcionar — explica.
As chaves da estrutura estão com a presidente da Amob Galópolis, Maria Patrício Pinto. Os investimentos públicos na estrutura são aguardados há 11 anos, mas nunca chegaram. Agora, com o anúncio da inclusão do prédio no programa de parcerias, ela acredita que, enfim, o simbólico prédio voltará a receber a comunidade.
— É uma luta de anos e temos esperança que essa notícia represente melhorias para quem mora em Galópolis — afirma ela, que participou da reunião com o conselho que aprovou a intenção da concessão.
Maria e uma arquiteta são as únicas moradoras que são autorizadas a entrar no local após a interdição. Além da Amob, ela deseja que o prédio volte a hospedar o Clube de Mães e a Organização Não-Governamental (ONG) Associação de Animais do Bairro Galópolis, que estão sem realizar atividades desde 2019.