Para marcar o Dia Mundial contra Hepatites Virais, comemorado nesta quinta-feira (28), o Serviço de Infectologia de Caxias do Sul amplia a busca ativa a pacientes que abandonaram o tratamento da doença. Segundo levantamento, hoje, 15% dos pacientes que acessaram os serviços do Ambulatório de Hepatites Virais e têm diagnóstico de hepatite C e 25% das pessoas diagnosticadas com hepatite B em 48 cidades da Serra deixaram de realizar o acompanhamento da doença. Com a intenção de reverter esse quadro, as equipes de Caxias estão acionando as secretarias municipais de Saúde das cidades atendidas, para que esses pacientes retomem o tratamento.
O serviço é intensificado durante o Julho Amarelo, mês dedicado a conscientizações sobre a doença. O objetivo da busca ativa é atingir a cura e prevenir complicações da enfermidade, que, se não for tratada, pode levar à cirrose e ao câncer de fígado. Em Caxias do Sul, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), 3.133 casos confirmados de hepatites virais, de 2011 a 2021.
A gerente do Serviço Municipal de Infectologia de Caxias, Grasiela Cemin Gabriel, lembra que em 2019 a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) lançou uma iniciativa para eliminar as hepatites virais até 2030.
— Temos muitos pacientes não só de Caxias, mas na região da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, que muitas vezes, foram diagnosticado e abandonaram o tratamento. Essas pessoas buscaram atendimento, vieram para a consulta e por conta até da pandemia, pela falta de transporte, deixaram de fazer esse acompanhamento — ressalta a gerente.
A cada ano ocorrem cerca de 67 mil novas infecções e 84 mil mortes nas Américas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Essas mortes podem ser evitadas, uma vez que os antivirais podem curar mais de 95% das pessoas infectadas com hepatite C. Também há 10 mil novas infecções virais por hepatite B e 23 mil mortes anualmente, mas apenas cerca de 18% das pessoas que vivem com a doença foram diagnosticadas e só 3% delas estão recebendo tratamento. Grasiela alerta os pacientes da região a procurarem o Ambulatório de Hepatites Virais que funciona junto ao Centro Especializado de Saúde (CES) ou os serviços de saúde dos municípios para retomar o tratamento.
— Se pensarmos que a hepatite C tem uma alta taxa de cura para quem se trata e é um tratamento simples e curto de 12 semanas, temos que focar nessas pessoas, pensando na estratégia de eliminação. A ideia é evitar que elas tenham uma cirrose ou um câncer e também que transmitam essas doenças a outras pessoas. A hepatite B também precisa ser monitorada e ver há necessidade de tratamento, que uma vez iniciado é para a vida toda. Essas pessoas deviam estar sendo monitoradas e acompanhadas pelos serviços de saúde — explica Grasiela.
Entre as estratégias para prevenir a doença estão a vacinação para os tipos A e B, a oferta de testes rápidos e o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), bem como orientações sobre a doença e sobre os recursos disponíveis no serviço público que são repassadas nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
Hepatites
As hepatites virais são doenças provocadas por vírus que provocam a inflamação do fígado e podem manifestar-se de maneira aguda ou crônica. A aguda pode ocorrer em qualquer um dos cinco tipos de hepatites virais por um período de sete a 10 dias. O paciente apresenta sintomas gerais, como cansaço, falta de apetite, febre e náuseas. Já a fase crônica acontece quando o paciente não se cura da doença em até seis meses. A principal característica é não apresentar sintoma, sendo que as hepatites crônicas representam um grande risco porque evoluem de forma silenciosa e o paciente só percebe alguma manifestação quando a doença já está em estado avançado e com pouca chance de cura.
Hepatite A
É provocada por um vírus de transmissão oral-fecal, sendo que a contaminação é por meio de água ou de alimentos contaminados e eliminado pelas fezes. É uma doença autolimitada, que não é curada com medicamentos e que se apresenta de forma aguda, não tendo potencial para se tornar crônica e pode não apresentar nenhum sintoma. Pode-se prevenir basicamente com medidas de higiene, como lavar bem as mãos e os alimentos.
Hepatite B
Ocorre por transmissão sanguínea que, em adultos, ocorre basicamente por relações sexuais desprotegidas ou exposição ao sangue contaminado. É considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST) e, em 90% das vezes, também pode transmitida por mulheres grávidas para os recém-nascidos. Pode se tornar crônica e evoluir para cirrose ou até mesmo câncer. Para evitar essa evolução, é necessário, na maioria das vezes, fazer acompanhamento e tratamento contínuo para o resto da vida.
Hepatite C
É considerada problema de saúde pública pela frequência e porque se torna crônica em 80% dos casos. Tem transmissão sanguínea e é mais comum em pessoas que tenham feito transfusão de sangue antes de 1993, usuários de drogas ou que tenham compartilhado o uso de objetos cortantes. Em alguns casos também pode ser transmitida por relações sexuais desprotegidas. É uma doença silenciosa, que raramente apresenta sintomas e, por isso, na maioria das vezes é diagnosticada somente quando já está em estágio avançado
Hepatite D
É considerada rara no Rio Grande do Sul, sendo mais frequente na bacia amazônica. O vírus D depende do B para sobreviver, então, normalmente a pessoa contaminada tem os dois tipos de hepatite. É considerada grave e tem grande possibilidade de evoluir para cirrose e câncer.
Hepatite E
A doença é semelhante à hepatite A, e rara no Brasil. Ela pode se tornar crônica em pacientes imunodeprimidos, principalmente os que já realizaram transplante.
Prevenção
:: Usar preservativos em todas as relações sexuais.
:: Não compartilhar objetos como escovas de dentes, lâminas de barbear ou de depilar, seringas e agulhas, cachimbos e canudos (caso de usuário de drogas), materiais para fazer tatuagens e piercings.
:: Utilizar material de manicure individual ou esterilizado.
:: Para a hepatite B também é realizada a vacinação preventiva, com a aplicação de três doses. Ela é gratuita, faz parte do calendário de vacinas do Ministério da Saúde e está disponível para todas as idades nas Unidades Básicas de Saúde. Já a vacina contra hepatite A é aplicada em crianças de 15 meses a 5 anos incompletos.
Tratamento
:: O tratamento para as hepatites B e C é oferecido pelo SUS, sendo que pacientes com o vírus B devem fazer tratamento contínuo pelo resto da vida. Já a hepatite C é tratada e curada, em mais de 95% dos casos, com a administração de um único comprimido diário, durante 12 semanas.
:: O Serviço Municipal de Infectologia conta com o Ambulatório de Hepatites Virais, que oferta assistência especializada para pacientes com diagnóstico confirmado de hepatites B e/ou C.
:: Funciona junto ao Centro Especializado de Saúde (CES), 1° andar, localizado na Rua Sinimbu, nº 2.231, de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h.
:: Como procurar: de forma espontânea ou por meio de encaminhamento via UBS.
Locais para Testagem:
:: Unidades Básicas de Saúde
:: Centro de Testagem e Aconselhamento (junto ao Serviço Municipal de Infectologia no CES, na Rua Sinimbu 2231, 1º andar)
:: Horário: 7h às 15h (segunda a quinta-feira) e 7h às 14h (sexta feira)