Pensada para que a comunidade possa se apropriar do local com atividades de lazer e convivência e também com o propósito de amenizar problemas de segurança na região, o projeto de revitalização da Estação Férrea, em Caxias do Sul, prevê a recuperação de espaços existentes, instalação de novas estruturas e reforço na iluminação ao redor dos trilhos. A proposta é que um dos cartões-postais da cidade, símbolo do desenvolvimento do município no início do século passado, seja um exemplo de preservação do patrimônio histórico e permita que o município conceda, futuramente, o espaço para a iniciativa privada.
O edital de licitação para a contratação da obra foi lançado em junho e os envelopes com as propostas serão abertos no dia 5 de agosto. A intervenção na Estação Férrea deve custar quase R$ 6,9 milhões. Metade do valor, R$ 3,5 milhões, serão pagos com recursos do governo do Estado, por meio do programa Avançar no Turismo. Em contrapartida, a prefeitura investirá cerca de R$ 3,4 milhões. Inicialmente, o montante repassado pela prefeitura seria de 30% do valor da obra, mas reajustes nos preços dos insumos forçaram o aumento, segundo o Executivo.
O projeto das obras contempla mobiliário urbano, jardim, revitalização da esplanada da Estação e da Rua Augusto Pestana, a construção de uma concha acústica com arquibancada que utiliza o declive do terreno para permitir menos intervenção no terreno, além da construção de banheiros, drenagem pluvial, iluminação em LED e a construção de uma escadaria que permita acesso ao complexo pela Rua Marechal Floriano — o que atualmente não é possível.
O pacote de melhorias foi aprovado nos órgãos reguladores de patrimônio, como o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae). Os primeiros estudos iniciaram em 2005 e somente nos últimos anos o município conquistou as aprovações e os recursos necessários para o investimento.
— É uma revitalização que fortalecerá a vocação cultural e turística desse ponto da cidade, fazendo com que se torne um espaço de convivência e lazer para a comunidade — afirmou a secretária de Planejamento, Margarete Bender.
A partir do início das obras, segundo a titular da Seplan, os trabalhos devem se estender por oito a 12 meses. As intervenções que serão contratadas agora, segundo a secretaria, não vão envolver prédios existentes no largo, como a Estação Férrea, Biblioteca Parque e a Casa do Mestre de Linha. Futuramente, o município realizará ações para garantir a manutenção dessas estruturas.
Também mais adiante, a prefeitura de Caxias pretende formalizar uma parceria público-privada para administrar a área da Estação Férrea, incluindo também as praças do Trem e das Feiras. A revitalização faz parte do plano, que ainda inclui um projeto maior envolvendo a extensão da antiga linha férrea de São Pelegrino até Forqueta, chamada de Parque Linear. A ideia é criar um grande espaço de convivência seguindo o antigo trajeto do trem. Se estuda, ainda, a implantação de uma linha de veículo leve sobre trilhos (VLT).
Saiba como serão as estruturas:
A reportagem do Pioneiro conversou, na segunda-feira (18), com a secretária municipal do Planejamento (Seplan), Margarete Bender, e com o arquiteto João Henrique Ramos, também da Seplan, que explicaram como será a instalação de novas estruturas ou revitalização dos espaços a partir do plano para a Estação Férrea.
Concha acústica e arquibancadas
Foi uma das últimas estruturas a serem incluídas no projeto de revitalização, segundo o arquiteto João Henrique Ramos. O servidor da Secretaria Municipal do Planejamento (Seplan) acompanha as tratativas do projeto desde o início da concepção do processo, em 2005.
A concha acústica ficará instalada no lado esquerdo para quem chega na Estação. A ideia é que o local concentre manifestações artísticas, atendendo a demanda da comunidade cultural, e preserve a característica do bairro São Pelegrino na realização de eventos de entretenimento.
— Ela se insere na lógica de que a Estação precisa conter elementos que sejam atrativos e demande atividades para que, quem se aproprie, absorva conhecimento disso. Estamos falando de um espaço que faz parte da história da cidade e tem elementos que podem ser descobertos — explica a secretária Margarete Bender.
Para evitar grandes movimentações de terra, a região escolhida para abrigar essa estrutura possui uma superfície inclinada, chamada de talude, onde será instalada a arquibancada permanente para receber o público.
O desenho do palco, segundo o projeto, tem inspiração em antigas locomotivas. A frente da estrutura será executada em concreto e revestida com chapas de aço de acabamento enferrujado e aplicação de verniz incolor. A referência ao universo dos trens fica mais clara na utilização de perfis estruturais em formato de “I” na estrutura de cobertura, colocados de forma mais livre. Os mesmos perfis aparecem em estruturas de sustentação vertical para iluminação e equipamentos de som.
Sobre a acessibilidade, duas rampas laterais garantem acesso universal ao palco, aos camarins e sanitários, que ficam na parte dos fundos do conjunto. A laje do palco será executada em concreto armado, as paredes em blocos de concreto rebocados. A cobertura será em telhas metálicas.
O acesso será feito por uma escadaria interna e rampa de acessibilidade.
Praça com fonte de água
A entrada na Estação Férrea será em uma nova praça, que será construída dentro do complexo. O espaço contará com uma fonte d’água, bancos e bebedouros.
A fonte será interativa, segundo o arquiteto João Henrique Ramos, com iluminação especial para chamar a atenção dos visitantes. Essa praça ficará instalada entre o prédio atualmente ocupado pela Secretaria Municipal de Cultura e o primeiro armazém, bem próximo ao cruzamento com a Rua Coronel Flores.
O espaço tem atualmente uma caixa d’água metálica, que será restaurada e permanecerá no espaço.
Deques na Augusto Pestana
Na Rua Augusto Pestana, entre as ruas Coronel Flores e Marechal Floriano, a via receberá uma área com a presença de cinco deques de madeira, com a presença de bancos, em uma estrutura também chamada de mini praças.
Os pontos serão posicionados no meio da rua, que seguirá em sentido único na circulação de veículos. O formato será de parklet, mobiliário presente em diferentes pontos de Caxias do Sul, permitindo local para descanso. Eles ficam instalados no espaço de uma vaga de carro (2m x 5m). O nome faz trocadilho com o ato de estacionar ("parking", em inglês) e parques ("parks").
Dessa forma, com a revitalização, o estacionamento de veículos no local não será mais permitido. Essa é uma das principais reivindicações dos moradores do entorno após casos de perturbação e violência na Estação Férrea. O trecho seguirá em paralelepípedo, uma vez que a via também é tombada pelo patrimônio histórico. Haverá ainda a ampliação do passeio público.
Revitalização do terminal graneleiro
É uma estrutura pouco conhecida da comunidade porque não é acessível e que deverá ganhar mais visibilidade a partir da revitalização. A estrutura metálica poderá ser acessada pela Rua Marechal Floriano. Segundo o arquiteto João Henrique Ramos, o local possui um duto, onde os grãos passavam no trajeto até os vagões dos trens.
— A ideia é que as pessoas possam ter acesso a esse terminal graneleiro e vejam, como forma de aprendizado, como era o transporte na época — destaca o arquiteto.
Esplanada e demais mobiliários
A área atualmente ocupada como estacionamento de veículos, na parte interna da Estação Férrea, será chamada de esplanada. O local será pavimentado com basalto e diferentes árvores a serem plantadas. O espaço também receberá vegetação e arbustos. Os trilhos do trem seguirão com pedras britas. Haverá ao menos três espaços de banheiros.