Para além dos grandes centros urbanos como Caxias do Sul, os casos de vandalismo e furto em cemitérios se tornaram rotina em pequenas comunidades do interior, em municípios na Serra. Nem a memória aos que já se foram escapa dos atos. Em Carlos Barbosa, uma moradora presenciou um cenário de depredação ao visitar túmulos de familiares no cemitério da comunidade de Arco Verde. Só no município, esse e outros três cemitérios comunitários foram alvo nas últimas três semanas. Situação que se repete em diversas localidades.
— Tinha fotos no chão, caminhando mais, vi que tinha sido furtado várias coisas. Muitas pessoas ao chegarem no cemitério no dia ficaram emocionadas, choravam em ver o que tava acontecendo, toda essa depredação, e pensando que as pessoas não têm nem mais respeito com os mortos, que são nossos entes queridos — relatou a comerciante Caroline Zarpelo.
No município de Boa Vista do Sul, pelos menos 85 jazigos foram depredados no cemitério da comunidade de São Luiz de Castro. Garantir a segurança dos espaços é tarefa delicada, já que a maioria dos cemitérios, principalmente no interior, não têm fiscalização. Em Gramado, um zelador cuida dos cemitérios que ficam no bairro Lago Negro, mas apenas durante o dia. Mais de 80 sepulturas foram alvo de vandalismo no início do mês.
— Até então, nunca tinha acontecido, mas o nosso cemitério é aberto, ele não tem segurança. Não é uma invasão, ele tem livre acesso e tudo isso vai levar um tempo com essas melhorias que vamos fazer que vão nos dar a condição de ter segurança ali — declarou a secretária da Cidadania de Gramado, Vera Simão.
Sem certeza do que vão encontrar ao visitar o túmulo de amigos e familiares, moradores se organizam para consertar as sepulturas, mesmo sabendo que nem tudo pode ser reconstruído.
— Do meu vô, a gente foi lá não tinha mais fotos, não tinha mais letras. É muito triste de ver e não sei se a gente vai ter uma foto uma coisa para por no lugar — completou a moradora de Carlos Barbosa.
A Polícia Civil investiga os casos e busca identificar os suspeitos e também quem alimenta esse tipo de crime. Até agora, ninguém foi preso.
— Quando ocorre em pouca quantidade, em pouco número de ocorrências, ela se dá por furtadores ou por pessoas ao acaso que buscam o lucro imediato com a venda e o repasse dessas mercadorias para receptadores, reciclagem, ferros velhos ou pessoas que lidam com esse material. Agora, quando nós temos uma incidência maior, casos de número mais elevado e que acontecem em diversas cidades da região, isso nos permite, nos autoriza, a pensar que existe uma estrutura um pouco mais organizada que está interessada na compra e na receptação desses objetos que são subtraídos — pondera Augusto Cavalheiro Neto, delegado regional de Caxias do Sul.