Sem asfalto e com trânsito constante de veículos pesados, os caminhos que ligam os municípios de São José dos Ausentes, Bom Jesus e São Francisco de Paula se tornaram ainda mais desafiadores para os moradores e visitantes. As fortes chuvas registradas nos últimos dias pioraram ainda mais a condição das estradas, que já necessitavam de melhorias. Para os motoristas, a situação agora é de calamidade.
Além de prejudicar a economia, uma vez que o turismo vem crescendo na região e depende das boas condições para deslocamento, a falta de infraestrutura faz com que os moradores pensem duas vezes antes de sair de casa, mesmo para questões básicas do cotidiano.
Produtor rural e dono de uma pousada em Bom Jesus, Paulo Rogério Flores de Sousa convive diariamente com o transtorno de se deslocar de um ponto a outro e lamenta que a situação interfira na rotina de quem precisa transitar pela região.
— Nos últimos seis meses a gente tem enfrentado muitos problemas com as estradas, só que agora chegou um tempo que ficou insustentável. Na localidade de Capão do Tigre e Mangueira Nova, a gente tem algo em torno de 60, 70 famílias que não conseguem se deslocar pra ir a médicos ou fazer compras — revelou o empreendedor à reportagem do RBS Notícias.
Para que a situação não se agrave ainda mais, os usuários das estradas pedem, além da manutenção, que é de responsabilidade das prefeituras, que sejam fiscalizados os limites de peso transportado pelo caminhões. Diariamente, veículos de grande porte carregam principalmente toras de madeira o que, para Sousa, vai além do limite suportado pelos trechos de chão batido. Segundo ele, as medidas adotadas para dar melhor condições ao escoamento desse tipo de material acabaram por prejudicar o tráfego de veículos de passeio.
— Não é nada contra o escoamento das toras e sim ao limite das estradas. Numa medida paliativa pra caminhões continuarem trafegando, colocaram pedras que rasgaram o pneu de uma contribuinte e estragou o tanque de gasolina de outro — reclamou.
Em São Francisco de Paula, a situação motivou a criação de uma associação que luta por melhorias para os cerca de 30 quilômetros não pavimentados da RS-110. Mantido pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), o trecho é vital para o escoamento da produção e o transporte de estudantes. De acordo com o pecuarista Jonas Reis Fonseca, o barro, os buracos e a água acumulada nessa semana impossibilitaram que o transporte escolar buscasse os estudantes na quinta-feira (23).
— Está intransitável, a Kombi escolar não conseguiu passar. A gente tem uma produção pecuária muito grande, agricultura é bem forte também, além de bastante madeira — confirmou Fonseca que também lamenta que condições da estrada não possibilitem que o caminho até Jaquirana e Caxias do Sul seja encurtado.
A dificuldade é acompanhada de perto pelo produtor rural Fábio Fogaça. Morando a 22 quilômetros de Jaquirana e a oito quilômetros da saída da Rota do Sol, ele fica impossibilitado de sair de casa e lamenta que não possa ir nem pra um lado nem para outro.
—Teve um tempo que a estrada tinha três linhas de ônibus. Hoje a gente não tem nenhuma devido à conservação da estrada. Pra quem entrega leite aqui, já tá tendo a dificuldade, como é um produto perecível se o cara não puder chegar num dia, dois, ele termina perdendo toda sua produção — alertou.
Os problemas causados pela ausência de infraestrutura das estradas se espalham. Reginara de Vargas Lahm ressalta que a situação se repete há anos e pouca ou nenhuma melhora foi registrada com o passar do tempo.
Quando a chuva danifica ainda mais as estradas, carros precisam ser puxados por tratores e o transporte escolar trabalha com a incerteza de garantir o serviço. Moradora de Fazenda Velha, próximo a Cazuza Ferreira, Reginara diz já ter vivido situações complicadas.
— Vi minha vó sair agonizando de dor com o fêmur quebrado, em cada buraco que ambulância passava. Sei que existem muitos problemas em todos os lugares, mas eu acho que aqui já passou de todos os limites — desabafou a moradora do distrito que pertence a São Francisco de Paula.
Posicionamento do Daer e de prefeituras
:: O Daer informou que o alto fluxo de caminhões que transportam madeira e as condições climáticas trouxeram prejuízos. Quando a chuva parar, a autarquia diz que irá programar ações no trecho de São Francisco de Paula.
:: A prefeitura de São José dos Ausentes informa que faz a manutenção constante de estradas, mas também cita a chuva como um fator que dificulta a realização do trabalho.
:: De acordo com o secretário de Obras e Trânsito de Bom Jesus, Frederico Jacoby, a prefeitura está com o maquinário na região do Capão do Tigre e aguarda a melhora do clima para realizar os reparos. A compra de uma balança para fiscalizar os veículos também está na pauta da administração municipal, que hoje não conta com o equipamento.