O aumento de casos de doenças respiratórias está impactando na ocupação de leitos de hospitais em Caxias do Sul. As baixas temperaturas registradas nos últimos dias está refletindo diretamente no número de internações. Há casos de covid-19 e Influenza. O atendimento de pacientes com sintomas respiratórios cresceu 36% nas unidades de pronto atendimento (UPAs) em abril deste ano se comparado a março, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Nas unidades básicas de saúde (UBSs) também foi registrado aumento: de março para abril, os casos cresceram 39% entre crianças e 69% entre adultos. Esse aumento se manteve ao longo do mês de maio. De abril para cá, a média de atendimentos foi de cerca de 35% a mais nas UPAs em razão de sintomas respiratórios.
— Nos hospitais, o comportamento foi muito próximo porque a demanda entra pelo sistema de urgência e emergência do município, seja nas UPAs ou nas emergências dos próprios hospitais. De março para abril, tivemos aumento em torno de 30% nas internações hospitalares. De abril para maio tivemos mais um aumento, de cerca de 9%. O maior reflexo já se deu ao longo de abril em comparação a março, e em maio se manteve — ressalta a secretária de Saúde de Caxias, Daniele Meneguzzi.
Ela destaca que se observa uma alta taxa de ocupação hospitalar, mas lembra que esse é um problema registrado também em anos anteriores:
— A ocupação nos leitos SUS segue na casa dos 90% que é o que a gente costuma ter. O que acontece é que muitas vezes a prioridade acaba sendo diferente: aquele paciente que tem uma patologia que pode ser tratada em casa ou ser protelada, acaba dando lugar a outro, com sintomas respiratórios.
Covid-19 e síndromes respiratórias
Os casos de covid-19 também tiveram incremento no último mês em Caxias. Em 20 de abril, havia apenas oito pessoas internadas nas três maiores cidades da Serra: quatro em Caxias do Sul, três em Bento Gonçalves e uma em Farroupilha. Nesta quarta-feira (1º), segundo dados do painel covid-19 do município, só em Caxias são 20 pacientes diagnosticados com coronavírus em leitos de UTI.
— Temos uma nova configuração, de total funcionamento das atividades econômicas, o não uso de máscara, a cobertura vacinal que não está avançando, com muitas pessoas que não completaram o esquema vacinal, o inverno, os ambientes fechados, a não circulação de ar e a própria patologia que se agrava — elenca Daniele.
A secretária ainda ressalta que tem sido registrados casos de infectados com coronavírus e Influenza.
— Quando falamos de doenças respiratórias, são todas elas. E temos outros vírus circulando na cidade que às vezes levam a um agravamento. É algo que não vivemos em 2020 e 2021 porque o coronavírus limitou a circulação. Agora, estamos vivendo algo parecido com o que acontece em todos os invernos. Para enfrentar as formas graves das doenças, a principal arma é a vacina contra a gripe e contra a covid-19, além de manter os cuidados, como o uso da máscara, que é recomendada para quem está em grupo de risco.
Ela destaca que, no momento, ainda não se pensa em retomar estruturas como a tenda de atendimento a pacientes com suspeita de covid-19 em frente à UPA Central.
— Já temos estruturas em funcionamento com capacidade redimensionada, com mais plantonistas e reforços nos horários de maior busca. O município adotou medidas anteriores ao inverno, como a contratação de novos leitos de enfermaria e de UTI. Temos hoje 16 leitos a mais de UTI e 18 a mais de enfermaria do que em invernos anteriores.
Cenário em hospitais
O número de atendimentos nas emergências em Caxias, seja do SUS ou dos planos de saúde, acaba impactando nos hospitais da cidade. No Virvi Ramos, até as 13h desta quarta, 10 pessoas estavam internadas em UTI com doenças respiratórias, sendo quatro por covid e seis em UTIs clínicas. Outras 16 pessoas estavam em leitos de enfermaria, sendo oito casos de coronavírus e oito suspeitos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag).
— Chegamos a ter períodos sem nenhum paciente com covid-19 em UTI. Estamos observando uma baixa adesão nas doses de reforço das vacinas. Consequentemente, esses pacientes baixaram a imunidade e são eles que estão internados. Também temos observado um aumento de causas respiratórias de outros vírus, como Influenza, vírus sincicial respiratório, que são outros que estão em circulação e têm contribuído para o aumento de casos de síndromes gripais — ressalta a coordenadora das UTIs do Virvi Ramos, a médica intensivista Eveline Gremelmaier.
Segundo ela, o aumento foi mais expressivo nos últimos 15 dias e ele pode crescer ainda mais.
Hospital da Unimed não sentiu reflexo nas UTIs, mas reforçou pronto-atendimento
No Hospital da Unimed, o aumento expressivo de atendimentos de síndromes gripais não repercutiu nas internações clínicas e UTIs, mas motivou um reforço nas equipes:
— Houve uma preocupação no sentido de aumentar a capacidade de atendimento, pois atualmente estamos com média de mais de 500 atendimentos, entre adultos e crianças, por dia. Foram acrescentados mais consultórios e salas de medicação — afirma o diretor-técnico do Complexo Hospitalar Unimed, Márcio Valim.
O médico ressalta que está em execução a ampliação da área de recepção e triagem pediátrica, bem como no número de médicos clínicos e pediatras, disponíveis 24 horas para atendimento de urgência na instituição:
— Contamos também com teleplantão médico, que oferece teleconsultas para adultos e crianças. Esse serviço está disponível com link de acesso para os usuários da Unimed Nordeste — finaliza ele.
Já no Hospital Geral (HG), os atendimentos de pacientes adultos com doenças respiratórias tiveram um incremento de 12% em abril em relação a março. Já para bebês e crianças, o crescimento foi de 64%. Os dados de maio ainda não foram consolidados pela instituição.
Média móvel de casos de covid-19 mais do que dobrou em um mês no RS
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, na manhã dessa quarta-feira (1º), o coordenador do comitê científico do gabinete de crise do governo do RS, Bruno Naundorf, ressaltou que a média móvel de casos de coronavírus mais do que dobrou em um mês no Estado.
— Estávamos acostumados a ter 70 pacientes em UTI nas últimas semanas e passamos a ter mais que o dobro. São 154 confirmados e 60 suspeitos. Claro que é muito diferente do que tínhamos lá atrás, quando eram 9 mil gaúchos internados. Hoje, temos 1 mil, mas tínhamos 500 até pouco tempo atrás.