O sorriso que expressava a alegria contagiante de Gisele Maria Nunes, 11 anos — vítima de acidente de trânsito na BR-116, em Vacaria — deixa saudades aos familiares e amigos que conviveram com a menina. A despedida, com velório e sepultamento, foi realizada no final da tarde desta terça-feira (10), no mesmo município. Gisele estava no banco de trás de um Palio, veículo também tripulado por seus pais, que foi atingido na traseira por um Mercedes-Benz GLA 200, conduzido por um médico de 44 anos, na noite de segunda-feira (11). Teste do etilômetro apontou que o condutor do Mercedes-Benz estava alcoolizado.
Os pais dela, Sueli Nunes, 48, e Gerson Nunes, 54, chegaram a ficar presos às ferragens, mas tiveram ferimentos leves, sem necessitar de internação. Para eles, a maior dor tem sido a da perda da caçula, a mais jovem dos quatro filhos do casal. A criança era a única que ainda morava com o casal, no bairro Monte Claro.
— Coração tá dilacerado. Fica um vazio, um buraco, parece que o mundo nem existe mais — descreveu o pai da menina, em conversa com a reportagem nesta quarta-feira (11).
— É até bom poder falar sobre ela. Era nossa princesa, uma menina amorosa, sempre sorridente, querida, sem explicação... A gente tinha comprado uma televisão nova e ela ficava cantando junto das músicas que botava pra tocar, gostava de cantar e dizia que ia ser advogada. Eu falava pra ela que ajudaria em tudo que pudesse pra ela realizar isso — completa Nunes.
Além dos pais, Gisele deixa um irmão de 28 anos e duas irmãs de 23 e 19 anos. Segundo o pai, a menina era a principal cuidadora da Belinha, cachorra de estimação da família, que costumava receber a tutora, todos os dias, na volta da escola. Gisele cursava o 6º ano do Ensino Fundamental na Escola Soli Gonzaga dos Santos, que fica no mesmo bairro onde a estudante residia.
A casa era pra onde a família pretendia voltar na noite de domingo, depois de buscar solução a um problema de saúde de Sueli, mãe de Gisele. Segundo Nunes, sua esposa estava havia dias com dor de ouvido e, naquela noite, eles saíram para buscar atendimento médico.
— A Gisele não queria ir junto, mas achamos que não seria seguro ela ficar sozinha em casa. Ela colocou o cinto, sempre nos orientava nesse sentido, e fomos até o hospital. Como demorou pra minha esposa ser atendida, fomos até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), onde ela recebeu o receituário; passamos na farmácia para pegar os medicamentos e estávamos voltando pra casa. Até comentamos como estava tranquilo o movimento na cidade, naquele horário. Não tinha nenhum carro passando pela rodovia, acessei tranquilamente, andei uns 300 ou 400 metros e, de repente, senti aquela pancada, violenta demais — lembra Nunes.
Gisele sofreu ferimentos graves, foi conduzida ao mesmo hospital na noite do acidente e transferida para Caxias do Sul na segunda-feira. De acordo com o pai, ela morreu cerca de uma hora depois da transferência.
— Quando um pai perde um filho, não tem nem o que falar. Ainda mais desse jeito, algo que poderia ter sido evitado. Única coisa que eu sei é que vou amar ela pelo resto da minha vida, até que a gente possa se encontrar de novo algum dia — conclui.
Investigação
Imagens divulgadas pela Polícia Civil mostram o momento da colisão. O motorista do Mercedes-Benz também precisou ser socorrido. Ele chegou a ser internado na cidade, no Hospital Nossa Senhora da Oliveira, e teve alta médica na tarde de terça-feira.
Ainda na noite do acidente ele realizou teste do etilômetro que, segundo a Polícia Civil, apontou a ingestão de bebida alcoólica. Segundo o delegado regional de Vacaria, Carlos Alberto Defaveri, a autuação em flagrante não aconteceu em função da internação. A reportagem não conseguiu contato com o delegado para atualizar o encaminhamento dado após alta hospitalar do suspeito, que tem responsabilidade investigada por inquérito.
O nome do médico envolvido no acidente não foi divulgado.