A baixa adesão a campanha de vacinação contra o sarampo preocupa em Caxias do Sul. Nesta quinta-feira (19), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) renovou o novo chamamento para que pais e responsáveis levem as crianças de seis meses até cinco anos aos pontos de vacinação. Até o momento, a cobertura vacinal está em apenas 24,6%. A campanha prossegue até o dia 3 de junho.
Os dados mostram que o sarampo voltou a ser um alerta de saúde pública no Brasil. Em 2021, nenhum estado brasileiro alcançou a meta de vacinar 95% das crianças até cinco anos. Esta redução dos números de imunização foi apontada no levantamento Observa Infância, que é uma parceria da Fiocruz com a Unifase. O Rio Grande do Sul alcançou apenas 54,8% do seu público-alvo. A vacina é a única forma de impedir a circulação desse vírus.
Os dados da pesquisa nacional mostram uma queda acentuada dos índices de vacinação a partir de 2019. Naquele ano, Caxias do Sul alcançou 141% da sua meta — ou seja, vacinou mais crianças do que era estimado. Em 2020, o número baixou para 106% e, no ano passado ficou em 81%.
Cenário semelhante foi visto nos outros municípios mais populosos da região. Bento Gonçalves baixou de 95%, em 2019, para 77% no ano passado. Já Farroupilha teve uma queda de 45% nos últimos três anos, vacinando apenas 70% da sua meta em 2021.
Os dados do ano passado são ainda mais preocupantes no cenário estadual (54%) e nacional (52%). Esta possibilidade de ter menos da metade das crianças vacinadas é considerado alarmantes pelos órgãos de saúde pública.
— Alcançar a meta é fundamental porque é assim que impedimos que um vírus circule. Cada vírus tem a sua meta, o seu cálculo. No sarampo, é de 95%. Esta é a forma de erradicar. Já estamos vendo casos e internações de sarampo em 2022. Estes dados são um alerta que, caso se perpetue, pode-se criar uma situação muito grave. Temos os dois próximos anos para reverter estar curva e frear este vírus — alerta a pesquisadora Patricia Boccolini, da Unifase.
Ao contrário de outros países, a vacinação no Brasil é gratuita. A vacina contra sarampo é conhecida como tríplice viral, porque também cria anticorpos contra rubéola e a caxumba. São aplicadas duas doses. A tríplice viral também é indicada para adolescentes e adultos.
Na rotina do Programa Nacional de Imunizações, a primeira dose é indicada aos 12 meses de idade. Já a segunda, aos 15 meses. Em 2021, segundo a pesquisa, de cada três crianças brasileiras que tomaram a primeira dose contra o sarampo, uma não voltou para completar o esquema vacinal.
Sobre a redução dos índices de vacinação, a pesquisadora aponta que a pandemia de coronavírus foi uma das causas. As pessoas tiveram receio de sair de casa e ir a um posto de saúde, devido ao risco de contágio da covid-19. Contudo, Patrícia considera que há outros fatores e lembra que os números já estavam em queda antes da pandemia.
— O próprio sucesso do nosso programa vacinal é um fator. Não vemos mais pessoas com sequelas de determinadas doenças. Isso passa a sensação de que não existe mais a doença, que está resolvido. É um pensamento equivocado. Não vemos a sequela das doenças da infância exatamente pelo sucesso de décadas do programa de vacinação. A prevenção continua necessária — aponta Patrícia.
A representante da Unifase lembra que o Brasil chegou a receber o selo de país com o sarampo erradicado, mas em 2018 voltaram os primeiros surtos. O problema se aprofundou com as discussões equivocadas sobre as vacinas contra a covid-19, que não tem relação com a imunização contra o sarampo, mas espalharam desinformação.
— Esta questão de fake news chegou ao Brasil nos últimos três anos. As redes sociais, que alcançaram uma capilaridade muito maior entre brasileiros, propagaram estes conteúdos, estas inverdades. São informações falsas que chegam a estas pessoas sem nenhum controle. Depois de plantado (no pensamento das pessoas), é complicado reverter — analisa Patrícia.
Outra dificuldade é que cada vez mais mães estão no mercado de trabalho. Geralmente, são elas as responsáveis por levar as crianças para vacinar. Por isso, uma das recomendações da pesquisa é que os municípios disponibilizem vacinação nos sábados, facilitando o acesso dos pais que trabalham.
— É um divisor de águas, porque sabemos que tem mães que trabalham. Quase 70% da população usa o SUS e precisa deste serviço público. Esta limitação de horário é uma dificuldade e vimos municípios que desenvolveram (vacinação no sábado) com muito sucesso, principalmente diante da covid-19.
Outro ponto que fortalece a vacinação nos municípios é a rede de atenção básica. Pediatras e agentes comunitários que conhecem os moradores do seu território auxiliam na divulgação da importância das vacinas. Segundo Patrícia, quanto mais forte é atenção básica, melhor são os índices de prevenção. São sugestões ao Poder Público, afinal a pesquisadora salienta que o momento de agir é agora.
— O sarampo é um primeiro alerta e precisamos conscientizar porque há outras doenças mais perigosas, como a pólio. É muito perigoso esta queda da vacinação — reforça.
O levantamento
A pesquisa VAX*SIM, que está dentro do Observa Infância, utiliza os dados do SUS e do Ministério da Saúde para fazer este mapeamento. O projeto investiga o papel das mídias sociais e do acesso à Atenção Primária em Saúde na cobertura vacinal em crianças menores de cinco anos. Veja os números da cobertura vacinal, contra o sarampo, nos últimos anos:
Caxias do Sul
2016: 104,41%
2017: 95,61%
2018: 85,5%
2019: 141,87%
2020: 106,41%
2021: 81,15%
Bento Gonçalves
2016: 99,94%
2017: 97,63%
2018: 96,46%
2019: 95,53%
2020: 64,17%
2021: 77,54%
Farroupilha
2016: 95,51%
2017: 127,36%
2018: 87,92%
2019: 115,2%
2020: 114,05%
2021: 70,11%
Rio Grande do Sul:
2016: 84,38%
2017: 81,69%
2018: 84,09%
2019: 89,59%
2020: 83,07%
2021: 54,83%
Públicos-alvo definidos pelo Ministério da Saúde:
Sarampo
Crianças de seis meses a menos de cinco anos (todas devem tomar a vacina durante a campanha) e profissionais de saúde (precisam atualizar a situação vacinal, ou seja, devem estar imunizados com duas doses da vacina tríplice viral).
Onde vacinar em Caxias do Sul:
De segunda a sexta-feira:
:: UBSs Cinquentenário, Cruzeiro, Desvio Rizzo, Eldorado, Esplanada, Reolon e Vila Ipê: 8h às 19h.
:: Demais Unidades: 8h às 16h.