Caxias do Sul, assim como as demais cidade do Estado, vive em alerta devido à circulação do vírus da dengue. Até esta sexta-feira (6), havia o registro de 19 pessoas infectadas com a doença. Desses casos, cinco foram contraídos no município, os chamados autóctones, e 14 são importados, quando a pessoa pega a doença em outra cidade. Também há 50 suspeitas aguardando confirmação. Os dados mais recentes são de 6 de maio.
Os cinco casos autóctones são de moradores dos bairros Santa Catarina, Centro, Centenário e Exposição, que registra dois casos. Os importados foram registrados nos bairros Diamantino, Jardim da Lagoa, na região do Desvio Rizzo, Santa Fé, Bela Vista, São Caetano, Floresta, De Lazzer, Cidade Nova, São Luiz da 6ª Légua, Centro, Rio Branco (dois casos) e Cristo Redentor (dois casos).
Outro fator preocupante é o número crescente de focos do mosquito transmissor. São 609, distribuídos em todas as regiões da cidade. Para se ter uma ideia, em 2021 foram encontrados 209 focos e não houve contágio pela doença. Em 2020, foram localizados 27 focos o ano todo e apenas um caso.
Mais de mil amostras de mosquitos já foram entregues à Vigilância Ambiental
Com o aumento de casos, surgem dúvidas por parte da população e também cresce a demanda na Vigilância Ambiental de Caxias. Uma das principais incertezas é como identificar o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e febre chikungunya. O inseto é parecido com o pernilongo, mas tem listras brancas e pretas, e alguns hábitos ajudam a diferenciá-lo.
Outra dúvida é o que fazer caso seja encontrado um mosquito suspeito de ser o transmissor da doença. A diretora técnica da Vigilância Ambiental em Saúde, Sandra Flavia Tonet, explica que é necessário levar o mosquito até uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou à Vigilância Ambiental, que fica na Rua Vinte de Setembro.
— Até novembro do ano passado, tínhamos uma média de 30 a 35 denúncias por dia vindas do Alô Caxias. Hoje temos cerca de 70 a 75 ligações por dia. Antes, as pessoas ligavam na Vigilância Ambiental e diziam que tinham capturado o mosquito e nós nos deslocávamos ao local e trazíamos esse mosquito para o nosso laboratório para analisar. Com o aumento da demanda, não temos mais condições de nos deslocar a todo o momento para buscar os mosquitos — esclarece Sandra.
Ela ressalta que a procura para esclarecer dúvidas sobre o que fazer com o inseto é diária. No primeiro trimestre, foram feitos mais de mil análises de amostras.
— Temos moradores que trazem de 10 a 12 mosquitos por vez. São muitos sobrevoando na cidade e várias fêmeas, que são as que transmitem a doença porque precisam do sangue para maturação dos ovos. O macho se alimenta de plantas e da seiva. O mosquito fêmea dura em média 45 dias, então ele pode picar muitas pessoas.
Inseto não pode estar esmagado
Todas as amostras que chegam até a Vigilância Ambiental são identificadas na hora, e é aberta a solicitação de verificação. Em seguida, elas são levadas ao laboratório e a equipe entra em contato com o morador para informar o resultado da análise. Como há um laboratório próprio, às vezes, essa confirmação sai no mesmo dia.
Sandra faz um alerta: o mosquito não pode estar amassado para que possa ser analisado. A orientação é colocar o inseto em um pote ou enrolar em um guardanapo.
— Temos que identificar as linhas que eles têm na cabecinha, que é a mancha branca que só o Aedes tem. Também identificamos se ele é macho ou fêmea. A fêmea tem menos plumas e o macho tem muitas. Só que essa particularidade só se consegue ver no microscópio — frisa Sandra.
A diretora destaca ainda que há outra particularidade: os mosquitos são oportunistas e silenciosos. Ele também costuma picar durante o dia, especialmente nas primeiras horas da manhã ou no fim da tarde. Como tem voo rasteiro, o alvo são as pernas, tornozelos ou pés e a picada, geralmente, não dói nem coça.
— Ele se esconde, então as pessoas são picadas e nem sentem na hora. Temos a doença no município, então já sabemos que existem mosquitos infectados, mas não temos a certeza de onde eles estão. O que sabemos e podemos afirmar é que temos que ter uma mudança de comportamento e deixar de ter os criadouros. Essa é a única forma de prevenção. O inseticida não mata ovo, pulpa ou larva, então, todos os dias estão nascendo mosquitos. A maior incidência de casos é em moradias, são 83% dos focos. As pessoas estão criando mosquitos nas suas casas e eles voam e picam os vizinhos — ressalta Sandra.
Especialista alerta para situação em alguns bairros da cidade e ao risco de contágio
O descuido e a falta de colaboração da população estão entre os fatores que fazem com que os números tenham disparado no município. O coordenador do Núcleo de Pesquisa —Biologia, Controle, Diversidade, Morfologia e Taxonomia de Insetos da Universidade de Caxias do Sul (UCS), professor Wilson Sampaio de Azevedo Filho, ressalta que sem ajuda e o real envolvimento da comunidade, o combate ao mosquito ficará comprometido.
— O Aedes aegypti se mantém próximo às casas que oferecem condições propícias para seu desenvolvimento. Contudo, podem se deslocar de 100 a 200 metros do local de origem. Alguns estudos relatam que as fêmeas podem se deslocar por um quilômetro à procura de locais para colocar os ovos. Se for considerada uma quadra, com algo em torno de 50 casas, uma ou duas com focos do mosquito já poderiam oferecer risco às demais — ressalta o professor.
O especialista destaca ainda que diversos fatores devem ser analisados para explicar as causas do aumento no número de focos:
—É necessário considerar as mudanças climáticas, que podem oferecer condições ambientais favoráveis ao mosquito. No caso do Aedes aegypti, as temperaturas acima dos 22ºC até os 32ºC aceleram progressivamente a formação do inseto adulto e temperaturas abaixo de 22ºC desaceleram consideravelmente o desenvolvimento. Assim, a chegada do inverno e temperaturas mais baixas poderá ajudar.
Os ovos e larvas não são impactados pelas baixas temperaturas.
Dicas do especialista
:: Manter quintais limpos e organizados, evitando acúmulo de lixo e pequenos recipientes com possibilidade de reter a água.
:: Não utilizar pequenos pratos ou bandejas nos vasos de plantas.
:: Manter caixas de água ou outros tipos de reservatórios tampados ou telados.
:: Evitar a utilização de pequenas piscinas de crianças sem proteção de telas.
:: Manter limpos e protegidos os potes de água dos animais de estimação.
:: Ficar atendo ao acúmulo de água em ralos e calhas, mantendo manutenção e limpeza rotineiras desses locais.
:: Verificar se próximo da residência existem locais e terrenos abandonados com materiais que tenham a possibilidade de acumular água (pneus velhos, potes plásticos, latas e outros) e informar as autoridades.