Com a aproximação do inverno, que começa em 21 de junho, o número de casos de dengue deve diminuir de forma gradativa no Rio Grande do Sul. Isso porque o mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, não sobrevive por muito tempo em baixas temperaturas, ao contrário de seus ovos e larvas — motivo pelo qual é preciso manter as medidas de prevenção mesmo durante os dias de frio.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirmou que espera uma diminuição já neste mês de maio, conforme a tendência observada em anos anteriores. A pasta destacou, entretanto, que 2022 tem sido um ano atípico, com um número muito alto de casos, por isso, não há como prever se a redução realmente ocorrerá. Atualmente, o Rio Grande do Sul tem 19.159 casos confirmados de dengue, sendo 16.010 autóctones, e 15 mortes pela doença.
Luiz Carlos Rodrigues Júnior, professor de Imunologia e Virologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica que as baixas temperaturas resultam em menor quantidade de mosquitos porque o frio reduz significativamente o tempo de vida desses insetos, que pode chegar a 60 dias no verão. Já os ovos e as larvas, depositados na água, permanecem vivos e podem voltar a se desenvolver, dando origem a novos mosquitos, com o retorno de semanas quentes.
Por isso, o especialista destaca que a diminuição do número de casos é gradativa, e não ocorre de uma hora para outra:
— Pode acontecer em maio, mas ainda temos pessoas infectadas e temperaturas médias, então não vai ser algo rápido. Com a chegada do frio, vai diminuir porque não teremos o vetor, que é o mosquito, mas não temos muita regularidade climática, o que significa que a transmissão pode recomeçar mesmo durante o inverno.
O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eduardo Sprinz, complementa que o cenário ideal para a multiplicação do Aedes aegypti é temperatura entre 20°C e 30°C, com umidade e água, onde os ovos podem eclodir e as larvas conseguem se desenvolver. Além disso, o calor precisa ser contínuo para que o ciclo de reprodução dos insetos se perpetue — ou seja, uma ou duas semanas de temperaturas altas não são suficientes para isso.
— A redução dos casos de dengue deve começar com a primeira onda de frio no Rio Grande do Sul. Mas, em um cenário sem a diminuição da temperatura, pode ser que os registros não diminuam tanto quanto o esperado — aponta Sprinz.
Cuidados devem ser mantidos
Diante dessa possibilidade, os especialistas ressaltam que as medidas de prevenção, como não deixar água parada em vasilhas e demais recipientes (confira mais orientações abaixo), devem ser mantidas durante o inverno, a fim de eliminar ovos e larvas depositados anteriormente.
Alex Elias Lamas, gerente da Unidade de Vigilância Ambiental em Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre, afirma que o órgão permanecerá com a campanha para conscientizar a população sobre a dengue nos próximos meses, chamando a atenção principalmente para o cuidado com os ovos do mosquito, que podem durar até 400 dias em ambientes secos.
— Os casos da doença e a circulação de mosquitos vão diminuir no auge do inverno, mas ainda haverá todos os ovos que foram colocados antes disso. Então, vamos manter essa campanha para que a gente consiga reduzir os novos casos no próximo verão — salienta.
Também haverá manutenção do trabalho dos agentes de endemias, que agora estão atuando com foco nas regiões da cidade que têm maior número de casos confirmados, e a instalação de armadilhas em áreas onde há grande vulnerabilidade em termos de saneamento, com o objetivo de prevenir criadouros de mosquitos.
Questionada sobre as ações previstas para os próximos meses, a SES informou, por meio de nota, que “a capacitação das equipes de assistência, tanto em nível da rede de atenção primária em saúde quanto de atenção hospitalar do Estado, são permanentes e incluem o manejo clínico da dengue”. A pasta ainda destacou que, na sexta-feira (6), será gravada uma vídeo aula sobre o assunto com a Dra. Marília Severo — o material estará disponível para acesso pelo YouTube — e que haverá uma reunião com Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS) na próxima segunda-feira (9) “para construir e articular ações em conjunto com os municípios gaúchos”.
Confira medidas para evitar a proliferação dos mosquitos
- Verifique os vasos de plantas, retirando os pratinhos. Passe esponja para limpar os ovos que ficaram aderidos e podem sobreviver até 400 dias sem contato com a água;
- Bromélias e outras plantas podem acumular água. Nas plantas no solo, dê um jato de água nas folhas para remover larvas que tenham se desenvolvido no encaixe das folhas;
- Veja se tem materiais em uso e que possam acumular ou estejam com água, como baldes, potes e garrafas. Caso identifique, é importante secar, tampar ou colocar em local coberto;
- Caixas d'água, tonéis ou recipientes para armazenamento de água da chuva devem ser mantidos tampados e sem frestas — ou, então, colocar tela milimétrica (usada em mosquiteiros);
- Materiais que podem ser descartados, como latinhas, embalagens plásticas, vidros e garrafas PET devem ser recolhidos e colocados em um saco plástico para a coleta seletiva de lixo;
- Verifique se a calha está desimpedida, removendo folhas e outros materiais que possam impedir o escoamento adequado da água;
- Inspecione os ralos. Se mesmo em dias secos estiverem com água, deve-se colocar tela milimétrica ou, semanalmente, acrescentar água sanitária no ralo para matar as larvas;
- Piscinas plásticas pequenas devem ser periodicamente esvaziadas ou tratadas com cloro;
- Piscinas fixas devem ser limpas uma vez por semana e tratadas com cloro sempre;
- Pneus devem ser mantidos em locais cobertos ou fazer furos grandes para escoamento da água, caso os utilize na área externa;
- Banheiros externos e áreas sem uso devem ser mantidos com vasos sanitários tampados e com tela milimétrica nos ralos;
- Pessoas contaminadas com a dengue devem se proteger com repelentes e utilizar roupas compridas, para evitar que os mosquitos as piquem.