Considerado um dos bairros mais populosos de Caxias do Sul, o Cruzeiro lidera desde 2021 uma lista preocupante no município: o de maior registro de focos do mosquito transmissor da dengue. Até esta quinta-feira (12) foram eliminados 609 criadouros do Aedes aegypti em casas e empresas de 50 bairros e loteamentos de Caxias. Destes, 105 estavam no Cruzeiro. O bairro Pioneiro é o segundo com maior número de focos, com 49 criadouros. Proporcionalmente, o Cruzeiro é bem maior. Pela estimativa do IBGE, com base em dados divulgados em 2021, o bairro ocupa a 10ª posição em número de habitantes na cidade, com 15.150 moradores, o que equivale a 2,89% da população da cidade. Já o Pioneiro tem 6.717 habitantes.
Não se sabe ao certo porque o Cruzeiro é o ponto com mais registros em Caxias do Sul. O fato é que os criadouros foram eliminados, mas o mosquito adulto está presente em toda a cidade, o que significa que Caxias está infestada. Mesmo assim, o número de focos no bairro preocupa ainda mais quem vive naquela área.
— Pensamos em fazer cartazes e colocarmos nos principais pontos de comércio do bairro para conscientizar os moradores. Estamos todos preocupados. É uma situação grave e precisamos de solução — ressalta o presidente da Associação de Moradores (Amob), Nelson Acioli Vieira Filho.
Em 2021 foram encontrados 209 focos e não houve contágio pela doença em Caxias. Em 2020, foram localizados 27 focos o ano todo e apenas um caso. Nesse ano, 19 pessoas já foram infectadas com a doença.
Moradores redobram cuidados
A água parada é a maior vilã na reprodução do mosquito: basta uma pequena quantidade para que a fêmea consiga colocar os ovos, e, em contato com a água, se reproduzir. Moradora do Cruzeiro, Marinês Caliari, 57 anos, mantém um jardim em casa, mas está atenta aos cuidados para evitar a proliferação do mosquito.
— Não coloco pratos embaixo dos vasos das plantas ou deixo eles virados para evitar que acumule a água. Todo mundo tem que se ajudar no bairro. Estou sempre atenta e mantenho o meu jardim há um ano e meio sempre caprichado, sem água parada — conta a dona de casa.
Em uma lavagem onde há caixas d'água, o proprietário César Giacomelli, 46, mudou a metodologia para armazenar água da chuva. Ele conta que antes disso percebia larvas de mosquitos a cada dois dias, o que não acontece mais:
— Em uma das caixas coloquei uma pedra de cloro que dura 90 dias e evita a proliferação do mosquito. Nas outras mantenho a água corrente e vamos usando essa água ao longo do dia.
Fiscalização inspeciona 205 pontos estratégicos a cada 15 dias
Na última quarta-feira (11), enquanto a reportagem esteve no bairro Cruzeiro, pôde acompanhar a ação da agente de combate às endemias. Ela vistoriou as caixas d'água, tonéis e demais objetos que acumulam água. Também recolheu amostras de água em uma das caixas e levou para a Vigilância Ambiental em Saúde para identificar a espécie das larvas de mosquito encontradas no reservatório.
As equipes da Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde de Caxias inspecionam diariamente residências e 205 pontos estratégicos cadastrados na cidade. Esses pontos envolvem floriculturas, cemitérios, borracharias, ferros-velhos e reciclagens. Eles têm de ser monitorados de 15 em 15 dias, porque há maior probabilidade de encontrar focos do mosquito devido à presença de recipientes que acumulam água da chuva.
Os ovos não são postos na água, mas milímetros acima da superfície. Assim, os objetos podem estar secos mas, quando chove, o nível da água sobe e entra em contato com os ovos, que nascem em pouco menos de 30 minutos. Em um período entre sete e nove dias, um novo mosquito estará formado, passando por quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto.
Alerta em toda a cidade
Apesar do Cruzeiro ser o bairro que tem mais focos do mosquito, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) reforça que toda a cidade é considerada infestada. Portanto, cabe a todos reforçarem os cuidados para evitar novos focos. Por nota, a pasta ressalta que o trabalho é conjunto:
"A Vigilância Ambiental em Saúde orienta, fiscaliza, mas o trabalho de combate é conjunto, ou seja, é preciso que cada um faça a sua parte. A Vigilância lembra que os focos podem estar em qualquer lugar onde haja recipiente com água e aberto, o que pode ser encontrado em empresas, residências ou outros locais, como terrenos baldios.
Recipientes com água acumulada devem ter o líquido despejado na terra e precisam ser limpos com água e sabão, pois os ovos podem estar presos. Potes que funcionam como bebedouros de animais também devem ser limpos com água e sabão toda semana.
Esse trabalho conjunto de combate deve acontecer em todas as regiões, mesmo nos bairros onde não há focos identificados, uma vez que a circulação de mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, ocorre em todo o Município. Por esse motivo os agentes de combate às endemias da Vigilância Ambiental também atuam em diferentes regiões da cidade."
Focos
:: Cruzeiro: 105
:: Pioneiro: 49
:: Tijuca: 40
:: São Caetano: 35
:: Colina Sorriso: 31
:: Cidade Nova: 29
:: Marechal Floriano e São José: 27
:: Santa Lúcia Cohab: 22
:: Nossa Senhora de Lourdes: 19
:: Desvio Rizzo: 18
:: Pio X, Petrópolis: 17
:: Cinquentenário, Cristo Redentor: 16
:: Charqueadas: 15
:: Santa Catarina: 13
:: Jardim do Shopping: 11
:: Esplanada: 9
:: São Leopoldo: 8
:: Bela Vista: 07
:: Forqueta: 06
:: Centro, Galópolis e Rio Branco: 05
:: Jardim Esmeralda, Nossa Senhora de Fátima, Sagrada Família e São Luiz da 6ª Légua: 4
:: Medianeira, Panazzolo, Presidente Vargas, Reolon, Santa Fé, Universitário e Vinhedos: 3
:: Centenário, Cidade Industrial, Exposição, Nossa Senhora da Saúde, São Pelegrino: 2
:: Canyon, De Lazzer, Jardelino Ramos, Kayser, Mariani, Mariland, Pedancino, Planalto, São Giacomo e Vila Cristina: 1