Depois de levar cores para uma escadaria e permitir também que muros e becos fiquem menos cinza, uma iniciativa no bairro Euzébio Beltrão de Queiroz, em Caxias do Sul, agora envolve a participação da comunidade para a confecção de mosaicos. A arte que reúne peças de diversas cores para formar uma nova figura começou a ser espalhada neste sábado (9) em locais internos de circulação dos moradores durante mais uma etapa do projeto Mosaico na Quebrada. A iniciativa busca reunir moradores e voluntários para ações que buscam revitalizar o bairro, promovendo uma intervenção de arte urbana a fim de ajudar a mudar a percepção sobre o espaço.
Reunidos em um local próprio do projeto dentro do bairro, os voluntários se organizaram em diferentes funções para a confecção dos azulejos. Enquanto uns iam quebrando pequenos pedaços coloridos de azulejo, outros iniciaram a montagem das peças em outra base, dando origem a um azulejo personalizado, feito a muitas mãos.
Os primeiros desenhos formaram um girassol e também uma borboleta, além de outras representações. Em seguida, o mosaico pronto começou a ser fixado em um dos becos do Euzébio Beltrão de Queiroz, próximo à rua Cristóforo Randon, atrás do Estádio Centenário. Agora, além de coloridos, os locais também ganham a presença da arte.
Os materiais para a confecção dos mosaicos são doações, segundo uma das idealizadoras do projeto, a arquiteta Jéssica De Carli. Ela e o rapper e educador social Jankiel Francisco Cláudio, o Chiquinho Divilas, lideram as iniciativas no bairro e mobilizam voluntários de diferentes regiões da cidade para atuarem no Euzébio Beltrão de Queiroz. Segundo a arquiteta, uma garagem no espaço do projeto no bairro está preparada para receber as doações, seja de cerâmicas, cimento, tintas, pincéis e outros materiais para a revitalização.
Além dos azulejos, o projeto também atua na pintura das casas dos moradores. A meta é que 100 residências ganhem novas cores até março de 2023. Até o momento, 32 casas foram contempladas pela iniciativa – o que já permite que o bairro tenha um colorido especial para quem observa na subida na Rua Bento Gonçalves.
Em média, cada local demora cerca de dois dias para ficar pronto, em um trabalho realizado com a ajuda de três moradores do bairro que são pintores. Em algumas oportunidades, eles também utilizam um compressor, que agiliza o trabalho e permite que o colorido ganhe mais espaço.
A oportunidade de ser contemplado com a pintura tem mobilizado os moradores.
— A adesão está sendo sensacional. Mais moradores se juntam conosco a cada mutirão que estamos programando e realizando. Muitos nos perguntam quando será o próximo, quando que a casa dele será contemplada. São eles que escolhem as cores, pintamos conforme o desejo deles — explica Jéssica.
Na percepção da presidente da Associação de Moradores do bairro Euzébio Beltrão de Queiroz, Miriam Machado, a iniciativa fez com que a comunidade olhasse mais para a sua própria moradia. Se o entorno está ficando mais bonito, as áreas internas também precisam acompanhar esse novo movimento, segundo ela.
— O projeto veio para dar visibilidade para a nossa comunidade. Os vizinhos estão muito felizes. Tenho notado que, após o início do projeto, eles estão mais motivados para cuidar do próprio pátio, colocando folhagens, plantando, deixando mais limpo — explica ela, que está há seis anos à frente da associação.
Uma das próximas etapas do Mosaicos da Quebrada envolverá o grafite, que também será espalhado pelo bairro. Vinte grafiteiros, sendo metade de Caxias do Sul e o restante de outras cidades do Rio Grande do Sul e também um da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, serão mobilizados para a ação.
Nas próximas semanas, eles devem visitar os moradores para que digam o que desejam que o grafite expresse na residência deles. Em julho, será a vez de tornar as escolhas uma realidade e também espalhar essa arte pelo Euzébio Beltrão de Queiroz.
Poder grafitar pelo bairro entusiasma o estudante Lorenzo Borges da Silva, 12 anos. Ao lado de outros adultos e crianças, ele é um dos voluntários do projeto. Ajudou a pintar os becos e muros na última ação, em fevereiro, quebrou azulejos para a montagem dos mosaicos neste sábado, mas também se divertiu jogando futebol na rua enquanto a ação acontecia.
Para ele, que é estudante do 5º ano da Escola Municipal Luiz Covolan e morador do bairro desde que nasceu, o bairro está ficando diferente.
— Está ficando mais bonito, muito melhor do que era antes. Fiz uma favelinha de grafite esses dias e gostei de como ficou. Quero aprender mais para fazer outros desenhos — conta ele.