Minutos após a revelação da proposta financeira que definiu os valores das tarifas de pedágio e garantiu ao consórcio Integrasul a concessão das rodovias da Serra e do Vale do Caí, representantes dos investidores, do governo do Estado e dos envolvidos na modelagem da proposta se manifestaram a respeito do resultado do leilão. O entendimento geral na sede da B3, a bolsa de valores de São Paulo, era de que o processo foi bem sucedido, já que conseguiu atrair investidores privados. As declarações foram dadas ainda durante a cerimônia do leilão e também em coletiva de imprensa, realizada minutos depois.
Ricardo Peres, diretor-técnico da Silva & Bertoli Empreendimentos e Participações Societárias SA, uma das empresas integrantes do consórcio (a outra é a Gregor Participações Ltda), destacou o interesse no mercado do Rio Grande do Sul, lembrando a participação em dois leilões anteriores. Ele afirmou ainda que as obras devem ser realizadas com financiamentos obtidos principalmente no mercado de capitais e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas que não há necessidade de obter capital externo nos dois primeiros anos da concessão. Ele observou ainda que a Silva & Bertoli pertence ao grupo Neovia, que atua em construções, e a Gregor integra o Grupo Greca Asfaltos, e que o consórcio tem capacidade técnica para o contrato.
— Estamos ansiosos para colocar a mão na massa e fazer essa concessão acontecer — disse, antes de bater o martelo na cerimônia.
Entre os integrantes do governo do Estado, a avaliação era de que o leilão foi bem sucedido, já que houve interesse da iniciativa privada.
— O sucesso de hoje reforça a importância da proposta e também que os projetos foram bem estruturados — afirmou o secretário de Parcerias do Estado, Leonardo Busatto.
Já o governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) lembrou que Caxias é um dos maiores pólos do ramo metal-mecânico do país e que a Serra também é uma região turística. Ele destacou ainda a falta de segurança viária atualmente.
— Na ligação de São Vendelino e Farroupilha temos um ponto denominado pela sociedade como curva da morte — destacou.
Fábio Abrahão, diretor de concessões e privatizações do BNDES, órgão que realizou a modelagem da concessão, destacou o ineditismo da concessão da Serra e do Vale do Caí.
— Essa foto de hoje é importante num filme muito maior, que é a atração de um novo player no mercado brasileiro. Um player nacional — observou.
Outros integrantes do BNDES também consideraram o leilão bem sucedido por ocorrer em um momento econômico desafiador e também por ter mais de 20 concessões rodoviárias previstas para o Brasil, o que faz com que investidores se dispersem.
Desconto poderia ser maior
Entre as lideranças empresariais da Serra, que desde o início participaram dos debates a respeito do modelo de concessões, o entendimento é de que o ideal seria um desconto maior nas tarifas, que ficarão entre R$ 6,85 e R$ 9,83, dependendo da praça de pedágio. Na avaliação de Celestino Loro, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, porém, ainda assim o desfecho do leilão deve ser comemorado porque a concessão vai permitir resolver os sérios problemas de infraestrutura da região. Ele lembra que o momento econômico atual desestimula os investimentos rodoviários, mas que o contrato passará por revisões a cada cinco anos para verificar o equilíbrio econômico-financeiro.
— Eles devem ter considerado nos cálculos esse aumento de custo. Dentro de tudo que nós temos, está a contento. Precisamos dar um passo à frente e, se tiver algo para consertar, se conserta no futuro — avalia Loro.
Contrário ao modelo proposto para as concessões, Elton Gialdi, presidente da Associação das Entidades Representativas de Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICs Serra), pretende procurar o governo do Estado para propor que o contrato não seja assinado.
— Chega a ser afrontoso esse deságio. Pensei que poderia chegar a 3% ou 5%. O leilão foi o ápice de um processo muito infeliz. Espero que o governo não assine esse contrato porque está muito desfavorável, e que gente consiga sentar com o governador e estabelecer um modelo mais favorável, que as empresas queiram participar — afirma.
A assinatura do contrato e o início da concessão ainda dependem da homologação do resultado e de um prazo posterior de até 120 dias.