Mais do que palavras, as ações colocadas em prática por padres, irmãs, voluntários, educadores e profissionais que atuam em projetos em conjunto com as paróquias de Caxias do Sul podem transformar vidas.
Com o tema "Fraternidade e Educação" e o lema bíblico "Fala com sabedoria, ensina com amor", a Campanha da Fraternidade 2022 foi lançada pela Diocese, na quarta-feira (2) em Caxias do Sul. A temática desse ano, por exemplo, tocou a vida do jovem caxiense Isaque de Paula Godoi, 20 anos. Ele participou do Projeto Pescar em 2018, na Paróquia São José. Lá mais do que Leitura e Interpretação de Desenho (LID) e Metrologia aprendeu sobre desenvolvimento pessoal. Para ele, a acolhida e a troca de experiências com os educadores foi transformadora.
— Cada palestrante e voluntário que passou pelo projeto e compartilhou suas histórias e suas experiências de vida e que se dedicam a ele me mostraram que o futuro só depende de nós mesmos. São palavras colocadas em práticas por eles todos os dias que ajudam a mudar a vida dos alunos. Sempre tive dificuldade em descobrir qual seria meu foco na área profissional, e depois de ter feito o projeto tive um norte — relata o jovem.
Atualmente, o rapaz trabalha no ramo da construção civil:
— Atuo como carpinteiro, gesseiro e pintor. Hoje eu posso dizer que sou feliz com o que faço e que sem sombras de dúvida esse projeto pode transformar vidas, assim como transformou a minha.
Ensinar é acreditar
O fotógrafo e baterista Rudinei Sperafico, 43 anos, também teve a vida transformada pela fé. Em 2010, ele começou um tratamento na Pastoral de Apoio ao Toxicômano Nova Aurora (Patna). Ele conta que chegou ao tratamento depois de vinte anos de abuso de dependência química. Depois de nove meses, ele foi estagiar em uma comunidade terapêutica como voluntário:
— Não é só um lema, é uma direção, um caminho. O amor exigente que a gente ensina dentro da comunidade tem um lema: eu te amo, mas não aceito os teus comportamentos. As pessoas tem suas falhas, seus erros. A gente não olha e não julga a pessoa. A gente busca focar no comportamento e a atitude não é o que denomina a pessoa. E esse olhar traz resultados, porque a pessoa confia e se entrega. Eu acredito na recuperação, por estou nessa missão, mas acontecem recaídas, até mais do recuperações. Aí que entra muito forte o tema dessa campanha por exemplo; tem que ter sabedoria, discernimento, amor, e um olhar, e até uma força maior, que vem desse mestre que ensina isso muito bem.
A imagem dessa Campanha da Fraternidade mostra Jesus, escrevendo uma frase no chão e, para ele simboliza isso:
— Esse tema é forte porque é preciso um olhar que vem desse mestre, que mostra que é preciso aceitar, perdoar as nossas falhas, os erros das pessoas e as limitações. Humanamente, eu sou fraco, e nós precisamos desse olhar. Jesus, no Evangelho, nos ensina, instrui, capacita a gente, a ter tolerância, paciência , amor e respeito.
Acolhimento
Quando se fala em ensinar com amor, também se pensa no tratamento de acolhida aos imigrantes que chegam a Caxias do Sul. A esperança de uma nova vida e a busca de oportunidades motivam os refugiados a deixar os países onde nasceram, suas famílias e amigos. Aqui, enfrentam novos desafios e barreiras, como a cultura e o idioma.
Ao pensar nisso, a Conceito Escola de Treinamentos Técnicos propôs uma parceira ao Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) de Caxias do Sul. Essa nova visão também vai ao encontro da campanha da fraternidade. O projeto oferecerá seis matrículas gratuitas para o curso de LID e Metrologia, um dos mais requisitados pela indústria metalmecânica da Serra.
O diretor da empresa Edson Borges Cordeiro, 42, conta que esse era um sonho antigo da escola: levar educação de qualidade a pessoas que estão em vulnerabilidade social. A ideia começou a sair do papel quando Adriana Oliveira, a coordenadora psicopedagógica da empresa pensou em procurar entidades que trabalhem com pessoas que precisem de ajuda, e assim chegam ao CAM.
— Conhecemos eles, e percebemos o trabalho que eles fazem e que é necessário se colocar no lugar do outro, ter empatia, e que os imigrantes precisam de empatia. Eles chegam aqui, sem nada. Precisam que lhes estendam a mão — reflete o diretor.
Cordeiro ressalta que o com os cursos profissionalizantes a escola quer conscientizar as empresas:
— Queremos ajudar a conscientizar as empresas que essas pessoas têm dificuldade na língua. Elas têm o conhecimento, já sabem fazer aquela função e, às vezes, é por um detalhe mínimo não têm nem a chance de conseguir a entrevista de emprego. Peço que abram as portas, que escutem e deem oportunidades para que eles consigam essas vagas — pondera o diretor.
Manter viva a esperança
O bispo da Diocese de Caxias do Sul, Dom José Gislon, pontua que é preciso fazer o bem. Ele pede que a sociedade não se deixe esmorecer, e frisa que os temas das campanhas da fraternidade, e as ações da Igreja, assim como a fé, têm a missão de manter viva a esperança, especialmente, em meio ao contexto de guerra em que se vive no Leste Europeu.
— A Campanha da Fraternidade tem como objetivo despertar solidariedade dos fiéis para problemas concretos, buscando soluções para transformar a sociedade. Deus está interessado no bem-estar completo do homem e no desenvolvimento da sociedade. Com atos temos que construir um mundo mais fraterno, com amor, caridade, ternura, justiça e compaixão, e que toque a vida de cada um — aponta o bispo.
O coordenador da Pastoral da Educação, Edmundo José Marcon, explica que o tema traz três verbos que podem ser colocados em ação, seja em família, no trabalho, no trânsito ou nas amizades. São eles: escutar, julgar e ensinar.
— Um empregador tem que escutar um empregado para não pré julgar uma situação. Tem que entender as situações que eles passam. Quanto ao julgar, nós julgamos as pessoas e não a ação. Isso não permite que a pessoa se reconstrua, o que tira a possibilidade de recuperação. Temos que acreditar no ser humano e na sua possibilidade de mudança. Mais uma vez seja nas relações pessoais ou de trabalho. O último verbo é o ensinar: ensinar com amor significa eu acredito em você. Eu acho que o amor transforma porque possibilita o novo — explica Marcon.
A Irmã pastorinha Maria Brendali Costa ressalta que hoje a Igreja não é mais tão ouvida quanto antes, mas ainda cumpre o papel de trazer à tona situações que precisam ser debatidas, como a educação:
— Pode ser uma gotinha de tinta no oceano, mas essa gotinha vai se esparramando na sociedade e vai ajudar — resume.