Mais do que oferecer um lanche em um ambiente agradável de confraternização, o Piquenique Solidário, do Projeto Mão Amiga, é capaz de transformar a vida de muitas famílias de Caxias do Sul. O evento, que está chegando em sua décima edição e retomando o formato presencial, busca apoio da comunidade para continuar auxiliando crianças que precisam de atendimento educacional.
Todo o lucro obtido com o Piquenique Solidário é revertido para o pagamento de vagas na rede particular de escolas de Educação Infantil de Caxias. A última edição do evento ocorreu no formato drive-thru e arrecadou o suficiente para o pagamento de metade do valor de 140 mensalidades. Por meio da iniciativa, são atendidas aproximadamente 400 crianças em situação de vulnerabilidade social, de zero a quatro anos, que não conseguem vagas no ensino público.
Uma das beneficiadas pelo Projeto Mão Amiga e pelo Piquenique Solidário é a balconista Camila de Jesus de Azevedo da Silva, 27 anos. Em 2018, após o nascimento do filho, ela enfrentou um drama recorrente a muitas mães: era preciso voltar ao trabalho, mas onde deixar o bebê? Uma das opções seria a mãe dela, avó de Manoel, hoje com quatro anos. Contudo, a mulher já se dedicava aos cuidados da avó de Camila, que estava acamada por ter sofrido um AVC. Sem saber a quem recorrer e com dificuldades de conseguir vaga na rede pública, Camila cogitou largar o trabalho, à época, de operadora de telemarketing. Porém, a renda faria falta para complementar o salário do marido. Conhecidos, então, comentaram sobre as ações do Mão Amiga.
— Foi muito bom porque eu consegui tirar um peso da minha mãe e eu sabia que ele estava sendo bem cuidado, acompanhado pelas professoras. Na escolinha fui sempre bem atendida, são pessoas muito queridas — avalia a balconista.
Manoel frequenta a mesma instituição desde que nasceu. Ano que vem, ele iniciará os estudos em uma escola da rede pública. Para a mãe, o que resta é agradecer pelo apoio em um dos momentos em que mais precisou:
— Não tenho nem palavras, o que sinto é gratidão — diz Camila.
De voluntária a beneficiada
Situação similar a de Camila, vivenciou a auxiliar administrativo Caroline Isoton, 24 anos. Era necessário retornar ao trabalho após a licença-maternidade, mas a família não conseguia arcar com os valores de uma escolinha particular para a pequena Valentina, hoje com um ano e sete meses. Ela, então, recorreu ao Projeto Mão Amiga, apresentou a documentação necessária e em poucos dias foi contemplada com uma vaga. O caso dela é mais especial ainda porque quando tinha 16 anos, Caroline foi voluntária do projeto em atividades administrativas. Hoje, ela vivencia a experiência de quem está do outro lado, sendo ajudado.
— Se não fosse a bolsa do Mão Amiga, eu não teria a oportunidade de colocá-la na escolinha — reconhece.
Além da vaga em uma escola de Educação Infantil, a família, moradora do bairro Cristo Redentor, ainda recebeu apoio do projeto com cestas básicas por um período em que precisou, e o marido de Caroline, Christopher, foi encaminhado a uma vaga de trabalho. Desde janeiro, ele trabalha em uma empresa como auxiliar de produção.
— É maravilhoso (a ajuda do projeto). Vejo pelo desenvolvimento da minha filha, se não fosse pela escolinha, ela não teria se desenvolvido, como desenvolveu até hoje. Tem acesso a atividades, a vivência entre as crianças, a aprender a compartilhar as coisas... Se eu tivesse parado de trabalhar, ela não teria essas experiências — avalia Caroline.
De portas abertas e com muito acolhimento
Dezenas de crianças já passaram pelas portas da Escola de Educação Infantil Anjos Trapalhões por meio da parceria com o Mão Amiga. A instituição, localizada no bairro Rio Branco, abre suas portas há mais de 10 anos para famílias que não têm condições de pagar por vagas particulares e não conseguem acesso à rede pública.
Funciona assim: o Mão Amiga encaminha e auxilia famílias no pagamento de vagas de turno integral em escolas particulares de Educação Infantil. As mais de cem escolas parceiras, entre elas a Anjo Trapalhões, reduzem o valor da mensalidade. O projeto, então, paga uma parte do valor, enquanto as famílias arcam com o pagamento da outra parte da mensalidade. Um ato de solidariedade formado por muitas mãos, o qual garante que as crianças tenham acesso a um local seguro e adequado enquanto os pais se dedicam ao trabalho e garantem a renda da família.
— É um projeto muito bom para as crianças e para as famílias. Elas precisam estar em um local seguro, com atividades, enquanto os pais trabalham. Enquanto eu puder, eu vou continuar (com a parceria) — diz a proprietária da escola Anjos Trapalhões, Helena Mesquita de Oliveira.
As crianças encaminhadas pelo projeto são recebidas a partir dos quatro meses e podem permanecer na vaga até os quatro anos. O atendimento não se difere dos demais alunos: há acesso às atividades pedagógicas, brincadeiras, estrutura e refeições. Para Helena, é preciso também criar um vínculo com as famílias para que os pais se sintam à vontade de comunicar eventuais necessidades extras:
— Acompanhamos como está sendo em casa. Já tivemos casos em que as famílias precisam de uma ajuda, de um apoio, e buscam a escola. É importante deixarmos à vontade para termos esses diálogos. Sempre digo que criança a gente não escolhe, a gente acolhe — comenta Helena.
A estimativa da entidade é que mais de 8 mil crianças já tenham sido beneficiadas com as vagas em escolinhas desde 2009.
Retorno para fortalecer vínculos
Para a presidente do Projeto Mão Amiga, Marta Cagliari, a retomada do Piquenique Solidário de forma presencial representa também uma oportunidade para fortalecer o vínculo com os voluntários, os beneficiados e, claro, com os apoiadores da causa, que contribuem adquirindo os ingressos e participando do evento.
— O nosso objetivo é fortalecer as pessoas. E, para isso, precisamos ter contatos com elas. Muito embora não perdemos com o drive-thru, esse contato é importante para nós porque precisamos valorizar os voluntários e quem está nos apoiando há tantos anos. A nossa maior alegria é a interação — diz Marta.
SERVIÇO
:: O quê: 10ª edição do Piquenique Solidário Mão Amiga.
:: Quando: 3 de abril (domingo) das 14 às 17h.
:: Onde: Pavilhões da Festa da Uva. Há opção de levar o kit e consumir os produtos em casa.
:: Quanto: R$ 50, que dá direito a um kit de piquenique.
:: O que vem no kit: uma caixa organizadora da OU, frutas, salgados, doces e bebidas.
:: Onde comprar: na sede do Projeto Mão Amiga, na Rua General Mallet, 33, bairro Rio Branco. Ou em pontos de vendas parceiros da ação: Banca Rio Branco - Revistaria, Tudo em Grãos, Copihel e na Padaria Pão Quente da Rua Feijó Júnior.
:: Informações: pelos telefones (54) 3223-5420 e 99142-8223.