Imersa em problemas financeiros e gestão conturbada nos últimos anos, a Escola Antônio Avelino Boff, em Fazenda Souza, em Caxias, deve ganhar uma nova direção nos próximos dias. A forma de escolha dos novos gestores será definida a partir desta terça-feira (8), quando termina o prazo para inscrições de chapas candidatas. Uma nova direção precisa assumir a instituição porque a então diretora foi afastada do cargo por suspeitas de irregularidades. A equipe diretiva eleita no fim de 2021 também foi destituída.
As investigações a respeito de suposto uso indevido de recursos da escola começaram ainda em 2018. A diretora e outros quatro servidores, que haviam realizado a denúncia, chegaram a ser afastados do cargo, mas foram autorizados a retornar meses depois. No entanto, a sindicância conduzida pela 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE) e pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) teve sequência e determinou em janeiro deste ano o afastamento definitivo da titular da equipe diretiva. Por ser concursada, ela foi encaminhada para outra instituição. Os vices eleitos juntos, porém, também precisaram deixar os cargos de gestão. A sindicância segue em andamento e novas penalidades podem ser aplicadas.
A partir da decisão, a 4ª CRE abriu prazo para a realização de novas eleições. O processo, contudo esbarrou em questões burocráticas, já que para a formalização de uma chapa são necessários três servidores concursados e a escola tem apenas dois.
Segundo a assessora jurídica da 4ª CRE, Débora Costa, ainda nesta terça houve consulta de servidores interessados em se transferir para a Antônio Avelino Boff.
— Acredito que poderemos, sim, ter uma chapa — afirma.
Já segundo Orlando Kilian Corrêa, coordenador pedagógico da escola que responde interinamente pela direção, a tendência é de que não se tenha um terceiro servidor concursado até o fim do dia. Segundo ele, a documentação confirmando a inexistência de candidatos já foi encaminhada. Corrêa havia sido eleito como vice-diretor na antiga chapa.
Se houver chapa, a data da eleição ainda precisa ser confirmada. Caso contrário, a própria 4ª CRE será a responsável por indicar o novo gestor. A tendência é de que seja um nome de dentro da escola e entre as possibilidades estão o próprio gestor interino e uma outra professora, apoiada pela comunidade escolar por não ter integrado a gestão anterior.
Contas bloqueadas e dificuldades
O afastamento da então diretora não criou incertezas apenas com relação à administração da instituição. As contas bancárias da escola foram bloqueadas e os problemas do gabinete acabaram atingindo as salas de aula. O ano letivo, por exemplo, começou sem merenda para os estudantes, que precisaram levar os lanches de casa. Estudantes de uma das turmas, porém, disseram que não foram autorizados a fazer torradas no refeitório. O diretor interino contesta e diz que havia autorização, mas a orientação era que os estudantes deixassem os alimentos com as merendeiras no início da aula para que elas pudessem preparar a tempo do horário da refeição. Ele argumenta que os 10 minutos destinados ao lanche não seriam suficientes para os estudantes preparem.
De qualquer forma, a ausência de merenda na própria escola também cria dificuldades para famílias de baixa renda.
— Tem muita criança que foi para a escola contando com o lanche. O colégio foi esquecido pela 4ª CRE. Os estudantes querem o direito de votar, nem que seja em alguém de fora. Queremos achar uma solução ou que coloquem a professora que os alunos escolheram para assumir a direção — afirma Andrea Paim de Lima, mãe de uma estudante da escola, que atua como merendeira em outra instituição.
Conforme Débora Costa, a 4ª CRE encaminhou refeições para a escola e disse que novas remessas podem ser entregues se for necessário. O diretor interino confirma o recebimento e afirma que o encaminhamento ajuda a solucionar o problema. Contudo, alguns itens essenciais, como carne, ainda estão em falta, já que todo o alimento recebido foi encaminhado por outras escolas.
Além da merenda, o bloqueio das contas da Antônio Avelino Boff também impede o pagamento de outras contas, como a internet. Um acordo com o fornecedor permitiu adiar o prazo para o próximo dia 15, mas o boleto somente será quitado se os recursos da instituição puderem ser movimentados.
— Dinheiro a escola tem, mas não tem acesso — relata Corrêa.