Foram 10 anos à espera da contratação e será mais um ano até que os estudos estejam prontos. Porém, em 2023, quando o Plano Municipal de Mobilidade estiver finalizado, Caxias do Sul terá o mais completo detalhamento já realizado na cidade sobre as formas e condições de locomoção. Exigência federal para a obtenção de recursos da União destinados a projetos de transporte, o Plano de Mobilidade irá apontar a atual realidade da infraestrutura e dos modais disponíveis na cidade e propor meios de desenvolver os sistemas de forma sustentável.
Serão 12 meses de levantamento de dados que precisam compilar, nos mínimos detalhes, não apenas as condições atuais para o deslocamento de carro ou de ônibus, mas identificar, inclusive as condições de calçadas e passeios públicos e de que forma elas são utilizadas. Entre as exigências do estudo, por exemplo, está o monitoramento de 80 cruzamentos da cidade para identificar a quantidade de pedestres e os motivos para eles circularem pelos pontos. Levantamentos semelhantes também vão ocorrer com entrevistas a motoristas e passageiros do transporte coletivo.
— Construímos mais de 1,5 mil rampas em calçadas e isso ficou muito bom para a área central, mas se vocês se afasta do centro tem pontos que se tem um cadeirante ele não consegue andar. E não precisa nem ser cadeirante. Se tem alguém com dificuldade de locomoção, como idosos que precisam de bengala, calçadas irregulares dificultam muito a vida do cidadão — aponta o secretário de Trânsito, Alfonso Willembring.
Até mesmo modais pouco explorados precisarão ser pesquisados. A empresa contratada para o trabalho, por exemplo, precisará buscar potenciais usuários de bicicleta e identificar quais as condições seriam necessárias para que eles de fato aderissem a esse meio de transporte. Outro estudo diz respeito ao potencial de utilização do modal ferroviário na cidade, tanto para passageiros, quanto para cargas, analisando projetos já em desenvolvimento.
Embora o planejamento seja municipal, o levantamento também precisará levar em conta os deslocamentos regionais, tanto de moradores de cidades próximas que se dirigem a Caxias, quanto o fluxo de passagem pelas vias do município. Um eixo central do Plano será ainda o incentivo ao transporte não motorizado, daí a necessidade de se identificar os anseios da população e a necessidade de melhorias em infraestrutura.
Diagnóstico
Após os técnicos concluírem as análises nas vias urbanas e do interior, eles precisarão apresentar diagnósticos da situação. Todos os dados serão constantemente debatidos com técnicos da Secretaria de Trânsito, que também receberão treinamento para realizar revisões no Plano de Mobilidade ao longo do tempo. O processo de estudo também prevê workshops e audiências públicas para debater com a população as características identificadas.
Uma vez realizado o diagnóstico, a empresa responsável pelo estudo terá que desenvolver planos estratégicos integrados relativos a ciclovias, acessibilidade e calçadas. Também estão previstos ao menos outros 13 planos para cada diretriz analisada.
Por fim, o Plano de Mobilidade também precisa conter um cronograma de implantação de cada ação ou obra proposta. Tudo precisa ser analisado e aprovado pela Câmara de Vereadores, que votará a lei que vai criar o Plano de Mobilidade. O texto será apresentado pelo Executivo, mas terá que ser elaborado pela empresa responsável pelo estudo.
— Não tenho a menor dúvida de que vai ser um marco para a cidade. As pessoas não compreendem direito o que está sendo desenvolvido — adianta Willembring.
Os levantamentos estão em fase de licitação e as propostas, abertas a empresas do Exterior, serão conhecidas em 22 de março. Segundo Willembring, durante consultas para elaboração do orçamento, ao menos 20 empresas demonstraram interesse em se candidatar. Todo o processo está orçado em cerca de R$ 4,43 milhões.
O estudo
O Plano de Mobilidade deverá propor soluções para repensar a circulação de veículos, priorizando meios não motorizados e incorporando "definitivamente a calçada como via pública". Também deverá contemplar o planejamento urbano, as rotas de escoamento de cargas, a integração regional e meios para reduzir a tarifa do transporte coletivo, bem como garantir sustentabilidade ao sistema e integração de modais. Entre os pontos mínimos a serem analisados estão:
- Serviços de transporte público.
- Circulação viária.
- Infraestrutura, incluindo ciclovias e ciclofaixas.
- Acessibilidade a pessoas com deficiência.
- Integração de modais de transporte público e destes com o transporte privado e não motorizado.
- Operação e disciplina no transporte de cargas.
- Polos geradores de viagens.
- Áreas de estacionamento público e privado.
- Áreas e horários de acesso e circulação restrita ou controlada.
- Mecanismos e instrumentos de financiamento do transporte público coletivo e da infraestrutura de mobilidade.
Dados a serem reunidos
- Levantamento do volume de pedestre e condições de circulação em ao menos 80 cruzamentos.
- Levantamento da estrutura de acessibilidade.
- Contagem volumétrica, para identificar os fluxos de tráfego em pontos estratégicos
- Levantamento da infraestrutura de tráfego, como características das ruas, faixas exclusivas, etc.
- Levantamento detalhado dos pontos de ônibus. São de 3 mil a 3,5 mil na cidade
- Levantamento da velocidade operacional do transporte coletivo e obstáculos existentes.
- Levantamento das condições físicas e operacionais de todos os sistemas de transporte, incluindo aeroporto e rodoviária.
Pesquisas a serem realizadas
- Origem-destino: identifica o fluxo da população diariamente. De onde elas saem e para onde vão, reunindo características como horários e modais utilizados.
- Deslocamento intermunicipal e regional: espécie de pesquisa origem-destino considerando os municípios da região.
- Transporte coletivo: levantar características das viagens, como ocupação das linhas.
- Embarque-desembarque: identificar pontos da cidade onde os passageiros do transporte coletivo mais costumam embarcar e desembarcar dos veículos.
- Opinião de usuários: pesquisa de opinião sobre o transporte coletivo em vários pontos da cidade.
- Pesquisa de logística urbana: levantamento nos acessos à cidade para identificar tipos de carga, origem-destino, etc.
- Uso de bicicleta: obter perfil de usuário e potenciais usuários da bicicleta, mapeando distâncias e rotas e identificando problemas enfrentados no deslocamento. Identificar se usa para transporte ou lazer.
- Rotas de pedestres e condições de calçadas: obter perfil de quem se desloca a pé e identificar problemas enfrentados e integração com outros modais.
- Pesquisa sobre diferentes modais: levantamento dos principais fatores que pesam nas decisões de uso dos modais e a possibilidade de integração entre eles.
Planos a serem apresentados
- Plano municipal cicloviário, com viabilidade e incentivo a ciclovias e ciclofaixas.
- Plano municipal de acessibilidade universal.
- Plano municipal de pedestrianização e de calçadas, com incentivo à locomoção a pé.
- Plano de priorização do transporte público.
- Requalificação e racionalização da rede de transporte.
- Planos econômicos e financeiros para o financiamento do transporte público e infraestrutura de mobilidade.
- Plano de desestímulo ao uso do carro, com criação de rotas alternativas para bairros e distritos e manual de manutenção de vias e sinalização.
- Plano de segurança nos deslocamentos.
- Plano de redução de acidentes.
- Plano estratégico para estacionamentos.
- Plano de fiscalização de trânsito.
- Plano para sistema de circulação de cargas.
- Plano de alinhamento e hierarquia viária (classificação das vias).