"Fazer o bem sem ver a quem": esta frase traduz o ato de doar sangue. Esse é um gesto solidário para salvar a vida de pessoas que se submetem a tratamentos e intervenções médicas de grande porte e complexidade, como transfusões, transplantes, procedimentos oncológicos e cirurgias, segundo o Ministério da Saúde.
Na Serra, a situação é considerada crítica em seis dos oito tipos sanguíneos, conforme dados do Hemocentro Regional de Caxias do Sul (Hemocs). A instituição atende a 49 municípios da Serra, que somam mais de 1,3 milhão de habitantes.
Os estoques baixos são um problema recorrente em período de férias que soma-se ao aumento de casos de contaminação por covid-19 e Influenza. Para manter os estoques estáveis, o Hemocs precisa atingir a média de 1,2 mil doadores mensalmente ou cerca de 60 bolsas diárias. Devido ao veraneio de início de ano, a média de doadores chegou a despencar para 20 por dia.
Motivação para doar
Foi para ajudar ao próximo que a técnica de enfermagem, Cristine Carvalho se tornou doadora em 2018. A avó precisava de sangue e foi o propulsor que tornou Cristine uma doadora de carteirinha.
— Na época, eu pensava que estava ajudando apenas ela, mas depois eu descobri que, na verdade, estava salvando a vida de outras pessoas que eu não conhecia e aquilo me motivou a doar sempre — conta ela.
Só quem doa sabe a sensação que é ter o poder de manter a vida e os sonhos de alguém!
CRISTINE CARVALHO
doadora
Atualmente, atuando na área da saúde, Cristine foi capaz de entender o que exatamente significa ser uma doadora. Cristine está temporariamente impedida de doar, pois está em processo de amamentação. Entretanto, ela conta os meses para poder voltar a exercer a solidaridade.
— Hoje, sendo da área da saúde, entendo a real importância e o que esse ato representa pra quem recebe, mas o que me move é a sensação de saber que temos o poder de alimentar a esperança e a vida. Doar sangue é um ato tão nobre que não nos custa nada, mas pra quem recebe é de um valor inestimável — detalha.
O Hemocentro de Caxias do Sul atende a 49 municípios da Serra, que somam mais de 1,3 milhão de habitantes. Um desses municípios é Bento Gonçalves, onde mora o doador Lucas Marques. Formado em Jornalismo, ele sempre acompanhou notícias sobre a importância da doação e, quando completou 18 anos, chegou a adiar um dos seus sonhos para ajudar a salvar vidas.
— Quando eu fiz 18 anos, eu queria muito me tatuar, mas antes eu fui doar sangue, porque queria fazer parte deste processo por causa da diferença que uma única doação é capaz de fazer — conta ele.
Apesar de não morar em Caxias, Marques sempre se esforça para realizar as doações de sangue. Uma das estratégias do Hemocentro para manter os estoques tem sido realizar coletas externas, em parceria com hospitais e prefeituras.
Uma única doação pode salvar até quatro vidas
Diversas pessoas se mobilizam a fim de contribuir para repor os estoques, porque, de forma geral, uma única doação de sangue pode salvar até quatro pessoas, diz o Ministério da Saúde. Em se tratando de crianças como pacientes, sobe para seis a probabilidade de atendimento com uma doação apenas. O ato em si não traz riscos adicionais quanto à covid-19 e a perda de hemácias (células do sangue) não compromete a imunidade.
— É uma questão de se colocar no lugar do outro, de ter empatia porque algum dia pode ser eu precisando daquela bolsa de sangue, então precisamos ter essa consciência de que todos estamos suscetíveis a precisar de uma transfusão de sangue — explica Marques.
É um ato que vale muito a pena porque literalmente isso vai salvar alguém
LUCAS MARQUES
Doador
Por fazer parte da hemorede do Estado, o Hemocentro pode solicitar bolsas ou emprestar para outros hemocentros que estejam com pouco estoque. Essas situações são mais frequentes nas férias, quando as regiões litorâneas recebem um grande fluxo de pessoas e, por consequência, mais demanda de sangue.
Segundo a assistente social do hemocentro, Cíntia de Souza Pessoa, a situação atual não exige a solicitação de bolsas de outros hemocentros, mas inspira atenção, pois pode afetar os hospitais da região.
— Se a situação piorar, temos que avaliar os envios para os hospitais. Se um hospital pede muitas bolsas e temos poucas, não vamos conseguir enviar tudo, ou seja, teríamos que priorizar as situações de urgência — explica Cintia.
Situação dos estoques na segunda-feira (24):
- O Positivo - 59 - Crítico
- O Negativo - 5 - Crítico
- A Positivo - 27 - Crítico
- A Negativo - 6 - Estável
- B Positivo - 0 - Crítico
- B Negativo - 1 - Crítico
- AB Positivo - 5 - Estável
- AB Negativo - 1 -Crítico
Como funciona a coleta
Uma pessoa adulta tem em média cinco litros de sangue e em uma doação são coletados no máximo 450 ml. Todo sangue doado é separado em diferentes componentes (hemácias, plaquetas e plasma) e assim podem beneficiar mais de um paciente com apenas uma unidade coletada. Os componentes são distribuídos para os hospitais para atender aos casos de emergência e aos pacientes internados.
Diversos hemocomponentes são extraídos do sangue durante a doação, mas eles não possuem uma longa duração, ou seja, as doações precisam ser constantes para que o estoque se mantenha em equilíbrio. Cada hemocomponente possui uma validade. As plaquetas, por exemplo, só podem ser utilizadas por cinco dias após a coleta do sangue. O plasma congelado, por sua vez, dura até um ano e, os glóbulos vermelhos, cerca de um mês.
Quero doar, como faço?
Os doadores devem ter entre 16 e 69 anos (quem tem 16 e 17 precisa estar acompanhado de um responsável legal). É preciso estar bem de saúde e pesar mais de 50kg. Quem teve covid-19 também pode doar, desde que esteja recuperado há mais de 30 dias. O agendamento para doações deve ser feito pelos telefones (54) 3290-4543 e (54) 3290-4580 ou pelo WhatsApp (54) 98418-8487.
O Hemocs atende de segunda a sexta-feira das 8h às 17h, sem fechar ao meio-dia e no sábado das 8h às 12h.
Quem fez a vacina contra a covid-19 também pode doar. Contudo, é preciso observar o tempo de espera recomendado: quem aplicou AstraZeneca, Pfizer ou Janssen deve esperar sete dias para realizar doação, enquanto que quem recebeu a CoronaVac deve esperar 48 horas após a injeção. Também é necessário o intervalo de 48 horas após tomar a vacina da gripe.
Cenário brasileiro
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, 16 a cada 1 mil habitantes doam sangue no País. Isso representa 1,4% da população, índice que está na média dos valores recomendados pela OMS, que é de 1% a 3% da população de cada país. Contudo, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, embora o número de doadores voluntários tenha crescido nos últimos anos, a procura ainda é maior do que a oferta quando analisada em nível global.
No Brasil, não são comuns campanhas informativas na infância, realizadas em escolas, por exemplo. Além disso, o país nunca passou por acontecimentos que exigissem uma maior compreensão sobre a importância da doação, como uma guerra.
Requisitos para ser um doador:
- Ter entre 18 e 69 anos (pode doar a partir dos 16 desde seja autorizado pelos responsáveis).
- Ter peso mínimo de 50kg.
- Não estar em jejum.
- Apresentar documento oficial com foto.
- Mulheres podem doar a cada três meses.
- Homens podem doar a cada dois meses.
O que impede a doação:
- Tatuagem, maquiagem definitiva ou piercing há menos de um ano.
- Piercing em área genital ou oral.
- Resfriado ou gripe (aguarde 15 dias após o término dos sintomas).
- Endoscopia, colonoscopia, broncoscopia há menos de seis meses.
- Estar com alergia em crise (asma, rinite ou urticaria).
- Estilo de vida que inclua uso de drogas ou sexo sem o uso de preservativo com múltiplos parceiros.
- Consumo de bebida alcoólica há menos de 12h.
- Fumantes, não podem consumir cigarro 1 hora antes da doação.