Casos de furtos de objetos que contenham cobre e outros metais de fácil comercialização no mercado clandestino não são novidade. Em Caxias do Sul, os alvos vão desde letreiros de jazigos até tampas de bueiros, hidrômetros, semáforos e aparelhos de ar condicionado. Cabos da fiação elétrica estão na lista dos mais visados, com ocorrências recentes que deixaram duas escolas estaduais da cidade sem energia — algo que coloca em xeque, até mesmo, o início do ano letivo, previsto para 21 de fevereiro em ambos os educandários.
Tão recorrentes quanto este tipo de situação são as abordagens realizadas pelas forças de segurança pública da cidade. A Guarda Municipal, que zela pelo patrimônio público da cidade, registrou, inclusive, um aumento em tentativas que foram flagradas pelos agentes. No comparativo com janeiro de 2021, que totalizou sete abordagens, o número mais que dobrou, passando para 16 desde 1º de janeiro até esta sexta-feira (28). Segundo a Polícia Civil, esses crimes estão relacionados à dependência química e não são fáceis de serem combatidos.
— É uma questão parte criminal, parte social. Não tem como apontar uma solução, é complexo — avalia o delegado Vitor Carnaúba, titular da 1ª Delegacia de Polícia, responsável pela investigação das ocorrências da região central da cidade.
Segundo ele, embora sejam situações constantemente flagradas, pelo tipo de material, que rapidamente é derretido e descaracterizado, há uma dificuldade de se vincular a algum roubo registrado e, mesmo quando a prisão chega a ser efetivada, o problema não é solucionado.
— São furtos normalmente praticados por dependentes químicos que vivem nas ruas. A prisão não tem efeito porque para eles tanto faz estarem presos ou não. Isso não os amedronta. A gente foca mais em tentar fazer um acompanhamento conjunto e vistoria em pontos de recolhimento do material. Mas aí entra a dificuldade de se identificar o material — completa o delegado.
Situação agravada na cidade
Ainda antes de chegar aos pontos de receptação, que são variáveis, segundo a Polícia Civil, os materiais roubados, por vezes, são modificados pelos autores dos furtos. No caso da fiação elétrica, os cabos são queimados e isso tem sido feito nas ruas mesmo, em plena luz do dia, com intensificação na parte da noite.
Um dos pontos é o trecho da Rua Borges de Medeiros, ao lado do Mato Sartori, conhecido como Morro do Sabão. Há tempos o local virou ponto de consumo de drogas na cidade e um morador daquela região, que preferiu não ser identificado, disse que o problema tem se agravado.
— Não tem hora: madrugada, duas da tarde, até embaixo de chuva eles conseguem queimar aquilo e a gente acaba tendo que manter as janelas de casa fechadas porque o cheiro é insuportável. De tanto queimarem fios, até uma grade do muro derreteu e precisou ser trocada. Não sabemos mais a quem recorrer porque ninguém toma providências — desabafou o morador.
A Brigada Militar afirma que, tanto neste ponto, quanto na região da Rua Cristóforo Randon, principalmente, abordagens relacionadas a este tipo de ação, assim como à receptação e o tráfico de drogas são recorrentes. O sub-comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar, major Wagner Carvalho, afirma que a intensificação dos furtos na cidade motivou a criação de uma patrulha específica, na metade de 2021, que contempla principalmente os bairros São Pelegrino e Centro, onde os arrombamentos vinham sendo registrados com mais frequência.
— Percebemos um aumento de usuários de drogas ilícitas e também lícitas, como o álcool, que não têm dinheiro para sustentar o vício e acabam vislumbrando esses materiais que possam ter algum valor. Além da patrulha, a gente conta com a contribuição da comunidade, que pode sempre nos acionar pelo 190. Porém, a gente aborda, identifica a pessoa e, se ela não está foragida ou possua algo ilegal, temos que liberar. A lei não nos permite uma internação compulsória para dependentes — comenta o sub-comandante.
A Guarda Municipal, que também realiza patrulhas pela cidade, relata a mesma dificuldade no combate a este tipo de ciclo que se forma a partir da dependência, envolvendo os furtos e queima de fios.
— A gente vai, realiza a abordagem, identifica e quando dá as costas a pessoa continua ali. Legalmente tomamos as medidas cabíveis — afirma o comandante da Guarda Municipal de Caxias do Sul, Alex Oliveira Kulman, que informou o aumento significativo no comparativo de janeiro deste ano com janeiro do ano passado.
O aumento, segundo ele, se dá tanto em patrimônio privado quanto público, incluindo tentativas em escolas da rede municipal, que estão sob os cuidados da Guarda e, segundo o comandante, se tornam alvo mais visado no período de férias.
O final de semana foi o momento escolhido por criminosos que furtaram cabos da rede elétrica das escolas estaduais Abramo Randon, no bairro Madureira, e Cristóvão de Mendoza, do bairro Cinquentenário. Ambas estão sem luz desde os dias 23 e 17 de janeiro, respectivamente. O restabelecimento depende de manutenção custeada pelo Estado, que segue sem previsão para ocorrer. Ambas as escolas não definiram, ainda, como será a volta às aulas, prevista para 21 de fevereiro. A situação pode ser ainda mais agravada para o Cristóvão, que ministra aulas também no turno da noite.