E se o Menino Jesus viesse hoje, como ele seria? Pergunta difícil e capaz de motivar muitas reflexões. Alunos do 6º e 7º anos do Colégio São José de Caxias do Sul foram desafiados a pensar nisso nas aulas de Ensino Religioso, e a resposta deles foi pra lá de especial. Segundo a professora Lorita Menegon de Souza, foram muitas opiniões, porém, a mensagem de um aluno chamou mais atenção.
— Ele afirmou que o Menino Jesus de hoje talvez seria doente, porque ele vem dizer pra gente que o mundo está doente e que temos que ajudar e cuidar do nosso planeta e da nossa saúde. Além disso, ele seria alguém simples e que podia ter qualquer aparência, seja ruivo, loiro ou moreno. Penso que essa é também uma forma de agradecimento aos profissionais da saúde e acabamos pensando juntos que a manjedoura dele podia ser uma cama de hospital — afirma Lorita.
Então, eles foram ao Hospital Geral procurar quem seria o Menino Jesus. Prontamente, a equipe disse que naquele lugar ele só poderia ser o Theo Alves Ferreira Teles. Ele tem um ano e nove meses e sofre de hemofilia, distúrbio genético e hereditário que afeta a coagulação do sangue. Além disso, ele tem 10 alergias alimentares e uma doença sem cura nos olhos. Ao seu lado, ele tem a mãe Marciele Alves Ferreira, que sozinha cuida dele e de seus outros dois filhos, uma de nove e um de 10 anos. Segundo a equipe do hospital, ela é extremamente cuidadosa e simples, morava em Vacaria e se mudou para Caxias por conta do tratamento da filho. No projeto de Natal, o colégio ligou a figura de Marcieli, com a de Maria e a de Theo com o Menino Jesus.
— A professora Lorita foi até o hospital e pediu por uma criança que tivesse uma história de vida que pudesse ensinar algo às pessoas. Eu me senti muito honrada, me emocionei muito, pois temos uma história de muita luta, a hemofilia nos faz sofrer bastante. Eu como mãe me senti realizada, pois antes do Theo, perdi o irmão dele com nove meses de vida por uma negligência médica, e o falecido Vicente era portador da mesma deficiência. E esse convite me mostrou o quanto eu e meu filho somos fortes, e também o quanto as pessoas nos admiram — detalha a mãe Marcieli.
Para que o projeto saísse do papel, foi marcada uma sessão de fotos no hospital, ambiente em que o pequeno Theo inspirou os alunos do colégio, com seu exemplo de luta, mesmo sendo tão jovem. O fotógrafo Samuel Boff produziu diversos registros que mostram características, que segundo a professora Lorita, revelam o verdadeiro sentido do Natal.
O pequeno Theo passa a maior parte de seus dias no hospital e no hemocentro, devido aos tratamentos, exames e consultas. Segundo Marcieli, eles já passaram por muitas situações difíceis, preconceitos, julgamentos. Ela afirma que, muitas vezes, se ajoelhou e pediu para Deus cuidar de seu filho.
— Theo significa Deus e ele é muito iluminado, pois em todas as situações que passamos, enquanto eu chorava, ele sempre esteve sorrindo. E essa força dele e a alegria que ele tem é o que conquista a todos. Podemos perder tudo menos a fé.
Os envolvidos com o projeto se apaixonaram pelo Theo, pelas fotos e também pela carta escrita pela mãe do menino. Foi feito um mural na escola para sensibilizar as pessoas.
— Esperamos que os alunos da escola saibam que tem pessoas que precisam muito da nossa ajuda material, mas também da nossa atenção e do nosso carinho. E será que hoje, o Menino Jesus não seria assim? Ele está doente, mas não está triste! — conclui a professora.
Leia na íntegra a carta que Marcieli escreveu e que está na escola, ao lado da fotografia:
"Theo significa Deus.
Theo é meu bebê arco-íris.
Ele veio depois da maior perda da minha vida, a do meu anjo Vicente. Achei que minha vida tinha acabado, pois perder um filho é a maior dor do mundo - ainda mais perder por um erro, uma negligência médica. Não tem como falar o que é ser mãe do Theo sem falar do Vicente, pois o Theo tem a mesma deficiência genética que o irmãozinho dele tinha, a hemofilia. Quando eu achei que tudo havia acabado, Deus me mostrou que não era fim.
A maior alegria da minha vida foi saber que meu arco-íris estava a caminho. Foram nove meses de espera com muito amor e cuidado.
Ser mãe do Theo me fez enxergar que Deus sabe de todas as coisas. Em um ano e oito meses de vida já passamos por muitas batalhas, muitas internações, muitas lágrimas e sofrimento. Enquanto eu chorava, ele estava sorrindo.
Meu filho passou por tantas coisas, mas sempre com um sorrisão no rosto.
Ser mãe do Theozinho é ser abençoada. Quem nos vê sorrindo não sabe todos os obstáculos que já enfrentamos. Continuamos nos superando a cada dia mais.
É preciso dar valor a tudo que temos, agradecer a Deus por cada segundo de vida, por cada momento com a família. Bens materiais se acabam, mas o amor sempre permanece.
Enfim, o Theo é um exemplo de força e superação. Não é atoa que eu chamo ele de meu fortão.
Eu agradeço a Deus e a Virgem Maria por me permitir ser mãe deste anjo de cabelos ruivos…
Amem seus pais…
Amem seus amigos…
Amem a vida e tudo que ela oferece…
Agradeçam por tudo que tem, principalmente pela saúde, pois tendo saúde e fé temos tudo…
Um beijão do Theozinho no coração de cada um de vocês."