Além dos danos em casas, o temporal seguido de granizo e vento forte na manhã de segunda-feira (20) também levou preocupação aos produtores de Vila Oliva, no interior de Caxias do Sul. As plantações de pêssego, ameixa, maçã e caqui foram danificadas pelo vento e o granizo, impactando em menos produção e mais prejuízo para quem vive do campo. Nesta terça-feira (21), os trabalhos de reconstrução e contabilização das perdas foram retomados, mesmo com o mau tempo.
Na propriedade de Romeu Zanol, 64 anos, os prejuízos devem ser superiores a R$ 600 mil. Isso porque a produção de pêssegos, maçã e ameixa, que somam 18 hectares, foi totalmente perdida. Metade da plantação possui seguro, mas ele ainda não sabe se terá direito ao recurso porque as frutas ainda estavam se desenvolvendo. Nesta semana, Zanol pagaria a primeira parcela do investimento de R$ 30 mil que fez para a instalação de estufas, que foram danificadas pelo granizo, e que precisarão ser substituídas.
Ele também aguarda auxílio da prefeitura de Caxias para saber o que pode ser feito para amenizar as perdas. Além da plantação, o galpão dos equipamentos foi destelhado e a casa dos funcionários foi totalmente destruída. A residência onde ele mora foi parcialmente destelhada, mas foi reconstruída nesta segunda.
— Dói muito ver. A gente tenta procurar ânimo pra recomeçar, mas é muito duro — lamenta.
Quem também contabiliza as perdas é o agricultor Nelson Stefanoski, 55. Emocionado, ele lamenta a perda de dois hectares de ameixa, que estavam se desenvolvendo para a colheita em janeiro e fevereiro do ano que vem. A variedade, chamada de jéssica, foi escolhida justamente por ter colheita tardia e para fugir da temporada de inverno e da geada. Essa foi a primeira vez que ele cultivou a fruta e, por isso, não tinha seguro da plantação.
— Ia dar uma ameixa tão bonita. Eu disse pro meu filho que a vontade era de procurar outra coisa pra fazer, mas com 64 anos vou fazer o quê? — se questiona.
A casa do comerciante Valmir Rodrigues dos Reis, 50, também teve o telhado parcialmente destruído pela força do vento e era uma das residências mais afetadas de Vila Oliva. Ao longo da segunda-feira, com ajuda de amigos e familiares, a estrutura foi recolocada e permitiu que a família passasse a noite mais tranquila. Alguns móveis foram perdidos e a televisão, que molhou, foi danificada também.
Outro problema enfrentado é a falta de energia elétrica. Equipes da Rio Grande Energia (RGE) estão na região para o conserto de postes e restabelecimento dos fios de luz. Segundo a companhia, cerca de 800 clientes estão sem energia. A empresa informa também que segue atuando no atendimento para restabelecer totalmente o fornecimento do serviço o mais breve possível.
Equipes da prefeitura de Caxias do Sul também trabalham para a limpeza das ruas, principalmente para a remoção de galhos e folhas que ficaram na via.
Danos em escola são reparados
Em Santa Lúcia do Piaí, 25 residências foram destelhadas e as aulas na Escola Municipal Santa Lúcia, que foi danificada, foram suspensas ainda na segunda-feira. Segundo a diretora Cati Regina Tomazini, as aulas devem ser retomadas ainda nessa semana.
Engenheiros da secretaria municipal da Educação vistoriaram o local e constaram que a estrutura das salas que foram destelhadas não estão comprometidas. Uma análise da fiação elétrica deve ser feita quando a energia voltar.
A limpeza e a remoção de galhos e árvores caídas em Santa Lúcia do Piaí também está sendo realizada nesta terça.
— A comunidade tem auxiliado bastante, fazendo mutirões para arrumar os estragos na escola. Queremos retornar o quanto antes, com segurança — diz a diretora.
As plantações do distrito também foram afetadas pelo temporal. Na propriedade familiar do agricultor Airton Vergani, 45 anos, e do estudante de agronomia Jean Dall Angol, 22, cerca de 60% da plantação de pêssego e ameixa, comercializada na Região Metropolitana de Porto Alegre, foi perdida.
Isso porque, assim como na propriedade de Romeu Zanol, o granizo danificou o desenvolvimento da fruta, que deverá ser retirada dos pés nos próximos dias antes que comece a apodrecer. Em safras normais, a família iria colher cerca de 100 mil quilos de pêssego e 70 mil quilos de ameixa.
Nem os pés que estavam cobertos pelas estufas escaparam do fenômeno. Com o acúmulo da água, bolsas se formaram nos toldos, esticando os elásticos de sustentação e permitindo que o granizo entrasse na área que estava coberta. Ao todo, 12 hectares foram afetados.
— Alguma coisa pode ser que sobre, mas vai perder valor no mercado porque vai ficar abatida. Ser agricultor é ter uma empresa a céu aberto e temos que estar preparado para isso. O problema é se voltar a acontecer isso de novo do ano que vem — conta Vergani.
O agricultor se refere às frequentes perdas causadas por fenômenos naturais. No ano passado, em agosto, a comunidade foi atingida pela geada, considerada uma das mais fortes dos últimos anos.
Prefeitura irá decretar situação de emergência
Na manhã desta segunda, o gabinete de crise da prefeitura de Caxias se reuniu para alinhar os encaminhamentos necessários para atender as famílias atingidas pelo temporal. As secretarias farão um levantamento, dentro de sua área, como perdas nas lavouras, qualificando e quantificando os prejuízos causados e o que precisa ser providenciado. As informações, segundo o prefeito Adiló Didomenico, serão importantes para o cadastramento do evento nos órgãos estaduais e federais.
De acordo com o secretário municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa), Rudimar Menegotto, ainda não há uma estimativa de quantos agricultores foram prejudicados e nem o valor do prejuízo. Esses dados serão coletados nesta terça-feira (21) e quarta-feira (22) durante visita de técnicos da Smapa e da Emater aos produtores de Vila Oliva e Santa Lúcia do Piaí e embasarão o decreto de situação de emergência do município.
— Precisamos mapear todas as propriedades afetadas e começar a quantificar. É um cálculo muito difícil, tem que estimar as perdas, prever o que poderia ter sido colhido e ainda verificar quais locais podem ter comprometido a safra do próximo ano — explica.
Menegotto afirma também que a prefeitura possui uma linha de crédito para auxiliar os produtores, chamada de Fundo Municipal de Desenvolvimento Rural. Segundo ele, o crédito disponibilizado é limitado, de aproximadamente R$ 20 mil por agricultor e é destinado especialmente para aqueles que perderam a produção e desejam usar o valor para iniciar o cultivo de novas culturas.
— Sabemos que é um valor que não supre todos os prejuízos, mas a prefeitura não tem recursos suficientes para auxiliar em casos como esses — afirma.
O cadastro para obter o financiamento deve ser feito na sede da Smapa, localizada na rua Moreira Cesar, 1686, bairro Pio X.
Sobre doações, o chefe de Gabinete, Cristiano Becker da Silva, ressalta que a maior demanda é de materiais de construção. Podem ser doadas guias, pregos, telhas de fibrocimento e zinco, e cimento. Quem tiver materiais pode entrar em contato pelo (54) 3901-1278. O município também prestará atendimento psicológico a quem necessitar, por meio da Secretaria da Saúde.
Ao receber todos os levantamentos necessários vindos das secretárias e demais órgãos responsáveis, como a Emater, o município irá formular o seu decreto de situação de emergência. Com a homologação e publicação, os passos seguintes tendem a ser mais ágeis.
O decreto vai para uma análise de apreciação por parte do governo do Estado. Em até dois dias, caso não haja nenhuma ocorrência, ele será publicado e encaminhado para o Ministério do Desenvolvimento Regional, em Brasília.
Segundo o Coordenador da Defesa Civil, em Caxias, o tenente coronel Sandro Carlos Gonçalves da Silva, tanto a esfera estadual como a federal, já sabem da situação na cidade.
— Nós (Defesa Civil) estamos dando o suporte para a prefeitura na confecção de todos os documentos necessários para a formalização do decreto municipal. O que temos de concreto é que a ocorrência dos temporais já está tem o registro no sistema integrado, ou seja, os governos estadual e federal já estão sabendo — explica.
Ainda segundo o coordenador da Defesa Civil, para quinta-feira (23) está marcada uma nova reunião com o gabinete de crise para uma análise dos documentos.