Com o slogan O sonho recomeça agora, volta pra escola, a direção e os professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Presidente Tancredo de Almeida Neves, em Caxias do Sul, criaram um cronograma especial para atrair os alunos de volta ao ensino presencial. As ações, que começaram a sair do papel em agosto, fizeram, segundo a coordenação, que boa parte dos alunos voltasse para as salas de aula no colégio que fica no bairro Belo Horizonte. A frequência dos alunos, de acordo com a direção, pulou de 45% para 70%: dos 840 alunos, cerca de 600 retornaram entre agosto e setembro.
A programação especial, às sextas-feiras, conta com ações que envolvem teatro, música e literatura. Para incentivar os alunos, a biblioteca também foi reformada e reinaugurada nesta quarta-feira (15). As paredes do espaço foram arrumadas, as cadeiras trocadas e há almofadas para os estudantes ficarem mais confortáveis.
Alunos da Educação infantil e do 1º e 2º ano aprovaram a reforma. Sentadinhos em círculos nas almofadas, elas acompanhavam, nesta manhã, a contação de história com os olhinhos atentos. Acompanhavam e interagiam, batendo palmas, com a personagem Emília, do Sítio do Pica Pau Amarelo, interpretada pela professora de Matemática Fabrícia Bernardi. As novidades também atraíram o interesse dos adolescentes:
— A cor está mais bonita, colorida, traz uma vibe boa, diferente. Ficou mais aconchegante — conta Jennifer Hudorovich, 14 anos, estudante do 8º ano.
Perto dali, os colegas acompanhavam atentos enquanto o professor de Artes e músico Augusto Dosso cantava e tocava músicas ao violão para embalar a manhã. Antes dele, a professora Edilene Santi falou com os alunos sobre o processo criativo para ser ilustrador. Ela leciona Artes na escola, já escreveu e ilustrou o livro Plim e também foi a ilustradora da obra O Alto do Céu e da Aluna, um e-book do Grupo Brinquedo Chegou, da Fundação Marcopolo. Ela ressalta que os alunos ficam felizes e entusiasmados com as atividades:
— A escola é um espaço para desenvolver habilidades. Esse talento nasce e cresce dentro da escola, temos artistas aqui.
No pátio da Presidente Tancredo de Almeida Neves agora há um espaço de leitura também. Com árvores, flores e bancos, o cantinho é aconchegante e se tornou um dos lugares onde os alunos são instigados a mergulhar no mundo da letras. A professora Justina Pasa Palauro não esconde a emoção de ver os alunos aproveitando as novidades. Ela leciona na escola desde 1999.
— Plantei o abacateiro e levamos abacates para casa. Ajudei a plantar várias árvores. Vi tudo crescendo aqui, as nossas crianças, as plantas, as salas, a vida — se emociona.
Com orgulho, ela lembrou do ex-aluno Nickolas Ribeiro, que venceu em 2013 o concurso de criação da tiara das Embaixatrizes da Festa da Uva:
— Tenho muito orgulho de fazer parte dessa escola. Sou professora de Artes e fico emocionada porque sei que a arte realmente transforma. Amo essa escola e cada um dos alunos que passaram por aqui e os que seguem conosco.
A direção ainda providencia, para logo, a instalação de um Jardim do Temperos. A ideia é mobilizar a comunidade escolar, pais e a população para plantar e ver florescer esse novo cantinho do colégio. Quem quiser doar mudas de temperos pode entrar em contato pelo telefone (54) 3901-1276.
"Acreditamos em uma escola viva e em movimento", defende diretor
Vagner Peruzzo chegou na Tancredo Neves em 2014 e desde 2018 é o diretor da escola. Defensor do conceito de que a arte é transformadora, e com o apoio de professores e professoras, a iniciativa tem impactado a rotina das crianças e adolescentes.
— A leitura estimula a imaginação e permite que as crianças viajem sem sair do lugar. Pensamos em criar um novo conceito para que eles gostem de ler e escrever. A escola precisa ser alegre porque é um espaço de desafio e de construção do futuro. Temos que estimular o pensamento lógico por meio da arte, música, dança para enriquecer as habilidades educativas de cada um deles — diz.
O diretor ressalta que a reforma da biblioteca é para mudar o conceito do espaço e atrair a atenção dos alunos:
— Criamos um espaço mais despojado para leitura. Queremos que nossos alunos gostem daqui e queiram vir ler. A leitura precisa ser incentivada sempre. Queremos semear esse gosto.
Ele ainda afirma que existe uma preocupação maior com as séries inicias, faixa etária que tem ido menos à escola:
— Temos preocupação com a alfabetização. Já era complexo antes, agora temos encontrado dificuldades com a pandemia.
Para mudar essa realidade, além da reforma da biblioteca e da criação de espaços de leitura, todas as sextas-feiras a escola para a partir das 10h e das 14h, por 45 minutos, para que todos leiam.
— Os alunos escolhem livros e os professores também leem para eles. Temos espaços confortáveis, gostosos, para que eles possam aproveitar esse tempo. Quando o professor lê para os maiores, instiga, e eles querem continuar a leitura sozinhos — comemora.
Apreensão com a covid-19 e dificuldades financeiras
Peruzzo acredita que ainda há receio da comunidade do bairro em relação ao coronavírus porque perderam lideranças neste último ano.
— Mantemos um cuidado rígido e respeitamos todos os protocolos: ventilação, distanciamento, uso de máscara, higienização das mãos e dos espaços. Sabemos que a comunidade teve perdas significativas e muito dolorosas, mas agora está na hora de voltar pelo bem dos alunos — afirma.
Outro problema que impacta no retorno às aulas, segundo o diretor, é a falta de recursos de algumas famílias para comprar o material escolar:
— Fizemos busca ativa e localizamos 150 famílias que têm dificuldade para comprar o material para o aluno. Com a ajuda da Fundação Marcopolo, que é nossa parceira em diversas ações, conseguimos fornecer cadernos, canetas, lápis e borracha.
Dentre as melhorias na Tancredo Neves ainda estão a reforma no laboratório de informática e a instalação de televisores e de um projetor em 13 salas de aula.