Símbolo de força feminina, voluntariado e integração comunitária, a Associação dos Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS) vive agora um momento inédito desde a sua fundação. Após 46 anos, a entidade encerrou a parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) e deixou as duas salas que ocupava nas dependências da entidade. Desde a última quarta-feira (22), a associação ganhou um novo espaço para reunir as associadas no Ponto de Cultura, localizado junto à sede da União das Associações de Bairros (UAB), no bairro Panazzolo. Com a pandemia, os encontros das mães estavam paralisados desde março de 2020 e só voltaram a ser realizados na semana passada com a inauguração das novas instalações na UAB.
De acordo com a presidente da ACMCS, Zaira Ramos, a mudança de endereço ocorreu porque os gestores do Sesi solicitaram, há cerca de dois meses, a desocupação das salas reservadas para a associação. A justificativa informada pela entidade é que o local precisa ser destinado para ampliação das turmas do Encontro de Jovens e Adultos (EJA) (leia mais abaixo). Disposto a seguir colaborando com a associação, o Sesi sugeriu que o grupo de mães ocupasse outras dependências, como salas administrativas no centro esportivo do serviço, localizado no bairro Fátima, mas que foram avaliadas pela associação como inviáveis:
— É muito longe irmos pra lá (ginásio do Sesi). O transporte coletivo não é próximo e o deslocamento das nossas associadas se tornava muito difícil. Mesmo assim, entendemos que o Sesi não nos tirou das nossas dependências. Apenas solicitaram o espaço, mas ofereceram outras salas, que infelizmente não deram. Ficamos felizes que tenhamos tido essa parceria há tantos anos, mas era importante seguirmos em busca de uma nova sede — conta.
Segundo Zaira, a organização do Sesi também manifestou interesse em seguir apoiando a associação e colocou à disposição outras dependências, como o auditório para a realização das assembleias mensais. A ACMCS reúne mais de 4 mil associadas divididas em 85 associações espalhadas por bairros e distritos de Caxias do Sul.
“O trabalho da associação não podia parar”
Ao mesmo tempo em que estavam receosas em realizar encontros presenciais, os relatos das associadas que chegavam até Zaíra eram de que a ausência de convívio entre o grupo de mães fazia falta. Muitas delas, inclusive, estavam adoecendo com mais de um ano e meio sem atividades coletivas.
Com a necessidade de encontrar alternativas para voltar a se reunir com segurança, a presidente da ACMCS começou a articular com o poder público e outros movimentos para auxiliar na solução do problema. O grupo procurou a prefeitura de Caxias para sugerir a ocupação de um espaço no Complexo da Maesa, mas ouviu da vice-prefeita Paula Ioris (PSDB) que a solicitação pode vir a ser tratada futuramente, quando houver uma definição mais clara sobre o uso da área.
A saída imediata foi encontrada entre as próprias associadas. A diretora do departamento feminino da UAB, Sara Scarsi, é integrante da ACMCS há três décadas e foi fundamental para aproximar a associação com o movimento comunitário. Na última quarta-feira (22), as duas entidades firmaram um convênio para utilização do espaço em um evento com música, presença das soberanas da Festa da Uva 2022 e muita expectativa sobre os próximos passos.
— A presidente Zaira estava preocupada com a falta de um espaço, conversou comigo e fomos em busca do aval da direção da UAB porque o trabalho da associação não podia parar. É um grupo de muito valor, que tira as mães de dentro de casa para fazer trabalho voluntário e que são doados para hospitais e entidades — explica Sara.
Segundo Zaira, o novo espaço tem o mesmo tamanho do ocupado anteriormente. A vantagem é que agora será mais fácil realizar atividades com a comunidade. A previsão é que sejam realizadas feiras de artesanatos, brechós e, em breve, a expectativa é que sejam oferecidos cursos de capacitação, como panificação, crochê, entre outros. Isso porque a sede da UAB dispõe de cozinha e outras instalações para que a ACMCS possa ampliar a sua atuação com as mulheres.
Segundo Zaira, a diminuição na renda das famílias trouxe um novo desafio para o grupo.
— Muitas associadas estão buscando outras alternativas para vender e ter dinheiro porque o desemprego está alto. Quem não está fazendo é porque não sabe como fazer e, por isso, os cursos serviriam para dar condições para isso.
Para a presidente, além do envolvimento comunitário e de representatividade feminina, a associação é fundamental para o bem-estar das associadas.
— Quando uma mulher sai de casa e vai para o clube de mães, ela encontra vida. É o ânimo que faltava para dar sequência ao dia dela. Como nós estávamos afastadas há muito tempo, sempre digo que é importante pegar o celular e ligar umas para as outras. O whatsapp ajuda, mas uma ligação, ouvir a voz, estar com a tua atenção naquele momento, faz toda a diferença. Agora, com a retomada e com todos os protocolos, fica ainda melhor — afirma Zaira.
Ações com a comunidade
Mesmo afastadas dos encontros com a pandemia, as mães do clube não pararam de realizar as atividades. Cada uma em suas casas, elas desenvolveram trabalhos para a comunidade e que ajudaram a amenizar o impacto da pandemia.
Segundo Zaira, uma das iniciativas foi em maio do ano passado, quando um grupo de 10 associadas comercializam máscaras confeccionadas por elas mesmas em um shopping da cidade. Além de ajudar que outras pessoas se protegessem contra a covid-19, os recursos também contribuíram para auxiliar no pagamento de despesas e na compra de alimentos das mães.
Outra ação foi junto ao projeto Mão Amiga. Para evitar que as crianças que recebiam marmitas em bairros de Caxias do Sul queimassem as mãos, as mães da associação desenvolveram uma sacola especial feita com tecidos doados para que as refeições prontas fossem acomodadas e facilitassem o deslocamento. Também há outras iniciativas como a confecção de kits para mães gestantes em hospitais da cidade.
Em outra frente de trabalho, a ACMCS será expositora na Festa da Uva 2022 e mostrará o que é produzido pelas mães da associação aos visitantes do evento, que será realizado de 18 de fevereiro a 6 de março do ano que vem.
Alta demanda pelo EJA
De acordo com a gestora da unidade do Sesi em Caxias, Siandra Gediel, a solicitação das salas ocupadas anteriormente pela Associação dos Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS) busca resolver uma nova demanda: o aumento nas matrículas de trabalhadores da indústria para o cursar a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A modalidade é destinada a quem tem 15 anos ou mais e não conseguiu estudar ou concluir os estudos na idade própria, nos cursos de Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Segundo ela, as instalações têm capacidade para atender 550 alunos. Com a pandemia, os encontros passaram a ser online, o que permitiu ampliar o número de matrículas para 800 estudantes. Agora, diante da possibilidade de voltar ao ensino presencial em um único dia semana, falta espaço para abrigar todos os matriculados.
— Tivemos que tomar essa atitude de solicitar as salas ocupadas pela ACMCS porque não havia outra alternativa. Temos respeito e admiração enorme pela associação e fomos transparentes do início ao fim — afirma.
Além das duas salas ocupadas pela ACMCS, Siandra diz que um espaço utilizado pelo setor de saúde ocupacional do Sesi também precisou ser realocado para abrigar as novas turmas do EJA. Nesse momento, ocorrem reformas e também a atualização do Plano de Prevenção contra Incêndios (PPCI).
Saiba mais:
:: A Associação dos Clubes de Mães de Caxias do Sul (ACMCS) representa 85 clubes de mães espalhados por bairros e distritos do município. Ao todo, serão cerca de 4 mil mulheres envolvidas.
:: Em cada localidade, os clubes se organizam com diferentes espaços, sejam eles em centros comunitários, escolas, igrejas, nas residências das associadas, entre outros.
:: Cada clube de mãe realiza atividades isoladas, mas encontram na ACMCS uma oportunidade de integração entre os grupos e para a realização de atividades de voluntariado. Com a pandemia, muitos grupos ainda não voltaram a se encontrar.
:: O objetivo é que o novo espaço da ACMCS junto à UAB fortaleça a realização de mais atividades comunitárias, além da realização de feiras de artesanato, brechós e até mesmo cursos de capacitação.
:: O grupo inspirou a criação de uma lei de 2013 que prevê o dia 8 de maio de cada ano como o Dia Municipal dos Clubes de Mães.
:: O grupo também aceita doações de alimentos, tecidos e roupas usadas. Além de utilizar a matéria-prima para artesanato, o ACMCS também pode auxiliar famílias que necessitem de cestas básicas. O contato pode ser feito pelo telefone (54) 9 9125-1677 com a presidente da associação, Zaira Ramos.