Das cinco cidades mais populosas da Serra, Farroupilha lidera o ranking das que mais vacinam, proporcionalmente, contra a covid-19. A Capital Nacional do Moscatel garantiu a aplicação da primeira dose a 31% da população. Na segunda posição está Bento Gonçalves, com 30%. Em seguida, Caxias do Sul, com 28,05%. Já Vacaria aplicou a primeira dose em 28% das pessoas, enquanto Canela está com 25% de imunizados com pelo menos uma dose.
O levantamento avaliou dados das cinco maiores cidades entre as 49 de abrangência da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS). Para isso, foi levado em conta o número de habitantes conforme informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São eles, por população estimada: Caxias do Sul (517.451), Bento Gonçalves (121.803), Farroupilha (73.061), Vacaria (66.575) e Canela (45.488).
É importante ressaltar que cada município monitora o avanço da vacinação com critérios diferentes para medir o progresso na aplicação das doses. Entre os cinco, Caxias do Sul e Canela são os únicos que contam com o vacinômetro. Ou seja, atualizam o próprio painel e repassam as informações ao Estado. Bento Gonçalves mantém um levantamento de dados com a Secretaria da Saúde. Já Farroupilha e Vacaria têm o controle com os dados lançados no sistema do governo do Estado, sendo que em Farroupilha o processo é em tempo real, no momento da vacinação.
Além disso, Canela trabalha com a população vacinável, que é de 34 mil pessoas. Isso significa que o município apresenta a porcentagem de pessoas que receberam a primeira dose comparando-as à população apta a ser vacinada até o momento. Ou seja, se limita aos maiores de 18 anos. Por isso, pelos dados do município, 34% dos canelenses recebeu a primeira dose. No entanto, esse cálculo não leva em conta a população geral, que seria de 25%. Os demais municípios analisam os dados referentes a toda a população.
Proporção de vacinados
Especialistas defendem que o percentual de vacinados sobre a população geral é o cálculo ideal para mostrar quanto falta para frear a circulação do vírus. Isso porque no momento a vacina reduz a letalidade do vírus e, consequentemente, o número de internações. Já as medidas sanitárias, como distanciamento físico, uso de máscara e higienização das mãos, impacta na circulação do coronavírus.
— Quanto maior a proporção de vacinados no menor tempo, maior é a segurança em relação a redução de casos graves. Esse é o objetivo principal da vacina: reduzir casos de hospitalização e a necessidade de internação em unidade de terapia intensiva — explica a infectologista Viviane Buffon.
Dados em tempo real
Farroupilha é a terceira maior cidade entre os 49 municípios da 5ª CRS. Até o final da manhã desta segunda-feira (14), 30 mil imunizantes já haviam sido aplicados, sendo 22.155 para a primeira dose. Isso significa que 31% da população total recebeu, ao menos, uma aplicação. Destas, 7.486 já receberam as duas doses da vacina.
O prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin, e o vice, Jonas Tomazini, se reúnem todas as manhãs com o comitê de crise para avaliar as ações de enfrentamento à pandemia. Tomazini explica que a cidade se baseia no vacinômetro do governo do Estado. Isso porque a equipe da saúde tem estrutura de computadores no local de vacinação que permite o lançamento dos dados em tempo real no sistema estadual e, assim, não há um controle paralelo.
— Quando se tem um percentual como o que chegamos agora já começa a ter um número menor de hospitalizações. Só que no momento as pessoas de 18 a 40 anos adoecem, ficam mais tempo no hospital e acabam tirando a possibilidade de termos leitos para outras. Ainda é um momento delicado e que precisamos de todos os cuidados — aponta Feltrin, que também é presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne).
No final de semana foram realizadas diversas ações. Inclusive, com a entrega de máscaras aos pedestres que não a usavam nas ruas da cidade. Feltrin ressalta que Farroupilha é pioneira na região na busca ativa, com testagens em massa, gratuitas, no formato drive-thru. A ideia é intensificar a busca de casos ativos do vírus e o consequente isolamento dos casos positivos e a testagem de quem teve contato com a pessoa que positivou.
— Só vamos começar a ter sinais reais de melhora a partir do momento que tivermos, no mínimo, metade da população vacinada. Enquanto isso, o momento é tenso. Todos os dias são uma angústia pela possibilidade de faltarem leitos de UTI. Essa é a realidade.
Regularidade nos repasses ajuda
Bento Gonçalves já vacinou, até o momento, 53.720 pessoas, sendo 36.408 com a primeira dose. Destes, 17.312 moradores completaram o esquema vacinal. Considerando a aplicação da primeira dose, a cidade já atingiu 30% da população. Na última semana, o município avançou na vacinação porque voltou a ter regularidade nos repasses, uma vez que em maio houve dificuldades no recebimento de lotes da CoronaVac, segundo a secretária de Saúde, Tatiane Misturini Fiorio:
— Não temos a quantidade suficiente da população imunizada. Por isso, a gente ainda precisa tomar todos os cuidados.
Ela acredita que a situação possa ser mais tranquila nos próximos dois meses, quando a campanha deve entrar na reta final. Até lá, as medidas restritivas são essenciais.
— Não pode começar a relaxar antes de ter no mínimo 50% da população imunizada. Só a partir daí a gente pode começar a fazer uma avaliação de novas flexibilizações ou relaxamento de ações.
Projeção para avançar ao público abaixo dos 50 anos
Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, já recebeu 31 mil imunizantes, sendo que 18.457 foram destinados à primeira aplicação, o que equivale a 28% da população. Além disso, 7.636 pessoas receberam as duas doses. O secretário de Saúde, Silvandro Porto da Fonseca, afirma que o município está vacinando o público na faixa dos 52 anos. Ele acredita que na próxima semana a cidade entre na faixa dos 40, começando pelos 49.
— Percebemos que a internação de idosos acima de 65 anos em UTIs baixou muito. Não chega a 15% dos internados. Cerca de 90% dessa faixa já recebeu a segunda dose.
A expectativa, segundo Fonseca, é que a contaminação comece a reduzir depois da vacinação do público que é economicamente ativo. Ou seja, os que estão no mercado de trabalho.
— Entramos na faixa da população geral, que é de quem trabalha e está mais exposto. Esperamos que os casos comecem a reduzir e, consequentemente, as internações hospitalares.
Preocupação com a segunda dose
Em Caxias do Sul já foi aplicada a primeira dose do imunizante em 141.388 pessoas, o que equivale a 28,05% da população total. Deste número, 58. 226 caxienses já completaram o esquema vacinal. A diretora da Vigilância em Saúde de Caxias, Juliana Argenta Calloni, ressalta que há municípios que trabalham com a população elegível para a vacinação, ou seja, os maiores de 18 anos. Contudo, ela ressalta que, quando se avalia a cobertura necessária para diminuir a circulação do vírus, é preciso dados referentes à porcentagem do total de vacinados. Em Caxias, 389.081 pessoas acima de 18 anos estão aptas a ser vacinadas.
— Se o município avaliasse esse número de habitantes, Caxias já teria vacinado 35,95% da população.
No entanto, ela frisa que esse dado não é o ideal quando se avalia uma maior cobertura vacinal, visto que toda a população é suscetível ao coronavírus:
— A doença atinge menores de 18 anos. Se fala em cerca de 80% da cobertura para ter algum impacto na circulação. Isso, falando do esquema completo. A vacina não tem nesse momento impacto para reduzir a circulação porque não temos um quantitativo significativo com as duas doses.
A diretora explica que o imunizante diminui o número de internações e, consequentemente, de mortes provocadas pelo vírus. Já o distanciamento físico, o uso de máscaras e a higienização das mãos reduzem a incidência de casos.
— Temos um percentual elevado de pessoas que não vão fazer a segunda dose. Em relação à diminuição do vírus, temos que ter uma alta cobertura vacinal — afirma ela.
Conscientização é destacada em Canela
Canela já aplicou 15.753 vacinas, sendo que 11.397 para a primeira dose (25% da população) e 4.356 para a segunda. A secretária de Saúde, Patrícia Valle, ressalta que no município há interesse da população em ser vacinada:
— Isso mostra a consciência das pessoas. A gente sabe que quanto maior o número de vacinados, menos a doença vai circular. Tem que fazer a segunda dose, mas também manter os cuidados. Acredito que, enquanto 80% da população não estiver imunizada, as pessoas ainda têm que se cuidar. É primordial a vacina e os cuidados para evitar que evolua para casos críticos. Já perdemos muitas vidas e não podemos nos dar ao luxo de relaxar — frisa ela.