A curva da pandemia voltou a disparar em quase todos os indicadores analisados pelo governo do Estado. Os números de lotação dos hospitais crescem diariamente, como se estivéssemos voltando no tempo, especificamente para os meses de março e abril. As instituições já começam a improvisar os leitos para atendimento. A única diferença é que a realidade não é a mesma em todos dos municípios da Serra.
Desde o final da última semana, o Sistema Tacchini de Bento Gonçalves vem registrando recordes de atendimentos na tenda disponibilizada para recepcionar os pacientes com os primeiros sintomas, algo que poderá se refletir em internações futuras. Olhando para os números hoje, isso poderá ser um problema grande. Até quarta-feira (2), o único hospital de Bento tinha 60 pacientes em tratamento crítico — o recorde foi 72, no pico da pandemia — e decretou novamente o colapso do sistema.
Esse é um problema com o qual também convive Caxias do Sul. O Hospital Geral, único totalmente SUS e referência para os 49 municípios da região, está com os leitos de UTI superlotados. Na ala covid já há internados em enfermarias entubados e recebendo os mesmos cuidados de quem ocupa os leitos de alta complexidade enquanto não liberam essas vagas. A diferença evidenciada agora é que são pessoas mais jovens.
— É uma faixa-etária menor, em torno de 40 a 60 anos, sendo que já tivemos pacientes de 17 e 20 anos. São mais jovens do que víamos nas primeiras ondas. Em princípio, a letalidade se mantém alta. Como temos pacientes de menor idade e com menos comorbidades, talvez isso não vá gerar um aumento nessa taxa de mortalidade. Ao mesmo tempo, o problema está na superlotação e no aumento da demanda para a nossa equipe, que no fim poderá aumentar essa mortalidade — avalia o médico intensivista Emerson Boschi, coordenador da UTI Covid do HG.
Segundo ele, esse novo acréscimo começou a ser sentido nas últimas duas semanas. Ainda é preciso considerar que como são pacientes mais jovens, tendem a ficar mais tempo internados. A média gira em torno de 14 dias, mas há casos de mais de um mês nesses leitos. Quarta, a Secretaria Municipal da Saúde de Caxias emitiu um alerta para a população baseado na ocupação e na fila de espera por UTIs, que voltou a se aproximar de 50 pessoas. A UPA Central também está superlotada.
— A situação dos hospitais está se refletindo nas UPAs. A lotação de pacientes críticos nas observações das UPAs repercute nos tempos de atendimento, atrasando as consultas. Por isso, reforçamos que quem tiver sintomas leves busque uma UBS e deixe as UPAs para os casos moderados e graves. Infelizmente, estamos nos aproximando da situação que enfrentamos em março — alerta Fabio Baldisserotto, diretor da Rede Municipal de Urgência e Emergência de Caxias.
Registros próximos do pico
O Sistema 3As do governo do Estado facilitou o acesso para todos os indicadores referentes à pandemia na Serra. O número de novos casos positivos por 100 mil habitantes está crescendo para patamares parecidos aos que foram registrados na primeira quinzena de maio e que resultaram na atual lotação de pacientes em instituições hospitalares. Até quarta, eram 318 novos casos por dia. Em maio, o pico foi de 334.
O número de pessoas em leitos clínicos regressou aos patamares altíssimos. Até quarta eram 470 internados, entre suspeitos e confirmados, um número que não se alcançava desde 1º de abril, quando a situação começava a dar sinais de recuo. Por fim, como numa reação em cadeia, todas essas estatísticas ajudam a compreender a lotação dos leitos de UTI, que nos últimos dois dias estiveram próximas dos 100%.