Não é apenas a pandemia da covid-19 que assola o país. Silenciosamente, os focos de Aedes aegypti têm se propagado pelo país, estados e municípios. Conforme o último boletim epidemiológico, emitido pela Secretaria Estadual da Saúde, dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, 421 estão infestados pelo mosquito Aedes aegypti, que transmite doenças como dengue, chikungunya e zika vírus.
Caxias do Sul é um dos municípios que tem registrado, inclusive, aumento da propagação. O último boletim divulgado pela Vigilância Ambiental da Secretaria Municipal da Saúde aponta que já foram localizados 176 focos do Aedes aegypti. Esse dado é preocupante, pois o número computado, apenas em 2021, já é maior do que a soma dos focos encontrados de 2015 até 2020, com registro de 154 focos no período.
A diretora técnica da Vigilância, Sandra Tonet, afirma que o trabalho feito pelo setor é o mesmo, com o mesmo quadro de funcionários e ações. Mas, se as ações de fiscalização não foram interrompidas durante a pandemia, por que os focos permanecem crescendo vertiginosamente?
Entenda os motivos que impedem que os focos de Aedes aegypti sejam eliminados:
1 - Comportamento da população
De acordo com Sandra Tonet, a vigilância tem se deparado frequentemente com casos reincidentes. A fiscalização é realizada, os focos são eliminados e os moradores são comunicados por meio de um termo de notificação. Após 15 dias, o fiscal retorna para verificar e acaba encontrando novos focos, pois o morador não eliminou o criadouro, como a água parada, por exemplo.
No caso de reincidência, é emitido um auto de infração que é encaminhado para julgamento, gerando um processo administrativo. O proprietário do local tem de sete a 15 dias para se manifestar, e ali é gerado relatório de fiscalização. Se não houver mudança de comportamento, o cidadão pode ser multado. A multa prevista, por foco, é de até 10 VRM, ou seja, até R$ 361,70 (cada VRM corresponde a R$ 36,17).
— A gente percebe que a população tem a informação e o conhecimento, mas não aderem ao autocuidado, em fazer a prevenção — desabafa Sandra.
2 - Resistência em receber os fiscais
Outro problema enfrentado pela Vigilância é a resistência da população em receber os agentes sanitários. De acordo com Sandra, muitos ficam indignados com a presença do órgão e, até mesmo. utilizam a pandemia como motivo para não receber a fiscalização.
— Os focos estão localizados, principalmente, em residências e em bairros com maior poder aquisitivo. Em bairros com menor poder aquisitivo, as pessoas recebem o termo e agradecem o aviso. Por outro lado, em bairros com maior renda as pessoas não querem receber a vigilância e permanecem no erro — explica a diretora.
3 - Pandemia
Os atendimentos e as rondas pela cidade, por parte da Vigilância, prosseguem mesmo com a continuidade da pandemia. Por outro lado, Sandra aponta que apesar de as pessoas estarem mais em casa, poucas delas têm demonstrado preocupação com a prevenção contra o Aedes aegypti.
— As pessoas ficam mais em casa e mudou a rotina, porque elas acabaram se preocupando com outros fatores. Além disso, pensam que não vai acontecer com elas, que o mosquito não vai pôr os ovos apenas em suas casas — explica Sandra.
4 - Descaso com lixo e entulhos
Até junho deste ano, a Vigilância já recolheu 436 pneus abandonados em vias públicas. O lixo abandonado incorretamente é alvo dos focos de Aedes aegypti. Somente na última ação, em 11 de junho, foram recolhidos 134 pneus entre os bairros Cidade Nova, Vila Amélia, Charqueadas, Esplanada e Jardim Oriental.
— Quando a pessoa tem a informações e não adere, isso é uma questão grave, é por conta desse comportamento que os índices estão crescendo. Por que não estão aderindo? Qual é a dificuldade de entender, de fechar seu lixo e não ter água parada? — indaga Sandra.
5 - Despreocupação com a doença
Sandra acredita que a falta de cuidados de parte da população está relacionada à crença de que não há tantas pessoas com dengue, chikungunya ou zika vírus. E também, afirma Sandra, as pessoas entendem que, por não se tratar de uma doença que causa muitas mortes, em comparação a covid-19, por exemplo, não se preocupam com a prevenção. Contudo, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES), em 2020 registrou-se o maior número de mortes por dengue dos últimos 10 anos no Rio Grande do Sul.
Além disso, já foram registrados 11.934 casos suspeitos de dengue. Destes, 7.715 foram confirmados, e 438 continuam aguardando investigação. O Estado contabilizou ainda 10 óbitos de dengue até junho deste ano.
— Essas doenças matam menos? Sim, mas vale lembrar que 11 anos atrás, nós não tínhamos mosquito e isso vem aumentando por causa do relaxamento comportamental. Outra coisa é o risco de ter as doenças causadas pelo vírus circulando pelo município — preocupa-se Sandra.
6 - Resistência e adaptação do vírus
Outro fator que preocupa a Vigilância é a capacidade de resistência e adaptação do vírus. Até o ano passado, a maior presença do vírus tinha sido verificada entre os meses de setembro a abril, ou seja, nas estações mais quentes, como a primavera e o verão. Contudo neste ano, Sandra revela que os focos seguem aumentando, apesar do inverno. Segundo a estatística municipal, entre janeiro e abril foram registrados 92 casos. No entanto, apenas em maio e junho, meses mais frios, foram contabilizados 84 novos casos.
— Nesse ano, não parou ainda, estamos no inverno e ainda está tendo foco. Isso é muito preocupante, pois o ovo do mosquito dura 450 dias. Nós que trabalhamos com isso, estamos muito preocupados — explica a diretora.
Em caso de suspeita
O telefone para denunciar locais com suspeita de focos do mosquito é o 156, do Alô Caxias.
Distribuição dos focos, por bairros, em Caxias do Sul:
- Um foco – Centro, Charqueadas, Cristo Redentor, Jardim do Shopping, Jardim Eldorado, Marechal Floriano, Mariani, Santa Fé, Santa Lucia, Universitário, Vila Seca, Vinhedos
- Dois focos – Centenário, Desvio Rizzo/ Jardim da Lagoa, Jardim América, Mariland, Pio X
- Três focos – Sagrada Família
- Quatro focos – Santa Lúcia Cohab
- Cinco focos – De Lazzer e Tijuca
- Seis focos – Charqueadas I e Petrópolis
- Sete focos – Bela Vista, Charqueadas II e Nossa Senhora de Lourdes
- Nove focos – São Cristóvão
- 10 focos – Reolon
- 11 focos – São Luiz da 6 ª Légua
- 13 focos – Colina Sorriso
- 20 focos – São José
- 41 focos – Cruzeiro
Fonte: Focos ativos de Aedes aegypti, registrados até junho de 2021, no boletim divulgado pela Vigilância Ambiental da Secretaria Municipal da Saúde de Caxias do Sul.