A velocidade de vacinação na Serra gaúcha mostra uma disparidade alta entre os municípios. Mesmo que a distribuição dos imunizantes seja relativa à população de cada cidade, as localidades menores estão mais adiantadas dentro do grupo de risco definido pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). Um exemplo é Nova Roma do Sul, onde praticamente todo o grupo prioritário já recebeu a primeira dose. Em Farroupilha, as vacinas já estão chegando aos profissionais da educação. Por outro lado, Caxias do Sul só deve avançar para o grupo abaixo dos 30 anos e com comorbidades na próxima semana.
Para entender esse quadro é preciso considerar que é a primeira vez que uma vacinação contra o coronavírus é realizada, acompanhada de todas as incertezas já vistas, como a falta de doses. Para controlar a disseminação, é necessário imunizar mais de 70% da população, sendo que os estudos ainda estão em andamento para entender por quanto tempo as doses garantem o controle sobre casos mais graves da infecção. Além disso, cidades do porte de Caxias do Sul, com mais de 517 mil habitantes, convivem com a lista de comorbidades que caracterizam o grupo de risco e não há como quantificar o número de pessoas que precisará ainda receber as duas doses antes de a vacinação ser aberta para o público geral.
— Existem projeções baseadas na vacinação da influenza, mas não temos exatamente o número de pessoas com comorbidades. Assim como existem algumas doenças que são de notificação compulsória, como o HIV, a diabetes e a hipertensão, não temos a notificação de forma que o município possa quantificar o número total — explica Juliana Argenta, diretora da Vigilância em Saúde do município.
Em números absolutos, Caxias já distribuiu a primeira dose para 124.587 moradores, entre idosos, gestantes, puérperas, profissionais da segurança e população com comorbidades. Completaram o esquema 54.937 caxienses. Até o final dessa semana, a expectativa é encerrar o público com 30 anos ou mais e, depois, avançar para as idades subsequentes.
Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), nenhuma cidade pode alterar o cronograma do PNI, como ocorreu com os profissionais da segurança pública. Assim, os professores em Caxias precisarão aguardar a cidade encerrar a vacinação do público até 18 anos. Existe a expectativa para que isso não demore. Afinal, a redução da idade também diminui a possibilidade de comorbidades.
— Pela experiência com a vacina da influenza, achávamos que a procura seria maior. Mas é a primeira vez que estamos avançando para esse público e talvez não tenhamos uma população tão grande com comorbidades — acredita Juliana.
Nova Roma do Sul quer avançar para o público geral
Uma das cidades mais avançadas é Nova Roma do Sul. Segundo o secretário da Saúde, Roberto Panazzolo, todo o grupo de risco recebeu ao menos a primeira dose:
— Ligamos para todos e atingimos quase na totalidade os grupos e os professores.
A realidade pode ser explicada em números. Antes de vacinar profissionais da educação, o município tinha 90 doses e o total de trabalhadores da educação era de 70 funcionários. Com isso, sobraram doses. Segundo o secretário, esse grupo é composto por pessoas que contraíram o coronavírus ao longo da campanha de vacinação.
Panazzolo diz que a busca pelos imunizantes ajudou, já que ela teve grande adesão dos moradores. A pasta distribuiu mais de 1,8 mil doses, pouco mais da metade da população de 3,5 mil habitantes.
A expectativa, agora, é começar a vacinação na população geral. No entanto, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) divulgou que será preciso completar antes o esquema vacinal de todos os prioritários, com cobertura de pelo menos 90% desses grupos.
Estudos sobre imunidade produzida pelas vacinas está em andamento
Em meio a disputas políticas e desinformação, cada vez mais divulgadores científicos são importantes para traduzir pesquisas e estudos que apontam confiança à população sobre a eficácia dos imunizantes. Uma pergunta que só o tempo responderá, de forma concreta, é o período de duração da imunidade criada pelo uso da vacina.
— Temos resultados para outros coronavírus que infectam humanos, com proteção entre 12 a 18 meses. Só que isso se refere à infecção natural. Se toda a população fosse vacinada hoje e, os casos voltassem em 2025, precisaríamos saber se é uma variante nova ou se a imunidade dura cinco anos — explica o farmacêutico e pesquisador Wasin Sayed, membro do Grupo Rede Análise Covid-19 e ligado ao Instituto Butantan.
Por enquanto, os estudos são promissores. Se sabe que a CoronaVac tem efetividade de quase 50% para evitar hospitalizações com uma dose e, reduz em 98% a chance de morte, quando completado o esquema vacinal. Os resultados da Pfizer são ainda melhores: 94% a 96%.
O Brasil também entrou nessa corrida e tem duas vacinas em fase adiantada de estudos: Versamune e ButanVac.
— Elas vão considerar as variantes que circulam no Brasil. Se a gente pegar um IFA (insumo básico para a produção) produzido na Índia, ele é feito a partir das variantes daquele país — ressalta Sayed.