A 23ª Coordenadoria Regional de Educação (23ª CRE) suspendeu as aulas presenciais na rede estadual em Vacaria a partir desta segunda-feira (17). A medida, segundo a coordenadora, Cristina Boeira Fabris, é de prevenção por causa do alto número de pessoas infectadas na cidade. São 935 moradores em isolamento, conforme o secretário de Saúde do município, Silvandro Fonseca. Desde o início da pandemia são 6,3 mil casos positivos de contaminação pelo coronavírus na cidade.
— Nos últimos 10 dias, notamos uma tendência de aumento aqui de novo. No ano passado, tivemos entre 45 e 50 óbitos. Neste ano, estamos com quase 90. Então, quase dobrou em cinco meses. Em abril, tivemos o mês mais crítico, com 33 óbitos. Ou seja, vêm em crescimento. Os casos em isolamento também. Tivemos um pico em março, aí, descemos para 300, depois, começou subir novamente e chegamos a esse que é maior número desde o início da pandemia, 935 — informou o secretário.
A explicação, conforme o gestor municipal, pode estar na circulação da cepa P.1 do vírus nos Campos de Cima da Serra. Algo que ocorre um tempo depois de outras regiões do Estado e mesmo de outras cidades da região Nordeste, como Caxias que vem registrando queda de casos e de internações.
Para tentar conter a disseminação do vírus, a prefeitura de Vacaria ainda não tinha liberado o retorno das aulas presenciais na rede municipal e, agora, terá a suspensão nas escolas estaduais. Além disso, devem ser intensificadas as ações de fiscalização a denúncias de aglomerações, festas clandestinas, consumo de bebidas em postos de combustíveis, permanência em praças e parques que segue proibida.
Nesta segunda, o Comitê de Operações Emergenciais (COE) municipal se reúne para decidir uma medida na área do atendimento. Há possibilidade de criação de um ambulatório exclusivo para casos de covid-19.
— Estamos pensando em uma alternativa, porque nossa UPA também está sobrecarregada. Um serviço que seria ideal para 150 pessoas por dia, está atendendo quase 300. Muitas pessoas com síndrome gripal — pondera Fonseca.
A situação do município foi informada neste domingo à Coordenadoria Regional de Saúde e à Secretaria Estadual de Saúde (SES), segundo o secretário.
No Hospital Nossa Senhora da Oliveira (HNSO), a situação é crítica, de acordo com a diretora, irmã Adelide Canci. A instituição solicitou ajuda do Estado para transferência de pacientes, para aliviar a pressão no sistema, e por mais medicamentos do kit entubação. Neste domingo, são 72 pessoas internadas, bem acima da média, já considerada alta para a instituição, de 50 pacientes.
— Estamos com superlotação. Não tem mais leitos. A urgência e emergência está cheia, o andar está cheio, a UTI tem oito pessoas, na semi-intensiva tem quatro. Está explodindo. E tem gente chegando. Há três meses estamos dizendo para a população: estamos no limite do medicamento, as equipes estão cansadas, falta pessoal para contratar, nos ajudem. E sabemos que vai aumentar mais o número de internados. Precisamos que nos ajudem a transferir alguns pacientes, também de medicamentos e profissionais — desabafou, apontando que cerca de 10% das pessoas que vão para isolamento acabam precisando de internação hospitalar.
Sobre os estabelecimentos de ensino, a coordenadora regional de Educação diz que as aulas seguirão de forma remota.
— Nós já estávamos monitorando o crescimento de casos na cidade desde a semana passada. Estamos no momento de termos bom senso e sermos extremamente conservadores, estancando as aulas presenciais. Vamos monitorar as bolhas nas escolas por, no mínimo 15 dias, e só depois disso vamos conversar sobre volta — declarou Cristina.
Segundo a gestora, seis escolas tiveram pelo menos um caso positivo e ao menos uma, a Escola Estadual Ensino Fundamental Ione Campos dos Santos, mais de dois casos, cujo contágio, conforme a coordenadora, não teriam ocorrido no ambiente escolar.
O promotor Luis Augusto Gonçalves Costa, do Ministério Público em Vacaria, disse que desde a semana passada alerta a prefeitura que a situação iria se agravar a ponto de colapsar:
— Esperávamos medidas na sexta e não vieram. Esperamos nesta segunda. Se não, a situação vai piorar ainda mais e pessoas vão morrer sem o devido atendimento.
Na região, apenas Vacaria teve as aulas presenciais suspensas na rede estadual e, por consequência, em Muitos Capões, porque os professores que lecionam na escola da cidade são de Vacaria. Então, para evitar um possível contágio na cidade menor, a suspensão foi implantada também lá. Outras cidades da 23ª CRE, como Bom Jesus, Monte Alegre dos Campos e Esmeralda ainda não retomaram as presenciais. São José dos Ausentes tem uma escola com aulas presenciais suspensas. Na área de abrangência da 4ª CRE, com sede em Caxias do Sul, duas escolas estaduais tiveram as aulas suspensas. Na área da 16ª CRE, sediada em Bento Gonçalves nenhum município adotou a medida.