Em 2020, a RGE atendeu a 1.981 colisões de veículos contra postes no Rio Grande do Sul. De acordo com o estudo da distribuidora, que atende a 381 municípios gaúchos, Caxias do Sul lidera o ranking de acidentes com postes, totalizando 122 ocorrências em 2020.
Houve uma redução de 69% frente a 2019. A diminuição está relacionada a uma menor circulação de veículos durante a pandemia. Ainda de acordo com a RGE, os acidentes contra postes normalmente resultam em ocorrências de interrupção no fornecimento de energia elétrica. Somente em 2020, cada ocorrência dessas demandou, em média, três horas de serviços da companhia no trabalho de substituição de poste, reconstrução de rede de distribuição e restabelecimento da energia.
Por trás desses dados, fica uma pergunta não respondida sobre o que ocasiona tantos acidentes dessa natureza. De acordo com Raquel Holz, doutora em Engenharia de Produção e Transportes pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, há diversos fatores que contribuem para isso.
— Há o fator humano (uso de álcool e drogas, falta de atenção, uso do celular), falha na infraestrutura viária, mas aí é preciso saber o local onde estão ocorrendo estes acidentes e entramos em outra questão: a obtenção e coleta de dados — destaca a pesquisadora.
Para Raquel, que atua com foco nas áreas de Segurança Viária, Mobilidade Urbana, Logística e Infraestrutura dos Transportes, a falta de dados, ou ainda, de dados confiáveis, é um problema recorrente quando o tema é acidentalidade. Ela destaca que muitas cidades do Brasil ainda não fazem a coleta dos dados e sequer mantêm um banco de dados de acidentalidade. Além disso, quando esses bancos de dados existem, muitas vezes não são atualizados ou completos, o que ocasiona em registros incorretos.
— Há uma complexa relação entre a via, o motorista e o veículo, que dificulta bastante dizer se existe ou não correlação entre a característica da via e a ocorrência dos acidentes. Mas, certamente, o componente viário é um dos fatores que afetam na ocorrência dos acidentes, principalmente quando não são bem planejados — explica Raquel.
Em 2020, dos 27 acidentes fatais em Caxias do Sul, duas mortes foram ocasionadas por colisões contra objetos fixo. Essa estatística também retoma a importância de campanhas, como o movimento Maio Amarelo, que busca chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. A intenção é colocar em pauta o tema segurança viária e mobilizar toda a sociedade. Raquel também concorda que a solução se move nesse sentido.
— Acredito que devemos atuar nos três fatores que compõem o tripé da segurança viária: o humano, o viário ambiental e o fator veicular. Porque ainda tem muito senso comum orientando a parte de planejamento e educação para o trânsito — destaca a pesquisadora.
Como muitas comunidades surgiram a partir de ocupações de áreas naturalmente impróprias para a mobilidade, é importante que seja criado um bom planejamento urbano, para melhorar a dinâmica e organização do fluxo do trânsito, além de evitar o surgimento de falhas viárias.
Somente em março de 2021, se deu início a criação do Plano de Mobilidade Urbana de Caxias do Sul, amparada na Lei Federal nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana. As etapas preveem pesquisas de campo, disseminação das informações à comunidade e participação social para extrair da população quais as necessidades em termos de mobilidade, considerando as características de cada região da cidade.