Parte dos funcionários das três casas de passagem que atendem a pessoas em situação de rua em Caxias do Sul e do serviço que faz a abordagem desse público nas vias e espaços públicos da cidade recebeu a vacina contra a covid-19. Eles se encaixam no grupo de profissionais da saúde e a prefeitura diz que estão sendo imunizados com doses que sobram nos frascos ao final de cada dia de vacinação.
Os funcionários das casas são pessoas contratadas pela Associação Mão Amiga, que administra os locais e presta serviço ao município. Eles não necessariamente têm formação na área da saúde ou assistência social, mas, conforme nota enviada pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), se encaixam no que preconiza o Ministério da Saúde quando estabeleceu em ofício, em março deste ano, que "trabalhadores que atuam nos estabelecimentos de serviços de interesse à saúde das instituições de longa permanência para idosos (ILPI), casas de apoio e cemitérios serão contemplados no grupo trabalhadores da saúde e a recomendação é que também sejam vacinados". Com isso, algumas dessas pessoas receberam a aplicação em Caxias. A quantidade não foi informada pela SMS até esta publicação.
Ainda, segundo o município, os serviços prestam assistência social e, inclusive, duas das casas têm quartos específicos onde permanecem abrigadas pessoas em situação de rua contaminadas com o coronavírus e que precisam manter o isolamento social durante o ciclo da doença.
A SMS ressaltou, em nota, que a aplicação das vacinas "se deu ao encerramento da vacinação do dia, quando precisam ser aplicadas doses remanescentes para que não haja desperdício do imunizante, já que cada frasco contém 10 aplicações e a durabilidade é curta." Disse ainda que essa vacinação é gradativa, porque só ocorre quando há sobra de doses no dia.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que este grupo ainda não entrou em discussão na Comissão Intergestores Bipartite (Cib), onde é pactuada a organização e o funcionamento das ações e serviços de saúde integrados em redes de atenção à saúde. E que "se o munícipio tem vacina sobrando, é por critério dele" essa distribuição.
FAS defende vacinação dos trabalhadores da assistência Social
A presidente da Fundação de Assistência Social (FAS), Katiane Silveira, defendeu a vacinação dos operadores da assistência social que não interromperam os serviços durante a pandemia e lamentou o fato de não estarem no cronograma de vacinação.
— Foi uma busca junto à Secretária de Saúde, principalmente, pelo público que trabalha prioritariamente com pessoas em situação de rua. Não temos vacinas agendadas, foi na sobra de doses que conseguimos vacinar alguns dos trabalhadores dessas casas — explicou Katiane.
A gestora referiu ainda que não há setores administrativos nesses serviços, que todos atuam diretamente com as pessoas assistidas. Por isso, não houve critério de quais dos funcionários entre os 75 seriam priorizados. Os vacinados foram aqueles que conseguiram deslocar até o ponto de vacinação nos dias em que sobraram doses, segundo Katiane e a SMS. Além desses, existem, entre os funcionários, pessoas que se enquadram na vacinação geral por faixa etária e profissão, por exemplo, e receberam as doses dentro do calendário normal da campanha.
O frei Jaime Betega, que coordena o Mão Amiga, que administra as três casas de passagem da cidade, disse que há tempos pede à prefeitura para que contemple esses funcionários com a vacina:
— Estou pedindo insistentemente (as vacinas). Trabalhamos com um público que é vulnerável e estamos colocando nossos funcionários diante do perigo. Hoje já tem causas ganhas trabalhistas em relação à pessoa que pega o vírus no local de trabalho e a empresa tem responsabilidade.
Os acolhidos com suspeita ou confirmação da doença dessas casas não estão saindo dos locais durante o dia e, aos demais, é pedido que não saiam, mas eles não são impedidos. Frei Jaime mencionou o exemplo do Restaurante Popular em que cinco funcionários estão afastados com suspeita da doença. O religioso diz que conseguiu uma doação de empresa da cidade de testes rápidos para aplicar nos demais trabalhadores.
Sem previsão de vacinação para trabalhadores de casas lares e abrigos
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) não respondeu especificamente se as casas de acolhimento para crianças e adolescentes entrarão nesse sistema gradativo de vacinação com as sobras de doses. Disse que se ocorrerem sobras e se encaixarem nos critérios do Ministério da Saúde e governo do Estado, serão contemplados.
— Apesar de eu querer muito, de estar batalhando muito por essas vacinas, não estamos no cronograma. Certamente, dentro das minhas prioridades, após as casas que trabalham com pessoas em situação de rua, estão as casas de acolhimento institucional, que são os abrigos e casas lares, dentro da prioridade de vacinação, mas não que tenha vacinas para eles — declarou a presidente da FAS, Katiane Silveira.
Segundo a FAS, os assistidos pelos serviços não foram contemplados por esse sistema de uso de doses remanescentes. Atualmente, são cerca de 140 pessoas em situação de rua acolhidas nas três casas de passagem.