O ano de 2020 terminou com uma redução de 20,8% no número de mortos em rodovias, ruas e avenidas da Serra, comparado a 2019. Ao todo, 186 pessoas perderam a vida em acidentes, contra 235 no ano anterior. O índice de queda é bem maior do que os 9,6% verificados em todo Estado. Os dados constam no relatório anual de acidentalidade do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Os casos se concentraram em 41 municípios dos 64 que integram a área de cobertura do Pioneiro e da Gaúcha Serra. Os números da Serra representam 12,7% de todas as 1.462 mortes registradas no trânsito gaúcho em 2020. No ano anterior, a parcela que cabia à região era de 14,5% do total de 1.616 mortes no Estado.
As reduções ocorreram nas vias estaduais e municipais. Nas rodovias administradas pelo Estado, de 117 vítimas em 2019, passou para 102 no ano passado. Em ruas e avenidas dos municípios da região, as mortes caíram para menos da metade: de 69 para 33.
Nos dois casos, o município com a queda mais significativa foi Caxias do Sul. A cidade como um todo teve 60 mortes no trânsito em 2019, contra 28 em 2020. Nas vias municipais, as vítimas passaram de 35 para 10 de um ano para outro, enquanto nas estaduais foram de 22 para 14.
Além de Caxias do Sul, Antônio Prado, Bom Princípio, Garibaldi, Cambará do Sul, Carlos Barbosa, Nova Prata, São Francisco de Paula e Veranópolis também tiveram reduções consistentes nos números gerais. Já Bento Gonçalves, Campestre da Serra, Farroupilha, Flores da Cunha e Vacaria tiveram mais mortes em 2020.
No que diz respeito às BRs 116, 285 e 470, as três rodovias federais que cortam a Serra, o número de vítimas passou de 49 para 51 de 2019 para 2020. Em Caxias do Sul, foram quatro mortes na BR-116 no ano passado, uma mais que no ano anterior. O número mostra certa estabilidade no que diz respeito à Serra como um todo. Porém, na área da 5ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os números aumentaram de 11 para 17. A unidade, com sede em Caxias do Sul, cobre a BR-116, da divisa com Santa Catarina até a região de Dois Irmãos, e a BR-285, nos Campos de Cima da Serra.
De acordo com o chefe da delegacia, Jonatas Josué Nery, contudo, os números de 2020 podem ser um retorno ao patamar histórico das rodovias da região e por isso precisam ser analisados com cuidado.
— 2019 foi um ano com menos acidentes do que anos anteriores. Talvez pode ter sido um ano fora da curva. Temos sempre esse cuidado porque um acidente com número maior de óbitos pode gerar discrepância — observa.
Pandemia teve pouca influência
A redução das mortes em acidentes coincidiu com um ano de pandemia, quando a recomendação era de que as pessoas evitassem sair de casa sem necessidade. Na avaliação de Jonatas Nery, contudo, a circulação de veículos nas rodovias estaduais reduziu somente em períodos de restrições mais rígidas. Dessa forma, ainda que a situação sanitária possa ter tido alguma influência, foi muito pouco.
— Não foi tão perceptível uma redução drástica no fluxo de veículos no ano como um todo. Infelizmente talvez os motoristas tenham entendido como um momento de menor fluidez e talvez isso tenha sido uma das questões, na 5ª Delegacia, para aumento no número de óbitos — pondera.
Os Campos de Cima da Serra, por exemplo, concentram cerca de 60% do total de mortes registradas na área de atuação da unidade. Nessa região os principais problemas são o excesso de velocidade, ultrapassagens proibidas e cargas mal fixadas, que acarretam em tombamentos. Ao longo do ano, os policiais também notaram um aumento nas rodovias federais dos chamados "domingueiros", motoristas com pouca habilidade por dirigirem aos fins de semana ou, no caso da pandemia, por saírem menos de casa. Apesar disso, essa parcela de motoristas é pouco responsável por acidentes graves.
A diminuição da velocidade pode não evitar acidentes, mas vai diminuir a gravidade
MAJOR RAFAEL TIARAJU DE OLIVEIRA
Comandante do 3º Batalhão Rodoviário da Brigada Militar
Já o major Rafael Tiaraju de Oliveira, comandante do 3º Batalhão Rodoviário da Brigada Militar (3º BRBM), que responde pelas rodovias estaduais na Serra, credita a redução nas mortes à maior consciência dos motoristas e ao trabalho de fiscalização realizado pela corporação. Assim como nas rodovias federais, não foi observada redução de fluxo que possa ter contribuído de forma significativa para os números.
— Um pouco vamos ver que repercute, mas não necessariamente tudo passa pela pandemia. Existe uma tendência de redução desses dados. Estamos da década de redução das mortes no trânsito e tem já uma redução consistente. É um pouco da consciência do motorista e o desenvolvimento dos veículos também contribui, com inclusão do airbag em modelos populares, por exemplo. A diminuição da velocidade pode não evitar acidentes, mas vai diminuir a gravidade — observa.
A maior concentração de mortes nas estradas estaduais da região ocorre no eixo da RS-122 que vai de Bom Princípio a Ipê, passando por Farroupilha e Caxias.
Municípios com maior redução de mortes
Bom Princípio
- 2019: 9
- 2020: 3
Cambará do Sul
- 2019: 6
- 2020: 1
Carlos Barbosa
- 2019: 7
- 2020: 4
Caxias do Sul
- 2019: 60
- 2020: 28
Garibaldi
- 2019: 8
- 2020: 3
Nova Prata
- 2019: 8
- 2020: 2
São Francisco de Paula
- 2019: 14
- 2020: 10
Veranópolis
- 2019: 6
- 2020: 3
Municípios com maior aumento de mortes
Bento Gonçalves
- 2019: 10
- 2020: 13
Campestre da Serra
- 2019: 1
- 2020: 9
Flores da Cunha
- 2019: 6
- 2020: 8
Picada Café
- 2019: 1
- 2020: 5
Vacaria
- 2019: 14
- 2020: 17